Inferno

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- Menina feia, é um tortura só de te olhar! Você é um incômodo para nós. - escuto uma voz masculina, familiar, soando de algum lugar, mas não vejo nada. Apenas um negror profundo, na qual faz acelerar cada vez mais meu pulsar, uma apreensão inquietante floresce no meu tórax. Fecho meus olhos firmemente, e abro-os segundos depois, agora um brilho excessivo desagrada meus olhos, estou tonta, desnorteada. Minhas pernas não tem forças de se levantar, então me arrasto, algo quente escorre em minhas bochechas. Lágrimas. Me agarro a algo sólido, e vejo ser um sapato. - Socorro! - grito, quando vejo, eu sou arremessada pelos mesmos sapatos que agarrei, e um som de nojo soa, estou aos pés de vários jovens e defronte com um garoto de olhar malicioso e sorriso perverso. O mesmo que disse aquelas palavras insanas. Todos estão rindo e apontando para mim, não consigo sair daquele chão. Eu o sinto, grama suja.- Ó, coitada. Parece um animal amedrontado. Lixo! - ri o menino, aproximando seu rosto mais perto ao meu. Franzindo o cenho e contraindo os lábios com repugnância. - Socorro, socorro ... - debocha ele. E o pessoal aplaude, ri, outros gargalham pela cena constrangedora. E todos me humilham.- Vamos Meghan, me dê a tesoura! - suplica ele com veemência a um garota de grandes cabelos negros, de face desejável. Só que ela tem um espírito abominável, maligna. - T-tesoura? - falo trêmula.- Agora você é Sansão, querida, vamos pessoal, repitam! Sansão, Sansão ... - zomba Meghan batendo palmas, fazendo todos gritar a mesma frase. Eles festejam! Demônios em sua seita, vendo sua oferenda ser sacrificada. - Me dê Meghan, me dê! - grita o menino, rindo e salivando. Lobo carniceiro vistoso pela presa, ele não parece ser humano. Todos não parecem ser. Talvez um e outro estejam horrorizados com a cena, pasmos, mas mesmo assim, não me ajudam, não se mexem para contradizer. E continuam a ver o espetáculo. - Não Christer, eu o faço! Deixe- me f...- Não! Eu, e apenas eu vou fazer. Agora me dê essa merda Meghan! Rápido! - grita ele nervoso com Meghan, que se oprimi na mesma hora. Chegou minha hora, Meghan vira sua bolsa, e tira de lá uma prateada tesoura de barbeiro, grande. O pessoal comemora com mais gritos e mais aplausos. Eu engulo um seco, meu sangue ferve, eu saio de mim. Estou lá, com o público me vendo. Meu corpo treme e fraqueja, lágrimas e mais lágrimas escorrem, eu as limpo. A única coisa que vem na minha cabeça é: o por quê.Ele, Christen, pegou a tesoura das mãos de Meghan, pegou com um delicadeza e satisfação, agora esta admirando-a. Suspiro e fecho os olhos, e as abro, ele esta me encarando. De súbito, se arremessa em mim, puxando dolorosamente meus cabelos, sinto que ele vai arrancar meu couro-cabeludo junto. Mais vibração. E uma chuva de loiros cabelos cacheados começa a descer.- NÃOOO, não! Ajudem-me, misericórdia. - esperneio chorando, gritando. Mas eu sou muda naquele momento, muda. Começo a tossir, e água sai de minha boca, muita água. Estou me engasgando com ela."Por favor, isso, isso! Vamos lá, jogue fora, respira.."Voltei ao negror de antes. Será que morri? Sinto uma ardência no meu rosto, meu corpo se sacode involuntariamente. - Morri! - exclamo.- Morreu não! - diz uma voz, e eu sou traga por impulso ao real, e mais água sai da minha boca e escorre pela meu pescoço. Minha visão esta embaçada, eu pisco várias vezes até que vejo um céu cinza, tempestuoso, sinto meu corpo molhado, meus braços estão encostando em grãos, minúsculos. Areia. Me arrepio dos pés a cabeça, pelo frio gélido que me aviva. Pareço mais pesada que o normal, a gravidade veio à tona. É difícil de se levantar, doloroso. - Seria um belo lugar para morrer. - digo vagarosamente.- Besta! - diz Lira, lagrimosa, secando suas lagrimas ao punho e dando um sorriso. - Seria bom morrer comendo, sua .. sua... - ela me senta e me abraça, é isso que precisava, calor humano, pois aos poucos cada pêlo do meu corpo se eletrificou pelo vento cortante. - Meu rosto tá ardendo. - Te dei um tapa para vê se acordava, e se estava viva. E parece que funcionou. - diz ela tentando me ajudar a levantar. - Eu acho que é um obrigado!? - rio, e sinto minha garganta arder. - Mas como aconteceu?- Um onda Emm, consegui te pegar a tempo. É só isso que precisa saber no momento. Sente-se bem? - Sim, mas viva do que nunca! - abro um sorriso falho por sentir uma dor na minha perna direita, esta bamboleando, porém sigo firme com uma leve careta de dor. - Não quero que conte a mama, ela nunca mais deixaria eu sair Lira. - Eu cogitei em ir chamar ela, só que você acordou a tempo. Mas não contarei se não quiser, até porque não quero perder a única amiga-irmã que tenho!- Pode ter certeza que não vai perder, se o mar não conseguiu, imagina mama! - rio.Uma forte onda de calor ultrapassa meu corpo ao entrar em casa, meu corpo se estremesse involuntariamente pelo aconchego que sinto, e um cheiro de assado adentram minhas narinas fazendo-me lacrimejar. - Emm, finalmente! Oh céus, você esta parecendo uma ... uma... Lira você também! - surpreende minha mãe, vindo da sala. A cara mais impactada do que qualquer outra que ela já fez até então. - Pensei que iriam tomar banho de mar, e não de areia. Mama mexe cuidadosamente em meus cabelos mais duros que palha. Esta chocada, mal sabe ela que aquele cabelo foi o resultado de um quase afogamento meu. Estaria dura no chão se soubesse.- Vou indo Emm, preciso ir correndo para casa antes que meu pai brigue mais que o normal comigo. - sorri Lira, desdenhosa.- Não Lira, fique! - É querida, porque não fica? Posso ligar para seus pais se quiser? - diz mama sorrindo, deve estar se contorcendo de ânimo por dentro, por alguém esta dormindo em casa que não seja nós mesmo da família.- Ficaria muito feliz senhora Hansson! Mas acho que meu pai pode ficar bravo. - Oh não, querida! Deixa que eu resolvo isso, só passe o telefone do seu pai ou da sua mãe, e eu converso com eles! Sem problemas. - diz mama, agarrando Lira e levando-a até a sala, e sentando-se na poltrona ao lado do telefone. - Pode falar.Vejo Lira olhar para mim, desconfiada, mas apenas sorrio sem entender realmente o que significava seu gesto, meu sorriso caí ao sentir um pontada na perna. Minha perna direita continua a latejar de dor, eu a vejo, esta um pouco dilacerada, feio de se ver. E parece que quanto mais olho aquilo, mais dor o ferimento provoca. Vou até o banheiro ao lado da sala de jantar, e tento procurar entre as gavetas da pia algum antisséptico para aplicar naquele machucado. O encontro finalmente em uma das caixas de esmalte de mama. Sento no chão, aproveito e pego um algodão dentro da caixa e o molho e coloco no ferimento. Seguro firme minha boca para não gritar de dor, aquela ardência maldita é necessária, e repito o procedimento até que limpo a região, logo depois, coloco dois curativos e pronto. Não precisei cortar minha perna, a dor ainda persiste, entretanto não esta tão aguçada como antes. Desço as escadas depois de ter tomado meu banho, encontro Mama e Lira sentadas à mesa conversando. Lira já não esta mais imunda como antes, agora ela se encontra suave dentro do blusão que emprestei; risonha, não sei se é pela conversa agradável que ela esta tendo ou pelo cheiro de Torta de Maçã com passas que mama fez. Até eu sorri quando vi aquela maravilha sobre a mesa. - Pensei que ia morar no banheiro Emm! - diz minha mãe ajustando uma cadeira para eu sentar. - Lira ri - Deixa eu pegar um pedaço para você.- Não teremos jantar? Que maravilha, não que eu esteja reclamando, mas comer torta no jantar é algo que devemos fazer antes de morrer.- Que exagero! - ri mama, Lira volta a ri, deixando um pedaço de maçã com baba cai de sua boca. - Tome. - Obrigado Mama! Sabe, a senhorita poderia sempre fazer sobremesa em vez de jantar.- E depois eu teria que leva-la no médico por você esta com diabetes.Depois de conversarmos e comermos a torta por inteiro, Lira e eu subimos para nos prepararmos para deitar. Mama já tinha arrumado uma canto para que Lira dormisse. Ao chão da minha cama, Lira se pusera a deitar, um boa noite foi dito e no mesmo instante, meus olhos já não enxergavam mais nada, estava apenas iluminadas por lembranças de memórias e sonhos passados. O negrume do quarto traziam isso quando pouco se quisera dormir.- Lira? Ta acordada? - Acho que sim. - ri ela- Já ouviu falar sobre a canção da Maria Tristonha?- Hmm. Acho que ... talvez. Como é?- Assim: Lá vem dondoca, trazendo o mar nas costas...- Enquanto lhe jogo uma beijoca... Claro que conheço, minha mãe cantava antes de eu dormir alguns anos atrás.- Eu tive um sonho com você cantando essa musica, não acha estranho?- Não - ri ela - , acho que é normal sonhar com uma amiga cantando, você deve ter associado a cantiga comigo.- É, talvez. Mas ainda continua sendo estranho, pelo fato de que foi no dia em que te conheci.- Agora sim, me parece estranho Emm! Cantava essa cantiga antes de dormir?- Não, lembro-me vagamente ouvir minha mãe cantar para mim, mas faz muito tempo já.- Gosta dessa cantiga? - pergunta Lira se levantando. - Sim, é uma música ... calma.- Então não há o que temer Emm. - vejo pelo negrume do quarto o branco de seu sorriso, e ela volta a se deitar.- É, boa noite Lira. - disse forçando um bocejo. Sabia que o sentimento agônico relacionado a isso não era mera coincidência, havia algo ruim nisso. Resolvi não contar a Lira, que o sonho que tive com ela não era um dos melhores, não seria bom ela saber que eu era enforcada ao som dessa melodia serena de que tanto gosta.Lira começou a contar algumas histórias sublimes sobre a cidade, pra que assim pegasse no sono, e aos poucos escuto sua voz fraquejar, ela adormeceu. Eu continuo acordada, olhando a cortina esvoaçar por bastante tempo, enquanto o vento álgido entra pela janela do quarto. Penso em levantar para fechar a guilhotina da janela, mas meu corpo reconsidera ter que ir até lá. Mas o desconforto é maior, então vagarosamente levanto em direção a janela, piso pausadamente no colchão em que Lira esta, para que ela não acorde, esbarro na cadeira da escrivaninha, vejo se Lira acordou, e vou até a cortina, olho as estrelas antes de fechar, quando sinto um estrépito no chão, viro subitamente, no momento em que vejo Lira em pé me observando, ela esta com o sorriso estampado no rosto, um sorriso do diabo. - L-lira, não q-queria acord... e-esta bem? - digo nervosa. Ela só vira a cabeça de lado.- Seria uma bela noite pra morrer Emm. - diz ela com uma voz abominosa, ela se aproxima lentamente, suspiro e recuo. Inesperadamente, Lira se joga em mim, dando um forte tapa na minha cara. Bato a cabeça na janela, fico desnorteada, apalpo meu rosto tentando sofrear a ardência. Só sinto meu corpo sendo empurrado contra a parede, tento focar, mas só vejo a silhueta dela contra a luz, bamboleio desesperada, tentando me apoiar sobre a escrivaninha. Quando sinto suas unhas perfurando meu pescoço, suas mão me sufocando, sua força parece ter triplicado. Agarro seu braço, e tento compelir aquele diabo de mim. Mas minhas forças são vãs, começo a tossir sangue. Só me resta gritar pedindo ajuda. Então, me vejo esgoelando, clamando ajuda. - Mate-a - diz Lira, e eu sou traga de um pesadelo histérico, meu cérebro parece ter sido amaciado pelo próprio diabo. A luz rompe o negrume, a alva, agora, brilha na matina. E vejo minha mãe abraçar-me e Lira chorar de desespero. A sessão bizarra teve mais um fim nos braços aconchegantes daquele anjo chamado mãe. - Passou querida, pronto. - sussurra mama. E tudo fica bem. 

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⏰ Last updated: Sep 07, 2021 ⏰

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Mar, triste marWhere stories live. Discover now