O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício.
- Martin Luther King
Se por acaso eu estivesse em um dia normal na minha vida monótona, e você me perguntasse o que se passa em minha cabeça ou talvez, o que eu estou fazendo? Provavelmente eu diria que a única coisa se passando era 5SOS em meus ouvidos enquanto estou com o rosto travado nos livros, ou fotografando por ai...
Porém, é como eu disse, "caso eu estivesse em um dia normal", até porque levando em conta de que neste exato momento estou ao lado do meu pai enquanto caminhamos por um caminho completamente desconhecido por mim, é obviamente considerado algo muito anormal e estranho quando se é tratado da minha vida.
Logo depois que o mesmo disse que precisávamos conversar, algo que do fundo da minha caixinha torácica, me dava muito arrepio e um frio na barriga bem incômodo, ele me pediu para que andássemos um pouco mais para que a gente encontrasse um lugar para conversar calmamente.
Eu observava tudo ao meu redor naquele lugar completamente estranho mas que possuía uma beleza fora do normal. Posso afirmar que estou completamente maravilhado com os dois felinos que acabaram por nos seguir enquanto caminhavam por entre as flores.
Eu me perguntava a todo momento como era possível não haver ninguém por aqui, considerando que o local é incrivelmente belo. Havia árvores enormes, cerejeiras, não possuía vestígios de nenhuma mão de obra por parte humana, vários pássaros voando sobre nossas cabeças. Praguejei mentalmente ao ver que não possuía minha câmera no pescoço, aonde era costume deixar quase todos os dias.
Estávamos em um silêncio incômodo, estranhando a presença um do outro. Meu coração se encontrava ansioso pelo o que viria a seguir, e por um momento pensei na possibilidade de haver um perdão dos dois lados no meio de nossa conversa... Quer dizer, não é algo impossível é? Considerando que no fundo é a minha maior vontade chama-lo de pai sem sentir uma vontade imensa de chorar por nunca ter recebido uma criação paterna que nem as outras pessoas normais.
- Esse lugar é lindo não é mesmo? - Disse com um tom meio receoso, como se hesitasse por algo, enquanto seu olhar se direcionava a mim lentamente.
- Sim, acho que eu deveria ter trazido minha câmera - Dou uma leve risada assim que vejo os gatos rolarem na grama, um por cima do outro, ato que me prendeu a atenção por um breve momento. Segundos depois ele me chama, fazendo com que eu saísse de meus pensamentos, para que nos sentássemos em um banco comprido de madeira situado em baixo de uma cerejeira que ali havia.
- Você é a primeira pessoa que trago aqui, ou que se interessou por conhecer, além de sua avó - Diz enquanto pegava uma delicada margarida que se encontrava atrás de onde estávamos.
- Oh... - Deixo com que um murmúrio de surpresa por ninguém conhecer o local além dele, sair pelos meus lábios. Até que depois de alguns segundos entendo o restante da frase que o mesmo havia revelado. - Você já conhecia esse lugar?
- Digamos que eu fiz esse lugar - Minha boca se abre imediatamente, enquanto minha cabeça tomba para o lado em confusão, esse ato fez com que ele desse um leve riso e abaixasse a cabeça como se revivesse momentos em sua memória. - Quando eu era menor, entre uns 9 ou 12 anos, não lembro quando exatamente, eu 'tava andando enquanto voltava do meu primeiro dia de aula numa escola nova, acabei me perdendo no meio do caminho, resultando em encontrar esse lugar. Óbvio que ele não era assim na época, só tinha mato e algumas árvores, além de um riacho que tem mais a frente, eu acabei ficando encantado com o tamanho e aproveitei que o meu tio tinha uma floricultura e vinha com varias mudas de plantas e sementes todos os dias e plantava, trazia adubo, regava nos dias que não chovia, e faço isso até hoje. Ninguém sabe desse lugar a não ser a sua avó, o meu tio e agora você. - Fala fazendo com que minha expressão saísse de uma confusa e passasse a surpresa
- Mas por que? Por que ninguém vem aqui?
- Se você reparar na entrada para esse atalho, ela não tem nenhuma beleza que desperte interesse, as árvores estão queimadas por conta de um incêndio em uma casa que existia ali, e quase ninguém sabe aonde o atalho leva além dos moradores bem antigos da cidade... A maioria das pessoas atualmente só reparam na beleza de fora, julgam pela aparência, e é por isso que quase ninguém nunca veio aqui, ou se importou em conhecer, ou medo por não ter ninguém por esses lados. - Ele disse enquanto me encarava, e entrelaçava os dedos em seu colo.
Se eu achava que possuía um pai com um coração de gelo eu vi essa imagem se derreter no momento em que os olhos dele brilharam enquanto olhava em volta com um sorriso no rosto. Até que ele se volta para mim e seu sorriso some lentamente, enquanto dava lugar para uma expressão apreensiva.
- Mas não é sobre o lugar que precisamos conversar certo? - Eu perguntei com o coração acelerado enquanto ele assentia com a cabeça.
- Quero conversar sobre você filho - Disse enquanto eu o olhava com certa desconfiança, e desviava o olhar para o gatinho em meus tornozelos. - Não se preocupe, eu só quero esclarecer algumas coisas, do por que eu sou afastado de você, tentar responder todas as suas dúvidas ou outras coisas que quiser.
- Por que? Por que quer fazer isso agora? - falo e observo seu olhar vacilar por um momento mas logo depois se voltar pra mim ao mesmo tempo que seu corpo ficava de fronte para o meu. - Não acha que está tarde demais para se preocupar?
- Sei que não fui presente na sua vida, mas quero que saiba que o que eu mais queria era estar com você. - Disse enquanto segurava minha destra - Sei que permiti que sua mãe controlasse o que você faz até hoje juntamente do seu futuro, mas não porque eu quis. Acredite, ela sabe ser manipuladora quando quer, e caso eu não concordasse com algo que ela quisesse ela tinha poder o suficiente para prejudicar a minha família e o negócio dela.
- Eu sei muito bem o quão manipuladora ela é. - Digo enquanto algumas lembranças de ameaças que tive se passavam em minha cabeça.
- Eu te peço perdão, por mim e por ela, eu não consigo imaginar o quanto você sofreu psicologicamente todos esses anos. Mas eu quero que saiba que ela nem sempre foi assim, a culpa disso é totalmente minha.
- Como assim? - Pergunto enquanto um dos gatinhos subia no meu colo para receber carinho.
- Quando eu a conheci foi por conta do casamento arranjado, e isso destruiu ela. Era uma mulher muito sonhadora e tinha o sonho de se casar com alguém que amava. Ela era doce, e gosta de fotografia assim como você. - Dou um sorriso meio desacreditado durante sua fala - O casamento acabou com todos os sonhos que ela tinha, inclusive o de ter um filho. Quando você nasceu, como deve saber houve uma complicação e ela teve que fazer a retirada do útero, ela não aceitava a ideia do único filho ser com alguém que ela não amava, e ainda mais ter sido forcada pelos pais a ter. E acabou por descontar toda a dor em você, ela nunca foi a favor de nada do que foi obrigada, mas fez por amor aos pais afim de querer orgulhar seus avós.
- Eu não to entendendo, por que isso do nada? Por que me falar tudo isso?
- Taehyung, você é meu único filho, e por mais que eu não demonstrasse, eu te amo, e eu me arrependo de não ter participação na sua vida como eu queria. - Durante sua fala seus olhos demonstravam um brilho fora do comum, e ai eu percebi que ele estava prestes a chorar. - Eu te mostrei esse lugar porque quero que assim como ele foi o meu refúgio, que ele seja o seu, que encontre inspirações aqui pra suas fotos. Me perdoa por nunca ter sido presente.
Nesse ponto a primeira lagrima já escorria pelo meu rosto, e no momento seguinte vejo uma mão estendida e pronta pra limpar ela dali. E com aquele simples ato eu não aguentei mais segurar tudo o que sentia. Com o rosto repleto de lagrimas eu me agarro em seu pescoço o puxando para um abraço, enquanto choro em seu ombro, e assim ficamos por um tempo, sendo o apoio um do outro e pedindo ao universo para que possamos nos perdoar.
- Me perdoa? Me permita te amar e te apoiar? Deixa eu recuperar todo o tempo perdido? - Diz enquanto faz um leve carinho em meus cabelos. Eu me senti protegido e calmo pela primeira vez em alguns anos. Me afasto de seu abraço e encosto nossas testas de modo que nossos narizes se encostassem, e tendo aqueles pássaros sobre nós como telespectadores do primeiro de vários atos de amor entre duas pessoas ou mais naquele local.
- Eu te perdoo, Pai...
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Free To The World - Taekook
FanficOnde um garoto, fruto de um casamento indesejado, permite que seja controlado pelos pais para um destino que nunca quis mesmo que seus pais tiveram. Um garoto que possui sonhos, amante da fotografia, arte eternizada pelos olhos daquele que a sente. ...