Capítulo 13

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Madara não resistiu foram duas semanas agonizando na cama de um hospital até que deu seu último suspiro e nos deixou. Nessas duas semanas eu tentei manter a mente aberta e não deixar meus sentimentos sobre Itachi transparecer para os outros. Meu corpo se retesava toda vez que ele se aproximava em busca de consolo eu respirava fundo, pressionava os dentes na parte interior da bochecha e mantinha meu olhar vago, enquanto o abraçava. Sentir seus braços me pressionando contra ele, o cheiro do seu cabelo, as lágrimas, embora eu soubesse que fossem verdadeiras para com o avô, me fazia sentir que de alguma forma ele tentava me persuadir sobre minha decisão. Sentia-me péssimo ao pensar assim, mas depois de tudo que ele me fez eu não conseguia mais confiar em suas atitudes, gestos e muito menos na pessoa que se tornou. Não sabia se em minha ignorância de família feliz, nunca tenha notado que ele havia mudado ou esse Itachi que hoje conheço, sempre esteve presente e eu que fechei meus olhos tentando acreditar que meu casamento por conveniência e por lucro daria certo.

Hiroki estava tristonho perguntava sempre pelo biso e eu tentava confortá-lo de alguma forma. Acabei ficando na casa dos meus pais nesses dias para que ele se distraísse um pouquinho já que a família, do lado de seu pai, estava em frangalhos. E isso foi bom, esse tempo me fez pensar em tudo, pensar no que seria melhor pra meu filho e pra mim, e dessa vez não voltaria atrás na minha decisão.

No momento em que nos encontramos na sala de espera do hospital não consegui evitar mirar Fugaku e lembrar-se do que Mikoto tinha nos revelado. Muitas coisas passaram pela minha cabeça inclusive o motivo que o levou a fazer o que fez. Seria algo tão mesquinho quanto à justificativa de Itachi? Acho que nunca saberia a resposta dessa pergunta e nem queria conversar com Mikoto a respeito. Sentia náuseas em imaginar como essa família foi construída, não me admira Sasuke ter escolhido um caminho diferente... Ah, Sasuke! Ele estava tão ou mais acabado que os outros. Sei o quanto ele tentou ajudar, sendo o médico esplêndido e reconhecido que é. Mas, as várias fraturas e as perfurações nos órgãos internos, anteciparam o inevitável. Madara não resistiu à cirurgia e teve uma parada cardíaca, obvio que sua idade avançada também não ajudou. Sasuke até tentou participar da cirurgia, mas foi impedido pelo pai, talvez Fugaku não quisesse jogar aquela responsabilidade para o caçula, no seu interior de filho ele sabia que o pai não resistiria.

O vê com olheiras expressivas, com a boca rachada e o olhar sem vida estava acabando comigo. É como se sentisse toda sua dor, compartilhando com ele todas as suas emoções. Quem poderia imaginar que nosso encontro, depois que o beijei, seria em um hospital. Sem dúvida estava receoso em olhá-lo ou conversar com ele tanto que trocamos poucas palavras durante aqueles dias. Ino não saiu do seu lado. Não me arrependo de tê-lo beijado, porém não tenho o direito de interferir na sua vida. A minha já havia sido decidida por meus pais e Sasuke tinha decidido a sua por si só. Ino foi sua escolha e eu não tenho o direito de me meter na sua história. Ele precisava viver e eu não o confundiria, não mais, já que depois daquele beijo ficou claro que eu me iludi... Que idiota.

Estamos cientes de que a morte é algo necessário, mas nunca conseguiremos aceitar quando um ente querido fecha seus olhos para sempre. Estão todos reunidos no jardim da casa onde Madara morava, era próxima a cidade, mas localizada na área rural. O gramado era rasteiro e extenso na parte de trás da casa e mais ao longe algumas árvores frutíferas. Tinha ido ali poucas vezes com Itachi. Hiroki nem mesmo conhecia a casa do biso, pois depois que Madara adoeceu passava mais tempo na cidade do que na casa do sitio. Não podia negar, o lugar era belo e o último desejo de Madara era ser enterrado onde tinha crescido.

A casa não era a mesma da sua infância, mas era uma réplica perfeita, grande com vários quartos e cozinha com fogão a lenha. Preferi não trazer Hiroki, não queria que ele presenciasse o que aconteceria ali, ele era muito novo pra isso, por sorte Kushina estava com ele.

Encostado em uma árvore de Pitanga, observava ao longe o padre dizer as últimas palavras. Shisui mantinha-se ao lado de Fugaku e prestavam suas ultimas homenagem ao pai.

― Você está bem? – assustei-me, não tinha percebido sua aproximação.

― Acho que sou eu quem deveria lhe perguntar isso, Sasuke. – desviei meu olhar do dele, não queria vê-lo assim. ― Mas não é necessário... Eu sinto muito. – tornei a olhá-lo e ele me encarava. Os olhos se encheram de lágrimas prontas para cair. Não contive meu corpo e o abracei. ― Venha aqui. – apertei-o firme nos meus braços mesmo ele sendo um pouco mais alto, queria muito lhe passar segurança, conforto... Carinho. ― Tudo vai ficar bem. – sussurrei, senti seus braços firmes rodearem minha cintura e suas lágrimas molharem minha camisa. Acariciei seus cabelos com meus dedos, fechei meus olhos e o mantive perto de mim esquecendo-me de onde estávamos. Depois de algum tempo ele se afastou.

― Obrigado, Naruto. – seus dedos longos e frios tocaram minha face quente pelo choro, não consegui me segurar e chorei por mim, por meu filho... Por ele. ― Se acalme, sei o quanto está sendo difícil pra você. – seu dedo deslizou pela minha face limpando as lágrimas. ― Tudo vai ficar bem. – repetiu o que eu havia dito. ― Vou te levar pra casa. – olhei-o surpreso. ― Não se preocupe eu já comuniquei Itachi, disse que o levaria já que ele não está em condições. – olhei pra onde meu marido estava e vi Mikoto o levando em direção ao carro. ― Ele sempre foi mais emotivo e sei que a situação de vocês é delicada. – suspirei.

― Se puder me deixar na casa dos meus pais. – disse e ele concordou.

A viagem foi feita em silêncio, mantive a cabeça encostada no vidro e observei as luzes da rua se acender, passava das 18h00. Como eu desejava não sentir raiva de Itachi, céus, eu me martirizava por pensar assim vendo-o tão triste. Mas ele foi o único responsável por tudo que está acontecendo, não vou negar que quando vi Mikoto o levando embora, me culpei por não ter dado o devido apoio. Mas o que posso fazer? Não conseguia ignorar os acontecimentos de duas semanas atrás, como não podia negar que beijei Sasuke e agora estamos dentro de um carro sozinhos. Pergunto-me onde está Ino?

― E Ino? – não me contive. Ele desviou o olhar da pista por um momento e me encarou, retornando logo depois.

― Ela preferiu ficar no apartamento. Ino nunca gostou de participar de funeral, nem mesmo se fosse de um familiar. – ele sorriu. ― Ela tem pesadelos depois.

― Entendo. – passamos pela rotatória e logo avistei o murro da casa dos meus pais. Agradeci mentalmente, não podia negar que o cheiro do perfume de Sasuke, impregnado em cada canto do carro, estava fazendo-me imaginar mil coisas que não devia.

― Naruto. – ele me chamou assim que tirei o cinto.

― Sasuke eu... – já sabia o que ele pretendia dizer, ou melhor, que assunto ele queria abordar. Mas só queria sair dali.

― Eu conheço Itachi e sei que ele te ama... Sei o quanto a morte do nosso avô o deixara mal e o quanto minha família é hipócrita, - não pude deixar de pensar se Sasuke sabia da traição do pai. ― nada justifica o que ele fez, principalmente, por você ter sido tudo e muito mais pra ele... Então Naruto, decida por você mesmo não deixa que nada te influencie e se... – ele pausou e olhou dentro dos meus olhos. ― E se decidir dar mais uma chance pra ele que ela seja de verdade, se decidir que ele é o homem que você ama e que...

― Chega Sasuke. – o interrompi. Está na cara que eu não amo Itachi, pelo menos não do jeito que Sasuke se refere. ― Eu já tomei minha decisão e não vou voltar atrás, to pouco me importando com o que os outros irão pensar e... Não acredito que ele me ame, pois se amasse não teria feito o que fez, não acha? Você trairia Ino?

― Eu já traí quando deixei que você me beijasse... Não acha? – disse com um leve sorriso. Engoli em seco. Merda será que eu fodi com tudo? Embora, Sasuke tenha me dito aquilo eu não percebi nada de diferente em seu olhar, pelo menos ele não me culpava, eu acho. ― Mas esse não é o momento, não me entenda mal eu só quero que não se sinta pressionado a tomar qualquer decisão.

― Não irei, sei muito bem andar com minhas próprias pernas, Sasuke. – sorri. ― De qualquer forma eu agradeço sua preocupação, mas... Por favor, não se meta. – dito isso sai do carro. Chega de me culpar por meus sentimentos, chega de me recriminar por sentir o que sinto por ele, daqui pra frente eu vou seguir o meu caminho e viver meus sonhos, mas antes preciso por um ponto final na minha relação com Itachi.

Medo e Desejo - O desenrolar...Onde histórias criam vida. Descubra agora