SETE ANOS ATRÁS
Hoje faz um ano que perdi minha mãe e o movimento de minhas pernas, foi difícil me acostumar com a situação, mas aos poucos fui aceitando. Meu pai entrava no meu quarto de meia em meia hora, perguntando se eu estava bem ou se precisava de alguma coisa, admiro muito ele, depois de tudo o que aconteceu ele me parece tão bem e forte, mais sei que no fundo ele não está, assim como eu.
Me esforçava para mostrar o meu melhor sorriso, fingia estar bem para não preocupa-lo, fiz isso durante alguns meses, até que finalmente aquela angústia foi passando, a saudade nunca ira passar, sei disso, só que agora já estava me sentindo um pouco melhor, me acostumei com a falta de movimentos nas pernas, tudo estava indo bem novamente, por assim dizer, só que tudo que é bom, um dia acaba.
Estava recebendo atividades da escola em casa, respondia as questões com a ajuda do meu progenitor, só que uma hora eu teria que voltar e quando essa hora chegou, eu me senti extremamente desconfortável, os olhares que dirigiam a mim, os cochichos que davam toda vez que eu passava, isso era agoniante e irritante. Tentei me esforçar ao máximo para ignorar, só que não era tão fácil assim.
Em todo lugar tem aquele aluno babaca que se acha o fodão e acha que zoar as pessoas é algo legal, infelizmente não tem para onde fugir.
Sou jogado no chão pelo garoto alto do 9° ano, dois anos a mais do que eu. Tento me arrastar pelo chão, mas é inútil, seus dois amigos ficavam apenas rindo de minha cara, observando eu ser humilhado pelo mais velho.
- O que eu te falei sobre ficar longe da Hani? Ela não te quer, ninguém vai querer um aleijado igual você - Disfere um soco em minha face
- E-Eu não tenho n-nada com ela, j-juro - Soluço mais do que falo
- Então, o que você estava fazendo com ela ontem ?
- Ela s-só estava me a-ajudando na atividade
- Não quero você perto dela novamente, entendeu ? - Balanço a cabeça assentindo - Fala - Me chacoalha
- E-Entendi
- Ótimo - Ele me solta e vai embora com seus colegas me deixando jogado no chão .
Era na parte de trás da escola, não sabia o que fazer, gritei mais ninguém apareceu então apenas me deixei cair no choro, era a única coisa que podia fazer.
Fui achado pelo faxineiro da escola quando as aulas acabaram, meu pai foi chamado na escola, contei tudo o que aconteceu, mas me recusei a contar quem havia feito aquilo, estava com medo daquilo se repetir, Hong me garantiu que não aconteceria nada, mas eu não contei.
Não queria voltar para escola, por isso fingi várias vezes não estar me sentindo bem apenas para não ir. Meu pai se sentia mal por mim, então ele fingia que acreditava e me deixava em casa.
Acabei reprovando aquele ano, mudei de escola, só que dessa vez para uma escola "especial" com pessoas igual a mim. Estava me dando bem, fiz algumas amizades, só que no meio daquele ano, meu pai resolveu se mudar para Seul, por saber que lá teria recursos melhores.
Meu pai não sabia que a escola "especial' era paga, ele não tinha dinheiro para pagar então quis me colocar em uma escola "normal" por assim dizer. Só que eu não quis, tinha medo de ter que passar por tudo aquilo novamente, por isso reprovei aquele ano novamente.
Hong arranjou um trabalho melhor e com o seu salário, ele conseguiu pagar a mensalidade da escola e eu finalmente voltei a estudar, não fiz amizades, tinha medo de me jugarem novamente ou eu ter que mudar de escola e perder meus amigos, igual perdi os de Gwangju.

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The wheelchair boy
Ficção AdolescenteNão tenho esperança alguma, aliás, quem amaria um garoto de cadeira de rodas? Gostar de alguém, estando nas minhas condições não é certo, sei que não serei correspondido, qualquer pessoa é melhor do que eu. Era isso que eu pensava, até conhecer vo...