A luz acabou

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Toc toc toc.

A luz tinha acabado. Havia um temporal do lado de fora da minha casa... E as lanternas não tinham pilha. O estrondo da chuva contra o telhado fazia um som aterrorizante. Parecia mil monstros gritando.

Toc toc toc.

Alguém insistia em bater na minha porta, e o barulho da madeira ecoava pelo corredor do andar de cima. Eu peguei, então, uma vela do armário da sala, e a acendi. A chama suave iluminou o cômodo. Então, com cuidado para não cair, eu abri a porta da entrada principal e...

-Aaaaahhhhh! Seth, para! Isso faz cócegas! Hahahaha!

Seth entrou pingando e, no meio da sala, se sacudiu. Sua camiseta verde lhe pesava por causa da água, e sua calça jeans estava suja de lama. Seus cabelos ficaram bagunçados como sempre, e suas orelhas de guepardo no alto da cabeça ficaram tremendo por causa do frio. Esse é meu namorado.

Seth, assim como seus meio irmãos e pais, é um meio felino. No ano passado, eu os apresentei para a sociedade e, com muito custo, as pessoas os aceitaram como iguais. O preço foi a vida de Tuna, um meio tigre e irmão de Seth. Eu chorei tanto por causa de sua morte, e pensar nele ainda me doía.

Eu peguei uma toalha para ele se secar, e nós dois sentamos no chão de madeira da sala de estar, para que ele se secasse um pouco mais. Meus pais estavam viajando, de novo por causa do trabalho, então, naquelas férias, eu fiquei sob os cuidados de Key, o meio pai de Seth e, consequentemente, do meio felino que estava ao meu lado.

-Como andam as coisas? Está tudo bem por aqui, Mik?- ele perguntou, me envolvendo na toalha úmida.

-Agora, sim, está tudo bem.

Então, eu o beijei, bagunçando seu cabelo ainda mais com meus dedos. Ele pegou minha cintura, e me puxou para perto. Eu me lembrei do nosso primeiro beijo. Os lábios dele tem uma substância que drena a energia de qualquer ser vivo e, quando encostaram nos meus, eu desmaiei. Mas, nas outras vezes, isso não aconteceu mais.

A chuva pareceu ficar ainda pior do lado de fora, deixando a noite barulhenta.

-Como pretende voltar para casa essa noite?

-Está me mandando embora?- perguntou, e sorriu, mostrando seus caninos pontudos. Eu ainda achava aquele jeito dele sorrir muito sexy.

-Pode ficar aqui comigo, então. Mas você vai dormir no sofá!

Se eu te contasse quantas vezes ele já dormiu no meu quarto, você não iria acreditar.

Ele, então, deitou no sofá da sala. Ainda bem que ele tinha esquecido do meu próprio sofá, no meu quarto! Quando eu peguei a minha vela para subir as escadas, ele me acompanhou com os olhos verdes, iguais a árvores na primavera. Então, adormeceu. Lá em cima, eu vesti meu pijama, que era uma camiseta de manga comprida e uma calça larga, por causa do frio, e me deitei.

Coisa de gato: Lobos à solta!Onde histórias criam vida. Descubra agora