PRÓLOGO

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Aos quatorze anos, Beatriz não fazia ideia de que tudo estava prestes a mudar, de que faria uma promessa que carregaria por toda a sua vida

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Aos quatorze anos, Beatriz não fazia ideia de que tudo estava prestes a mudar, de que faria uma promessa que carregaria por toda a sua vida.

Naquele tempo, era quase impossível estudar quando ouvia os pais gritarem um com o outro por qualquer coisa, por isso, sempre que podia, ela ficava na casa de colegas ou estudava na biblioteca da escola. Os livros pareciam acolhê-la de um modo que seus pais nunca fizeram.

O que era um pouco irônico, se parasse para pensar sobre sua educação privilegiada, seu pai prezava por sua educação, mas não ligava para o que ela queria, ou seus sonhos.

Nunca perguntou nada sobre o futuro. O que ele não percebia era que Beatriz queria ser como ele no futuro. Dona de uma grande marca de roupas, uma empresária respeitada, com boas ações e acreditava que assim as outras pessoas pudessem ver seu exemplo e tornar o país, o mundo, um lugar melhor.

Então, em uma sexta-feira à noite, acordou com os gritos da sua mãe. Ouviu Bianca choramingar; apesar de ser apenas um ano mais nova que ela, Beatriz sentiu um forte desejo de protegê-la e por isso correu para abraçá-la, feliz por dividirem o mesmo quarto.

— Eu estou com medo. — Em prantos, Bianca escondeu o rosto no peito da irmã, e mesmo na penumbra do quarto, que era somente iluminado por um abajur da Barbie, foi capaz de ver a brilhante lágrima escorrer no rosto da irmã mais nova e isso apertou seu coração. Beatriz não conseguia vê-la sofrer, a irmã parecia não entender muito o motivo dos pais brigarem tanto, mas, como Beatriz sabia, sentia que precisava preservar ainda mais aquela ingenuidade de Bianca.

A realidade de saber que os pais não se importavam um com a outro sequer se amavam, era um fato pesado demais para qualquer filho e não gostaria que a irmã crescesse sabendo disso. Alguém naquela família precisava acreditar no amor.

Querendo distraí-la, buscou algo para comentar e sorriu ao lembrar-se da conversa que tiveram mais cedo.

— Sabe sobre aquilo que me perguntou? Sobre o que eu gostaria de ser quando crescer? — Beatriz perguntou a irmã, que ergueu os olhos castanhos e molhados para ela, curiosa.

— Já sabe o que vai ser?

— Sim! Vou ser dona da minha própria empresa, como o papai.

Independente das coisas que acontecia em relação aos pais, ou do fato de que ele nunca foi caloroso com ela, Beatriz o admirava. Percebia que as pessoas falavam dele com respeito e orgulho.

— CHEGA! — O grito da mãe ecoou nas paredes. — Não suporto mais!

Bianca estremeceu em seus braços e nenhuma das duas conseguiram definir mais nada do que estavam dizendo, ou não queriam se concentrar o suficiente para entender. Pelo menos, era o que Beatriz estava pensando.

Não queria entender, só queria que eles parassem de brigar.

— Vai ficar tudo bem, não vou deixar ninguém te machucar. — Beatriz a embalou nos braços. — Eu estou aqui, vou te proteger — prometeu.

— Para sempre? — A voz saiu falha.

Beatriz quase riu. Desde pequena, sua irmã acreditava que tudo tinha que ser uma promessa; se não fosse assim, dificilmente aceitava as palavras de alguém.

— Para sempre — repetiu, beijando os cabelos dela com a convicção de que poderia manter essa promessa.

Não teria como saber, quando, dias depois, seus pais tinham entrado com o pedido de divórcio, ou que isso acarretaria na separação não só deles, como na das irmãs. Se Beatriz soubesse que ia se separar dela, gostaria de pensar que lutaria mais pela família, por Bianca.

Se soubesse das consequências que tudo isso traria, Beatriz teria lutado mais. Por Bianca e por si mesma.

 Por Bianca e por si mesma

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