Capítulo 6

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Ives Nuno

O que falar depois de ouvir isso? Eu não poderia falar nada... O que você acha que eu deveria fazer? Correr? Gritar? Entrar em pânico? Desmaiar? Nada iria me ajudar a sair disso. Enquanto ele falava essa frase o tempo ficou mais lento e minha cabeça passou a funcionar mais rápido.

Eu olhava em volta e via as pessoas entrando nas salas, o campus estava ficando vazio, ele poderia me levar e ninguém ficaria sabendo. E por mais que eu gritasse, não daria tempo. E com tudo isso eu só conseguia me perguntar várias vezes. “como ele me descobriu? O que eu fiz de errado?” e ao terminar a frase dele só me veio uma pergunta: “Será que a Nelle também está exposta?”

-Eu sou humana... Olha para mim.... - Falo nervosa.

-Então posso olhar seus braços, barriga e costas? - Ele fala no mesmo tom.

-Que pergunta é essa? Sou uma mulher.... Isso é falta de respeito. – Falo nervosa.

- O que? Não me entenda mal. Quero te proteger... – Ele fala e olha em volta. – Mas aqui não. Eles estão observando tudo.

- Quem está observando? – Pergunto, mas sem resposta.

Ele segura a minha mão e vai andando comigo pelo Campus. Eu tenho que te dizer que eu estou medo. Mas não posso fazer muita coisa. Então você pode estar se perguntando. Porque você o seguiu? Não estava com medo? Porque não evitou?
Passamos pelos corredores, portas das salas, pessoas que estavam matando aula. E por fim entramos em uma sala escura. Eu fiquei pensativa, mas não estava com medo dele, mas sim do lugar, não sei te explicar.

Criei coragem e entrei. Ele fechou a porta atrás de mim, segurou a minha mão e caminhamos até o final da sala. Ele acendeu uma luz fraca e apontou para eu sentar na cadeira. Eu fiz e ele se sentou na minha frente.

- Bem... Espero que confie em mim. Mas não vou te contar coisas boas. Mas antes de falar qualquer coisa... Quero deixar bem claro que não faço parte disso.... Não concordo com nada disso. – Ele me olha. – Confia em mim?

- Não deveria. Mas vou confiar. Não quero me atender. – Falo com medo.

- Então... Suas plantas Lobnias... Elas curam praticamente todas as nossas doenças. Isso é uma grande evolução para a medicina. Mas uma grande empresa comprou todos os direitos da pesquisa. E você já imagina. – Ele me olha.

- Vão vender os medicamentos caros. – Suspiro.

- Sim. Estão pensando só no lucro. Mas o pior é como estão conseguindo a medicação. Estão desmatando uma grande área no vilarejo. – Eu o interrompo

- Sim... Nós cuidamos... conseguimos recuperar uma parte. – Falo lembrando.

- Sim. Mas eles vão voltar lá. Mas além disso... – Ele segura a minha mão. – Estão sequestrando Ardons para as experiências. Só vocês podem cuidar das plantas. E estão testando vocês para saber como o organismo reage... Como pode tornar o nosso organismo igual o de vocês. – Olho para ele assustada.

- Experiências??? Estamos morrendo? – Falo assustada e solto a mão dele.

- Sim... Infelizmente... Mas não sou a favor disso ... E estão desenvolvendo algo para conseguir pegar vocês. Isso eu ainda não consegui descobrir. É um tipo de aparelho. Não sei o que é.. – Ele fica pensativo.

- Eu quero ir embora. Agora. – Falo e levanto.

- Sim... Desculpe... Vou te levar até a sua sala. – Ele fala e segura meu braço de ele.

- Não... Eu posso ir sozinha. Só me deixe em paz. – Falo

Vou andando até a porta, bato a perna em uma cadeira. Mas consigo chegar até a porta. Seguro a maçaneta e abro a porta rápido. Vou andando até a minha sala e assim que chego vejo Nele  pé na bancada uma canto da sala quase chorando.

Vou andando até ela. Nelle me abre um sorriso largo de alívio. Fico em pé ao lado dela. Olho para a professora. Ela estava explicando alguma coisa sobre a receita do dia. Ah... Me desculpe. Eu esqueci de te contar. Agora nossas salas não têm mais mesas e cadeiras, são bancadas. Não precisamos trazer tanto material de casa, a faculdade tem o básico. E nossas aulas não são mais teóricas, são práticas. Nelle me olhando tentando sorrir.

- Ele te machucou? – Ela fala baixo.

- Não... Não... Ele disse que queria me proteger.... Disse muitas coisas..... – Falo em choque ainda.

- Quase liguei para o Ivo. Eu não sabia o que fazer. – Ela fala preocupada.

- Não... Não conte nada disso para ele... Ainda.... Sabe como o Ivo é. Ele vai surtar. Vai fazer um escândalo... E acho que Murilo só quer ajudar. – Falo pensando em tudo o que ele falou.

Nelle confirma com a cabeça mesmo com medo do que poderia acontecer. Assim que a aula acabou, saímos rápido e caminhamos para o pátio esperando o irmão dela chegar. Hoje era o dia dele nos levar para casa.
Durante a volta para casa fiquei em silêncio. Eu estava digerindo ainda tudo o que tinha escutado. Vocês acreditariam de primeira? Porque eu não sei em que acreditar. Dividimos a vida com vocês, nunca machucamos nenhum humano... como podem fazer isso?

Assim que chegamos no vilarejo pedi que Nelle fosse a minha casa. O irmão dela nos deixou na porta de minha casa. Aproveitei que meus pais não estavam em casa para ir direto para o meu quarto. Respirei fundo e contei a ela tudo o que Murilo tinha me contado, cada detalhe, sobre a colônia, as mortes... Tudo. Ela me olhava mais assustada do que já estava.

- O que você acha disso? Acha que pode ser verdade? – Pergunto

- Pode sim. Tenho certeza que seja. – Ele fala sem me olhar.

- Estou falando sério. Não é porque você está com medo... Estou tentando dizer que não temos provas. Estou acreditando em um desconhecido. Nem sei se ele falou o nome verdadeiro dele. Pode ser uma brincadeira de mau gosto. Não acho que os humanos nos machucaram. Vivemos em paz Nelle... Você sabe... – Luto contra os fatos.

- Eu tenho certeza que é. – Ela fala olhando para o chão.

- Tem provas? Só acredito vendo provas. – Falo com raiva.

- Tenho.... Eles pegaram minha prima. – Ele fala chorando.

- O que? Como assim? – Pergunto assustada.

Ardon - A civilizaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora