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Batendo a porta do carro sedan, olhou ao redor, recebendo uma dosagem de memórias antigas lhe atingir em cheio. Lembrou-se saudosa dos raros momentos bons que tivera na infância e adolescência, onde, costumava explorar todos lugares dentro do condomínio.

Que força era aquela que a motivava estar logo naquele lugar?

De repente sentiu vontade de pedir licença a Claudio e ir explorar os lugares de onde se lembrava, já que a reunião estava marcada para às oito horas da noite.

Mas não queria se atrasar. Saber que seu atraso poderia ser motivo ideal para os comentários de Antonija a deixava um pouco apreensiva. Só não mais que a possibilidade de ver Maurício.

Virou-se e deu de frente com a majestosa casa dos Brandes. Era uma das maiores e esplendorosas do lugar. Bem suntuosa, do jeito como eles bem gostavam.

E de repente foi impossível não se perguntar: Será que Maurício estaria lá?

Todos os seus temores aumentaram quando avistou Martina, a governanta, esperando por eles no hall da casa. A mulher era querida e amada por Raquel, e fora uma das primeiras a se chocar assim que o boato entre ela e Maurício se iniciou.

Por isso, não esperou pelo gesto afetuoso quando a mulher se aproximou e a abraçou. De início, assim que viu seu rosto, Raquel ficou envergonhada e com vontade de rir. Havia se lembrado da cara de choque da mulher ao vê-la deitada na mesma cama que seu Maurício.

— Eu não a teria reconhecido, menina! Os cabelos loiros foram substituídos? — disse com o sotaque italiano, enquanto a avaliava de perto, fazendo questão de pegar em seu rosto e cabelos.

— E muito bom ver você, Martina, muito bom!

Afastando-se um pouco, viu que a senhora gordinha e de ancas proeminentes havia envelhecido um pouco desde o último momento que a viu. Ela até parecia um pouco tímida e ao mesmo tempo emocionada.

— Fique à vontade, minha querida. —  disse, enquanto Claudio passava por elas e com um afago no ombro de Raquel se despedia, indo em direção ao escritório. — O quarto que você costumava ficar foi preparado. Vou pedir a alguém para levar suas malas para lá.

Com um aceno não se absteve. Achava estranho estar ali novamente, principalmente quando tudo parecia o mesmo.

Olhando por um segundo a casa que outrora viveu, percebeu quando Martina ainda se mantinha a postos e a encarava. Era como se a mulher estivesse esperando que ela tomasse alguma iniciativa de subir as escadas e ir para o quarto...

Mas, não seria estranho caminhar por ali sozinha? —  Raquel pensou, se dirigindo até a escada, indo em direção a seu antigo quarto.

Aparentemente para as pessoas que estavam ali não era. Agiam como se ela tivesse voltado de alguma colônia de férias, fazendo-a se perguntar se por acaso tinham noção do tamanho da monstruosidade que Antonija havia feito com ela!

Mas não iria potencializar sua revolta e causar brigas nem nada. Só que daquela vez, suas armas eram outras. Ela já não era a de antes e muito menos se prestaria a deixar com que fizessem algo a ela.

Foi quando ouviu os passos de alguém descer a mesma escada, vindo em sua direção. Levantando os olhos o avistou: Bernardo.

Parando um degrau acima dela, com as mãos dentro do bolso da calça social e com o olhar mais gélido que o ambiente da casa, disse:

— Então, a boa filha à casa retorna?

Fitando-o de maneira séria, percebeu que ele quase não havia mudado; os cabelos negros, rosto anguloso e olhos graves e taciturnos ainda estavam lá, de algum modo repelindo quem quer que se aproximasse.

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