Ferro e Fogo

A corrida nas montanhas

5 horas da manhã. 

"Acorda bela adormecida, tá na hora do treino", Cassian disse, abrindo as janelas e desviando do meu projétil de travesseiro. Desci já vestida com as calças de couro folgadas, com o corpo dormente e a mente como um vulcão imaginando formas de esganá-lo e fazer ele implorar por me acordar antes do nascer do sol.

"Não tem nada menor que faça eu parecer menos mendiga?" disse parada na base da escada e logo pegando uma xícara de chá, ignorando os bolinhos e pães que cheiravam muitíssimo bem.

"Foi o menor que eu achei. Infelizmente a unica saída pra você é engordar", respondeu Cassian franzindo a testa e colocando os bolinhos no meu prato."coma, eu que fiz"

"Sabe que não vou comer isso. Provavelmente vai me matar envenenada" disse com desdém.

Mas ele gargalhou de uma forma tão gostosa que me fez odiá-lo ainda mais."Se te envenenar é fazer você ficar gostosa de novo então sim, Nes querida." Sufoquei o olhar arregalado em meio tempo mas ele percebeu. Droga. "Uau, minha bruxinha ficou sem palavras é?"

"Estou comendo, idiota" subitamente enfiando 3 bolinhos na boca, e virando o chá pra evitar morrer engasgada. Saímos as 6 em ponto, o acampamento começava a ganhar vida e os pássaros já berravam sua sinfonia maldita. Saí na frente, já em direção ao ringue, mas Cassian me interceptou no meio do caminho.

"Acha que vamos treinar no ringue? estamos indo para a floresta". A contragosto eu o segui, por mais de meia hora até chegar numa clareira e uma pequena cabana, com um rio e enormes pinheiros ao redor. Talvez eu pudesse me permitir relaxar e ler um livro embaixo dessas arvores. Algum dia entre hoje e a eternidade.

4 horas depois já preferia estar morta. De alguma forma, conseguimos trocar o equivalente a um ano de insultos e decidi que ser perfurada pelas adagas e espadas é menos doloroso do que aprender a manusear uma."Está saindo de horrível e sem talento pra horrível, meus parabéns! vamos almoçar." e saiu andando em direção ao acampamento.

Eu mal conseguia andar. A fraqueza da falta de comida e do vício que eu mantive por alguns meses matou a força que tinha. Mas saí mancando com a cabeça altiva, mesmo que meus braços estivessem tremendo. De volta a casa, Cassian me entregou um prato com ensopado, e me controlei ao máximo para não demonstrar que meu estomago dava cólicas violentas de fome."Pode repetir se quiser ok? vamos correr na montanha a tarde, não quero você desmaiando".

Pensei que fazer algum exercício físico além me faria desmaiar, mas eu nao iria dar esse gostinho a ele. A corrida pendeu mais pra uma caminhada do que pra uma maratona, como pensei que seria vendo os guerreiros, quase se socando pra ver quem chegava primeiro. Ele percebeu o quanto estava sem força, já que mal conseguia levantar a colher sem tremer. Que raiva, não quero a pena dele.

"Que montanhas são aquelas?

"São perigosas e não deve se aproximar, nem mesmo os illyrianos tem coragem de enfrentar os monstros que se escondem nas cavernas dessa montanha, são de outro mundo, como o entalhador e a sua mestra Amren."

"Interessante"

"É sério Nestha, sei que gosta de se destruir mas prefira uma morte menos dolorosa do que nas mãos de algum deles. Eles vão te perseguir até a pr[oxima vida."

"Obrigada pelo conselho, mamãe" respondi com secura.

"Já que tem força pra ser engraçadinha vamos aumentar o ritmo." e disparou estrada acima. Xinguei todos os nomes que conhecia enquanto vi ele se afastando e me ignorando teatralmente. Já não acompanhava o ritmo antes, mas me forcei a ir além, minhas pernas gritando em protesto, minha garganta seca meu coração descompassado. Nem meio quilometro depois minhas vistas ficaram turvas e ele cada vez mais longe... 

desmaiei e caí num baque surdo, mas satisfeita pois dei o meu máximo.