♦ Black Swan ♦

2 - Namjoon

   Olhando pelo lado de fora, a Academia Cisne Branco parecia mais um destes prédios internatos para rapazes construído com base em costumes clássicos, quase vitorianos. Namjoon admitia que, por dentro e por fora, o lugar era bonito de um modo assustador, ele nunca soube o por quê de tantos quadros com diretores mortos espalhados pelos corredores, ou a função dos lustres com milhões de pedrinhas preciosas mais caras que seu seguro de vida. Na verdade, as coisas que faziam sentido na Cisne Branco eram mais escassas do que as coisas que não faziam sentido algum, estas eram muitas, e Namjoon se conformava com o fato de que nunca encontraria respostas para todas as suas perguntas.

   Apesar disso, ele não deixava de questionar. Neste ano, quando saiu do ônibus que buscava os veteranos no ponto de encontro do aeroporto de Jeju e se deparou com a nova estátua do diretor Moon o encarando no pátio de entrada da academia, tudo o que pensou em fazer no momento foi jogar os braços para o ar e se perguntar "por quê? Em nome de tudo o que é mais sagrado?" . Mas existe um motivo, e não é só porque Namjoon tem um histórico conturbado com o brilhantíssimo diretor, mas também porque, como tantas outras questões, não entende a proporção do ego do homem. Ele poderia tentar compreender se a estátua fosse apenas um tipo de homenagem a um bom diretor, mas Moon não era bom, tampouco estava morto para receber uma homenagem assim.

   Como ficou bem claro, Namjoon não teria respostas tão cedo, e em seu último ano na Academia preferia não encontrá-las de qualquer jeito.

   Até porque não seria tão ruim ter um novo patrimônio escolar para vandalizar quando a noite caísse e ele ficasse entediado, talvez a estátua ficasse mais agradável de se ver com o rosto de pedra pintado de tinta spray e um chapéu de cowboy na cabeça, Namjoon tinha quase certeza de que aquele garoto contrabandista conseguiria arranjar os itens necessários para sua brincadeira noturna, ele só precisaria encontrá-lo o quanto antes e lembra de seu nome.

   Enquanto todos os estudantes se dirigem para o auditório no maior prédio do complexo escolar, o principal onde a estranha estátua os recebe com um sorrisinho de pedra quase maligno, Namjoon decididamente segue o fluxo contrário, se esgueirando quase como um ladrão pelos corredores secundários até se encontrar completamente sozinho na sala de lazer, onde havia combinado de estar assim que chegasse a Academia. Pela primeira vez em anos exercendo seu papel como um detento mirim na Cisne Branco, ele se sente feliz por estar sozinho em uma área enorme rodeada de paredes com quadros pendurados, quadros estes bastante inquisidores com seus olhos pintados e envernizados, observando cada movimento de Namjoon. Ficou ainda mais contente ao pegar o marcador permanente no bolso da calça do uniforme, colocara ela ali justamente para caso houvesse essa oportunidade.

   E agora ele tem...

   Destampando a caneta, a primeira coisa que faz é sentir o cheiro do álcool que sai da tinta na ponta escura, e é tão forte que suas narinas ardem. Namjoon gosta de um bom ponto de vista, então se coloca justamente no centro da área de lazer onde tem a visão panorâmica de todos aqueles quadros de diretores antigos, ele conta sete em cada parede num total de vinte e oito quadros, espaçados entre janelas e colunas.

   Minha mãe mandou eu escolher...

   É claro que existem câmeras, seria estranho se não houvesse um olho eletrônico em cada canto desta academia, mas Namjoon realmente não se importa. Os funcionários só olhariam para as gravações quando encontrassem o vandalismo da próxima vez que alguém fosse a sala de lazer, muito provavelmente depois da palestra de boas vindas no auditório, e quando isso acontecesse eles poderiam ir atrás de Namjoon e lhe saudar com uma bela advertência e intimação para comparecer a detenção por duas ou três semanas, mas até lá ele já tera pichado com spray aquela estátua imponente e horrorosa do pátio.