Marlboro

Por que eu ainda estou aqui?

Olho para ele e digo desesperadamente "me ajude!" ao que em seguida vem ao meu encontro, abrindo os braços, oferecendo-me o conforto de seu abraço. Com lágrimas nos olhos, caminho até ele e..
- TRIMMMMM!!!
Abro um pouco os olhos e os esfrego. Claro, só mais um sonho. Dou um tapa no despertador, que em seguida para de tocar, e eu bocejo.
- Levanta, criança! - disse, enfiando o rosto com olheiras arroxeadas e sua famosa expressão detestável na porta entreaberta, Lorraine, a madrasta infeliz, ou mais popularmente conhecida como Traste.
Eu morava na California com o meu pai e o Traste desde que tinha 9 anos.. quase 10. Minha mãe resolveu se mudar para a Austrália quando eu tinha 6 anos, pois achava que não tinha mais condições de me sustentar, muito menos ao lado do meu pai, Samuel, que é um ignorante.
Quando completei 8 anos, meu pai conheceu Lorraine, o Traste, e eles passaram a morar juntos um ano depois. Claro que ela me odeia. Tenho nojo daquela decrépita, e sinceramente, ela me da náuseas.
- Já não disse pra levantar ?! - disse o Traste, enfiando novamente a cara feia na fresta da porta
- Já - bufei em desaprovação
- Então me obedeça, fedelha preguiçosa! Não ache que só por que tem 16 anos pode fazer o que bem entende!
- Tá, tá - balancei a mão no ar, dispensando Lorraine, e senti vontade de fechar a porta e prender ali aquele nariz empinado que ela tinha
Eu a ouvi resmungar alguma coisa pelo corredor, mas ignorei. Levantei desajeitadamente e me despi do meu pijama. Coloquei o uniforme do colégio e fui até a cozinha, me deparando com a típica cena: meu pai, usando o seu roupão, e lendo umas notícias bobas do jornal, e o Traste, com seu cabelo oxigenado, sentada na bancada fumando um cigarro Marlboro.
Sentei ao lado do meu pai, que mal levantou os olhos das páginas
- Vá arrumar sua cama e colocar a comida de Dustin
Dustin era o nosso gato. Gordo e velho. Mas era uma companhia melhor do que a de qualquer um naquela casa.
- Quer que eu me atrase outra vez naquela merda que você chama de colégio?
- Olha como fala! - meu pai enfim levantou os olhos do jornal e me deu um tapa na mão
- Tanto faz - revirei os olhos e fui até a lavanderia colocar a comida do gato