capítulo 02

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Bom, acho que desde criança eu deixei as pessoas perceberem que não era uma criança "normal", desde sempre eu mostrei a elas que eu, primeiro, não gostava de ser convencional, e segundo, eu gostava de você.

Você provavelmente não se lembra da quantidade de vezes em que me peguei sorrindo olhando para você, a escola me chamava de coisas homofóbicas, porém você nunca teve vergonha de ser meu amigo, você sabia como era ruim ficar sozinho e nunca quis que isso acontecesse comigo, eu amo e amei cada detalhe seu.

Com 12 anos e nem tanto tempo de amizade assim, as crianças mais velhas e mais novas tinham como ser horríveis, você sempre esteve do meu lado, foi minha válvula de escape em todas as manhãs quando saia da sala de aula e te via no final do corredor, me abraçava sem o mínimo de vergonha que os outros garotos tinham, Ir junto de você até o refeitório continuou sendo minha coisa favorita por longos anos.

Eu sabia que alguns garotos da sua sala me respeitavam por andar com você, era bom quando mais gente sentava na nossa mesa, que foi a mesma sempre, quando consegui superar minha fase triste por causa das piadinhas, amadureci de outras formas e fiz mais amigos, mas um pacto silencioso que fiz a mim mesmo continuava, eu sempre me sentava para almoçar com você.

"Inteligente e esperto, mas ele é meio tímido percebeu?" ouvi um grupo de meninas falando uma vez, me senti quentinho por dentro por saber que você não era tímido comigo e gostava da minha companhia, me recordo desses sentimentos com tanta clareza que sinto como se tivesse sido a menos de uma semana, a única diferença era que eu mesmo sabendo que não me atraía tanto assim pelo sexo oposto, não havia entendido o que eu tanto sentia por você.

Tínhamos ambos 13 anos quando seus pais lhe contaram sobre o divórcio, você via como sua mãe andava triste e para baixo, sempre fora uma mulher incrível, em todos os seus anos de vida nunca tinha visto ela abalada daquela maneira, mas você ainda assim foi egoísta, ainda assim você quis morar com seu pai, Jin, nós dois sabemos o que aconteceu na noite em que você recebeu essa notícia.

Foi uma avalanche de sentimentos para você, mas não vou esquecer nunca do quanto sua mãe se sentiu triste quando você disse a ela que queria seu pai, você estava confuso, não sabia quem estava certo e não percebia o quanto sua mãe te amava. Ouvi um toque a minha porta, minha mãe atendeu e era você, com uma mochila, disse que havia me perguntado se podia dormir em minha casa e eu assentira, pois sabia que minha mãe não ligaria. Você mente bem assim até hoje? Gostaria de um dia saber a resposta, mas espero que não mentindo para mim.

Subiu até meu quarto, eu estava na escada te esperando quando o vi olhando de solsaio para meus pais, pude sentir as lágrimas escorrendo de seu rosto mesmo ainda não podendo vê-las, você estava tão frágil quanto nunca, foi difícil para nós dois aquela noite.

Passamos um tempo apenas falando sobre coisas banais, sabia que o assunto era importante demais para falarmos com meus pais ainda acordados, sua cama estava arrumada no chão, minha mãe e meu pai vieram em nosso quarto se despedir, seus olhinhos estavam vermelhos quando eles fecharam as portas.

Até hoje tenho uma cama de casal, você deitou nela aquela noite, ouvi todos os sentimentos ruins que o deixavam triste, você estava agarrado a mim como se sua vida dependesse disso, seu cabelo ela afagado por minhas mãos de maneira calma e acolhedora.

— Yugyeom, acho depois de tudo isso, quero morar com meu pai. -- Suas palavras cortaram meu coração tanto quanto o de sua mãe, você prosseguiu falando, decidi dar minha opinião apenas no final. – Sabe, Seouryoung deve estar mentindo, meu pai não a trairia nunca, deve estar louca.

— Jinyoung, por que chamou sua mãe pelo nome? – Eu estava magoado no lugar dela.

— Não sei, ela me deixou chateado inventando essa mentira.

— Por que sua mãe mentiria? Ela nunca faria isso você sabe, melhor que ninguém o quanto aquela mulher te ama e daria a própria vida e felicidade em prol de você, por que você acha que ela faria uma coisa assim? Se ela não quisesse mais seu pai ela ficaria com ele do mesmo jeito para não te ver nesse estado, mas pense se fosse com você, Jinyoung, você não agüentaria viver com alguém que te trai durante todo o tempo.

— Yugyeom, por que está do lado dela? Você está jogando contra o time do seu melhor amigo, tem que me defender! – Você achou que eu não teria nada válido a falar quanto a isso.

— Jin, os amigos não são só para fazer você escutar o que você quer ouvir, nós somos tipo uma família, eu tenho que te apoiar? Sim, mas sua mãe passou todos os momentos ruins da sua vida do seu lado, é injusto com ela você deixá-la de lado por acreditar que o lado dela da história é mentiroso por uma ilusão que você mesmo criou.

Você se desvencilhou do meu abraço, foi até a tomada e buscou seu celular, enviou algo a alguém e fiquei esperando em minha cama até que você voltasse para ela, com o celular junto ao peito.

— Sei que pode parecer tolice minha, mas espero que meu pai responda.

Culpado, seu pai foi meio burro em admitir isso para você, mas sua mãe foi favorecida e você se enfureceu com ele, mas não disse absolutamente nada. Senti seu corpo jogado em minha cama novamente, seu rosto ainda inchado e banhado por lágrimas, você escorregou até onde se encontrava meu corpo, te abracei outra vez e senti seu rosto enterrado em meu pescoço.

— Obrigada por abrir meus olhos, estou me sentindo culpado por tudo que disse a minha mãe. – Odeio até mesmo lembrar do que me contou. – Yuggie, será que podemos dormir assim hoje?

Me levantei, busquei o edredom que estava em nossos pés, nos deitamos juntos sob o cobertor senti que você continuava triste, o abracei com mais força, você deve ter chorado mais um pouco, viu sua casa em guerra em poucos minutos parecia que tudo havia sido bombardeado, havia tratado sua mãe como culpada por algo que ela não havia feito, além disso queria seus pais juntos, entretanto eu estava com você em meus braços e sinto que foi egoísmo deixar minha mente divagar pelos mistérios da minha sexualidade, foi nesse dia que eu entendi o quanto eu era apaixonado por você.

Foi difícil no início, você seria a primeira pessoa a saber do que eu sentia, mas eu nutria sentimentos por você, não poderia abrir a boca NUNCA para falar sobre isso, acho que meu medo era perder os nosso momentos juntos, perder as noites em que ríamos até de madrugada juntos, ou chorávamos e dormíamos do mesmo jeito em que aconteceu na separação dos seus pais. Minha intuição dizia que eu podia te perder, eu nunca em sã consciência faria algo que causasse nosso afastamento.

Nossa amizade parecia ter saído diretamente de um filme, sei que mesmo depois de muito tempo, de muitas pessoas terem passado pela minha vida, de muitos outros amigos e sorrisos, você vai ser meu preferido para sempre, me entristece saber que com tão pouco tempo nós não temos mais a oportunidade de estar juntos como viemos fazendo antes.

Talvez nada do que fale ou faça vai te fazer recordar, e caso isso aconteça, o carinho que tenho por cada momento que passei com você, nada vai mudar, nem que eu me case com outro homem, beije trilhões de bocas, adote 2 filhos e me mude de país, eu vou continuar guardando você na minha memória do mesmo jeito em que te guardei no meu ano fora e te guardo até hoje.

if we were brave? || {jingyeom}Onde histórias criam vida. Descubra agora