Eu não sei por onde começar.
Me apresentar talvez?
Não, acho que não vai ser necessário.
No final de tudo você vai me conhecer pessoalmente, (querendo ou não, provavelmente não queira, mas, tudo bem, não sou sentimental) talvez em breve ou daqui muitos anos, vai depender de muitas coisas.Tenho certeza que já ouviu falar de mim, as pessoas vivem falando mal do meu trabalho. (Uma ironia, devo dizer, pois muitas vezes só venho finalizar o trabalho das mesmas).
Eles dizem que sou fria, injusta, amarga e cruel. Não posso julga-los, eu também não gosto do meu trabalho, mas, se não for eu quem irá fazê-lo? O mundo é composto por opostos amor e ódio, alegria e tristeza, vida e morte. Todos amam mais o meu oposto é inegável (na verdade eu estou entre seus fãs).
A vida é bela, ( não estou dizendo que é doce ou fácil, ela pode ser bem mais cruel do que parece, acredite, já vi sua pior face) ela representa o início, mas tudo que começa tem que terminar, nada é eterno, no final nós nos completamos, o início e o fim.
Gosto de repetir isso pra mim mesma, deixa as coisas mais fáceis pra mim, mas, não vou negar que continuo fechando os olhos para meus fantasmas.
Que fantasmas? Você é a morte, do que tem tanto medo?
Você deve estar se fazendo essas indagações. A resposta é mais clara do que pensa, meu medo não é dos que eu levo mais dos que ficam.
São para eles que tento fechar os olhos, porque, mesmo depois de tantos milênios, a dor nos olhos daqueles que são deixados ainda me perseguem.
Eu sempre tive um regra, uma única regra inquebrável, não olhe para os que ficam, só faça seu trabalho e vá embora.
Não vou mentir, não sei o porquê, mas, daquela vez eu olhei.
Era uma noite gélida, estávamos no começo de fevereiro de 1918 ( tive muito trabalho naquele ano, era o último ano da primeira guerra mundial, ela acabaria apenas em dezembro, e o surto da gripe espanhola tinha começado em janeiro, tempos turbulentos e cansativos, principalmente para mim) uma parteira terminava de limpar um bebezinho de cabelos negros, a criança chorava pedindo o abraço materno que jamais teria, eu já tinha levado a mulher, a pobrezinha tinha sofrido muito, havia pego a gripe nas últimas semanas de gestação, o bebê resistiu mas ela...
A parteira saiu do quarto levando a criança que já tinha se acalmado, eu a segui.
- senhora eu sinto muito, ela não aguentou- a parteira disse entregando a criança para uma senhora que esperava na cozinha, provavelmente a avó do bebê
- é um menino, qual é o nome?- a moça perguntou
- Jungkook, Jeon Jungkook- a senhora respondeu e acrescentou baixinho só para o bebê ouvir - seremos só eu e você agora pequeno.
Fiquei vidrada na força da mulher (que depois descobri se chamar Jeon YunHee), ela havia acabado de perder a filha, mas se mantinha firme para poder cuidar do seu neto, com todo o amor de seu ser.
Foi nessa noite que vi Jungkook pela primeira vez, aquele garotinho de olhos vivos e penetrantes, o pequeno especialista em ser deixado para trás.
Sua história me cativou ao ponto de querer acompanhá-lo só para saber o final dela, e assim eu o fiz. E agora vou te contar a história dele se sente e me escute com atenção (ou leia no caso).
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Death's friend
Fiksi PenggemarUma história narrada pela morte, que se passa no início do século xx, onde Jungkook nasceu em 1918, no último ano da primeira guerra mundial, conhecendo nossa narradora em seus primeiros minutos de vida, esse, infelizmente, seria apenas o seu primei...