Eu sei que é clichê, mas, não pude me controlar. Fiquei em claro a noite passada ouvindo a sua respiração enquanto você dormia ao meu lado. Meu olhos seguiram cada linha do seu rosto, gravando cada uma das suas expressões enquanto sonhava, inclusive o tremular dos seus cílios e o franzir dos seus lábios. Meus dedos acariciaram o vinco entre seus olhos quando algo o incomodou e uma careta se formou. Meu corpo se aqueceu quando suas mãos o procuraram em meio aos lençóis e meus lábios se esticaram no maior sorriso do mundo quando você murmurou o meu nome em meu pescoço depois de me puxar para o seu peito.
Pensei em sussurrar para você ali mesmo. Mas, eu ainda estava em guerra comigo mesma. Parte de mim dizia que isso, estar ali com você, era simplesmente a coisa mais certa do universo, era simplesmente natural. Enquanto a parte medrosa, que já se machucou mais vezes do que gosta de se lembrar, dizia que era cedo demais, intenso demais. Então, eu fiquei acordada tentando entender porque as borboletas do meu estômago ainda estavam em crise, desde que você me beijara na porta de casa. Naquela hora em que eu não pude me controlar e me joguei em você, ignorando totalmente meus próprios planos de entrar sozinha e te deixar voltar para o táxi.
Mas é que a sensação de encaixe foi tão perfeita e o sentimento foi tão sublime que eu não pude fazer nada além de me entregar e deixar você me mostrar de quantas formas diferentes eu poderia ter prazer só em te beijar... E mesmo quando o taxista buzinou e você me largou, abrindo a porta que nossos corpos haviam fechado, eu ainda não tinha voltado à Terra, mesmo estando com os dois pés no chão. E isso foi bom, porque se eu tivesse voltado, teria pensado e provavelmente minha parte medrosa teria ganhado terreno e me feito achar que deixar você pagar a corrida e voltar para dentro seria um erro.
Eu ainda estava nas nuvens quando você voltou, parada no mesmo lugar, provavelmente com a expressão mais perdida que você já viu... Eu não sei como você não percebeu ali mesmo. É que enquanto você estava lá fora, meus lábios formigavam e meus dedos tentavam acalmá-los. Meu coração batia tão alto que eu tenho certeza de que o taxista ouviu. Ainda assim, você voltou correndo, bateu a porta, tirou a jaqueta ali mesmo e me atacou - não há outra palavra -, enfiando uma das suas mãos grandes no meu cabelo e me puxando pela bunda com a outra pro seu colo. Meu Deus, sentir seus lábios de novo foi como se um raio passasse pelo meu corpo, eletrizando cada célula. E as borboletas... Ah, as borboletas... Eram como um furacão dentro de mim e eu tinha medo de que uma delas escapasse com a minha respiração ofegante enquanto você beijava o meu corpo e me fazia sua na escada.
Enquanto você dormia, eu observava suas mãos, os dedos, as unhas, os calos ásperos que deixavam claro quem você é e o que faz. Fechava os olhos e podia senti-las novamente sobre mim. Era assustador o quanto só pensar me afetava. Meus olhos passeavam pelo seu corpo até que eu não aguentei mais e precisei sentir seu cheiro mais de perto, afundando o nariz no seu peito e esfregando meu rosto nos pelos. Eu te abracei tentando conseguir que minha pele o absorvesse e minha mente o gravasse. Tão de perto assim, com as suas pernas entrelaçadas nas minhas e tentando esquentar seus pés frios com os meus, eu observei a cor quente da sua pele, o bronzeado saudável das suas tardes curtindo as praias do Rio de Janeiro. Eu quase sussurrei novamente. Só que não era mais medo que me impedia. Era coragem. O que eu sentia ali, naquela cama, era tão bonito quanto inesperado e não merecia ser sussurrado no meio da noite, quando você nem ao menos ouvia de forma consciente, como se fosse algo errado que precisasse ser escondido.
Não, o que eu sentia era bom demais para não ser celebrado, para não ser gritado... Então, eu fiquei ali, um pouco mais distante, mas, no mesmo travesseiro, com as pernas ainda misturadas nas suas, velando pelo seu sono, admirando quando a luz do sol começou a entrar pela janela e banhar o seu corpo mal coberto pelo lençol. Morrendo de ciúmes dos pequenos sorrisos que você dava em alguns momentos. Eu vivia um dilema, ora querendo que você continuasse a dormir, para que eu pudesse te observar mais um pouco, ora implorando para que acordasse e eu não tivesse mais que me controlar para não sussurrar, mesmo que eu não tivesse a menor ideia de como encarar seus olhos verdes e dizer: eu amo você.