ꜰɪʀꜱᴛ

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Tem momentos na minha vida em que a única coisa que desejo é sair de casa, sem que ninguém saiba do meu paradeiro, talvez fugir...? Claro que não, não seja louco, você deixaria uma carta é claro, não seria tão ingrato a ponto de não deixa-los cientes de que estou bem, certo? Mas essa idéia logo se vai das minhas esperanças ao me dar conta de que não tenho um destino exato onde ir.

Talvez em minha próxima vida eu queira ser uma ave, daquelas que você aprecia seu voo e o modo em que ela balança suas asas, uma aguia talvez? Voam lindamente e observam tudo a sua volta. Totalmente o contrario de quem sou hoje, porque tenho a plena consciência de que se eu tivesse as caracteristicas citadas anteriormente eu teria percebido o pedaço retangular de concreto situado agora em baixo de meu corpo, mais conhecido pelas pessoas como calçada e por mim por ser o motivo do tombo que eu acabei de levar neste momento.

- Porra - digo em um sussurro em que apenas eu sou capaz de ouvir.

-Taehyung, tenha modos e levante desse chão - meu progenitor se dirijiu a mim pelo o que parecia ser a primeira vez desde que saimos da nossa casa.

- Estamos prestes a entrar em uma reunião importante para o futuro de nossas carreiras, então não ouse me fazer passar vergonha na frente de alguém hoje - Concluiu Sonmi, após sua fala meu pai lançou para a mesma um olhar que não tive como identificar no momento. E isso foi o bastante para que qualquer resquício de felicidade presente em meu corpo se esvaísse, ao mesmo tempo em que ajustava a minha postura para que pudéssemos entrar no estabelecimento para a suposta "reunião".

Nunca fui próximo do meu pai, como já disse anteriormente, entretanto ele não é de todo ruim para com a minha pessoa se comparado ao modo em que a Kim se mostra ser. Ele apenas ignora a minha existência, o que significa que não me trata como seu eu fosse um fardo para si, não faz questão de manter os laços e afeto paternal comigo.

De certa forma eu compreendo seu lado, visto que em raros momentos onde me perguntava sobre como eu estava, minha mãe se fechava totalmente e parecia ficar mais ignorante ao meu respeito que o normal.

Sei que não sou totalmente rejeitado pelo meu pai, e que ele apenas não conversa comigo e nem se aproxima por conta dela, talvez esteja tentando evitar que eu seja tratado de uma maneira pior da que já sou pela minha progenitora. Inclusive foi ele quem me ofereceu a proposta de entrar em uma faculdade - já que era ciente de que eu gostava de estudar - porém, como nem tudo é bom quando envolve a mim, assim que soube, Sonmi tirou meu direito de escolha e disse que eu só poderia cursar algo se fosse para a área de administração...

Olha a minha cara de quem simpatiza com algo desse tipo...

O que eu sempre quis realmente foi algo que puxasse para fotografia ou música, sempre amei cantar e fotografar, se perceber bem e capturar o momento certo, apenas uma foto tem o poder de absorver todos os sentimentos de alguém, além de poder eternizar tudo aquilo que você ama e acha lindo. Sou fascinado pela possibilidade de um dia poder capturar sentimentos diversos em que sei que são existentes por todo o mundo, e quem saiba expor para aqueles que estarão ao meu lado, a minha arte eternizada.

E acho que meu pai sabia disso, sempre observou todos os detalhes daqueles a sua volta diferente da minha mãe. E assim que soube das condições de Sonmi ele me deu uma câmera de presente, escondido é obvio, dei a desculpa de que quem havia comprado a mesma tinha sido eu com trabalhos que fazia aqui e ali. Contudo, tirando essas coisinhas, nunca tivemos outro contato ou conversas longas.

Talvez se eu contasse para ele todos os meus sonhos eu teria algum apoio, mas sou um covarde medroso, e tenho medo dele achar que tudo não passa de uma baboseira adolescente, e com isso, resultar em uma rejeição pior do que a da minha mãe. 

Saindo de meus pensamentos para o que acontece agora... Se passaram algumas horas e já eram 15:00, estávamos dentro da BMW, minha cabeça se encontrava encostada na janela enquanto eu olhava a vista passando ao meu lado como um borrão, minha mãe mexia em seu celular e meu pai estava do banco do passageiro ao lado do nosso motorista e na minha frente, obviamente.

Estávamos a caminho de casa, porém por conta do engarrafamento, tivemos que seguir um caminho desconhecido por quase todos os moradores da cidade, já que não tinha mais ninguém lá além de nós. E no meio do caminho percebo um lugar cheio de árvores e bancos que seguiam um caminham onde meus olhos não podiam mais capturar onde se terminava, haviam flores no chão, flores de todos os tipos, vermelhas, brancas, rosas e devo confessar que a que mais me chamou atenção foram as roxas, um fato engraçado porém fofo, é que havia também um lindo gatinho de pelagem clara e ao seu lado um de seu mesmo tamanho porém com a pelagem escura, talvez eles já se conhecessem afinal estavam brincando adoravelmente um com o outro por entre as flores.

Imediatamente, assim que vejo a cena eu olho para os meus pais e pergunto se posso andar um pouco antes de voltar a nossa residência, com um certo medo por não saber voltar.

- Tudo bem se eu for andando? Faz tempo que não caminho um pouco.

- Okay, mas vê se não faz nenhuma gracinha que vá comprometer minha imagem - disse minha mãe com um olhar desconfiado em minha direção. Olho pro meu pai pelo retrovisor do automóvel e dou um sorriso mínimo, antes dele pedir para o motorista parar o carro. Porém ele fala algo que me surpreende, e ao mesmo tempo me sinto levemente confuso do por que de sua atitude.

- Podem ir para casa, vou com o Taehyung, volto mais tarde, também preciso andar, além de que pode acontecer algo.

- Patético que nem o filho - sussurra Sonmi, mas apenas eu sou capaz de ouvir, já que meu pai já se encontrava fora do carro.

Saio do carro ainda confuso com o que acabou de acontecer e observamos ele desaparecer por entre as curvas. Meus ouvidos captaram o cantar de alguns pássaros, levanto a cabeça e fecho os olhos para sentir a brisa que se fazia presente no local. Porém logo saio de meus pensamentos ao me lembrar de que eu não me encontrava sozinho, e por algum motivo desconhecido o meu pai decidiu ficar comigo. Eu me viro lentamente para a figura masculina ao meu lado, nos encaramos por alguns segundos, até que com um levantar da sobrancelha esquerda e um olhar desconfiado, ele parece entender o que eu queria perguntar.

Em meio a um longo suspiro ele abaixa a cabeça por uns instantes enquanto parece pensar, até que quando direciona seu olhar para mim novamente, ele vem carregado de sentimentos que nunca pensei ver algum dia através dele. Medo e ansiedade. Seu olhar era caído e qualquer pessoa que o visse no momento saberia o que estava sentindo, mesmo não o conhecendo.

Até que finalmente ele quebra o silêncio, e confesso que esse ato não me aliviou nem um pouco, apenas fez com que eu ficasse mais tenso e temeroso com o que poderia vir a seguir ...

- Nós dois precisamos conversar...

Fodeu.


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