TRÊS

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— Acho que você foi muito severa com o Augusto — Beatriz ouviu seu meio-irmão, virou-se para ele assim que ambos entraram no elevador e a porta se fechou diante deles

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— Acho que você foi muito severa com o Augusto — Beatriz ouviu seu meio-irmão, virou-se para ele assim que ambos entraram no elevador e a porta se fechou diante deles.

— Ele questionou minha autoridade — Arqueou as sobrancelhas bem cuidadas, os olhos buscando os escuros dele. — E não foi a primeira vez, você sabe disso.

Na verdade, Beatriz nunca gostara de Augusto, o gerente da empresa. Havia contratado ele porque Caio lhe garantiu que era o melhor profissional que conhecia e só ela sabia o quanto a Vênus merecia o melhor.

— Ele estava preocupado, produzir uma nova coleção do zero em pouco tempo é muito arriscado. — A voz de Caio era grossa, e muito tranquila, que ela sabia, fazia ele ser o mais querido dos funcionários.

— Acha que eu não sei disso? — Balançou os braços. — Sei que nosso prazo é apertado, por isso vamos tentar aproveitar o que já temos. A nossa sorte é que não começamos a cortar as peças da antiga coleção — "a coleção que foi plagiada", emendou em pensamento com desgosto. — Então, podemos aproveitar os tecidos e os planejamentos de marketing — acrescentou quando a porta do elevador se abriu, adentrando o último andar, onde ficava sua sala.

As paredes eram brancas, havia uma grande janela de vidro que dava uma ampla visão da cidade. Os saltos batiam contra o porcelanato, em sons ritmados e apressados, que todos os funcionários do prédio sabiam reconhecer como os passos da dona.

— E quem vai desenvolver a coleção nova? Não temos nenhum estilista no momento. — Caio parou na sua sala, ao lado da dela, e acenou para a Daniela, sua secretária, que discutia algo com Carol.

— Estou resolvendo isso. — Beatriz parou ao ver Carol caminhar até ela, uma mulher baixa, usando um conjunto social da cor chumbo, que fazia parte de uma coleção antiga da Vênus, os cabelos escuros com luzes claras estavam presos em seu costumeiro coque no alto da cabeça.

— Presidente — Carol a chamou com a pequena agenda na mão e o celular na outra —, preciso lembrá-la do desfile beneficente hoje à noite.

Beatriz gemeu, tinha esquecido completamente sobre o desfile!

— Pelo seu olhar, querida irmã, vejo que esqueceu esse grande evento. — Deu um sorriso esperto para ela, orgulhoso por ter algo para implicar com ela.

— Droga! Eu esqueci completamente! — Bateu na cabeça. — O pior é que não tem como não ir! Minha presença está sendo esperada. Além de ser para uma grande causa.

Caio a olhou com pena, mesmo com um brilho divertido nos olhos castanhos. Era muito raro ver a grande Beatriz Guimarães em um impasse, dividida entre suas responsabilidades profissionais, totalmente focada no trabalho e seus deveres morais, os seus verdadeiros motivos pelos quais tanto lutou.

Sabia que o desfile beneficente estava sendo promovido por grandes marcas de roupas no mercado; Vênus era um desses nomes. E o evento levantaria fundos para o instituto Elas por elas, que acolhem e auxiliam mulheres que sofrem qualquer tipo de abuso.

— Bem, minha irmã, se divirta na festa. — Bateu levemente no ombro dela e estava rindo, só pelo simples prazer de irritá-la, quando se virou para a própria secretária. — Daniela! Vamos fazer horas extras hoje!

— Vai pelo menos pedir o jantar hoje? — A mulher loira sorriu.

— Hoje vai ser italiana, que tal?

Beatriz balançou a cabeça para os dois, rindo com a facilidade que aceitavam a ideia de trabalhar até tarde e entrou na sala, tinha muitas coisas que ainda precisavam ser feitas.

***

Daniela esticou os braços, espreguiçando depois de ter ficado na mesma posição na última meia hora, os olhos azuis buscaram a escuridão da noite através da janela, mal conseguia ver as estrelas, somente as luzes da cidade refletindo no vidro, sabia que ainda não era nem nove horas da noite, mas o cansaço parecia drenar suas energias e olhou para a porta do escritório de Caio no exato momento que se abriu.

— Nosso jantar chegou! — Caio ergueu as sacolas e as colocou na mesa no centro, diante do sofá onde ela estava sentada. Para ajudá-lo, Daniela tirou os papéis do caminho e arrumou os pratos descartáveis. — Olha que cheiro! Sinceramente, estou com dó da Beatriz.

— Por quê? — Daniela olhou-o com curiosidade.

— Ela não vai poder comer uma comida dessas no desfile — lembrou com uma expressão divertida. — Conhecendo a minha irmã, assim que ela chegar em casa vai bater um pratão.

Daniela sorriu, gostava quando o ouvia falar da família, dos irmãos, o fazia parecer menos seu chefe e mais humano. Não que ele fosse o tipo de chefe arrogante, do tipo que não cumprimentava seus funcionários, longe disso. Era só... bem, não sabia explicar muito bem, mas de algum modo, às vezes, ele parecia muito concentrado, preocupado e tenso. Não que pudesse culpá-lo, afinal, era vice-presidente de uma das maiores marcas de roupas femininas no mercado, porém, naquele momento, enquanto comiam juntos, percebeu outra parte dele que não tinha visto.

Além de ser muito bonito, com aqueles olhos castanhos intensos e inteligentes, ele era bom com todo mundo. Nos dois anos e meio que estava trabalhando como sua secretária, Daniela poderia contar nos dedos quantas vezes o viu irritado. Provavelmente, ele tinha ficado mais vezes que percebeu, mas tudo bem, afinal seu chefe conseguia disfarçar muito bem quando algo o irritava, tinha muita paciência e diplomacia.

— Então, sente falta da sua família? — Caio a olhou depois que limpou seu prato. — Deve ser difícil viver longe.

— Bem, eu sempre os visito com bastante frequência, não é uma viagem muito longa. — Deu de ombros, se perguntando como que a conversa tinha chegado naquele ponto. Ele queria saber mesmo sobre a vida pessoal dela?

Não que ele nunca tivesse perguntado nada antes, tinha vagas lembranças de já ter contado sobre sua vida na pequena cidade, sobre seus pais, mas, para ser sincera, nunca conversaram muito sobre assuntos pessoais e estava surpresa por ele puxar o assunto.

— Tem irmãos? — Havia interesse no tom dele, o olhar fixo nos dela, algo dentro de Daniela estremeceu, sua pulsação pulou e, por algum motivo, seus olhos se desviaram para o próprio prato pela metade.

— Não. Sou filha única. — Sorriu.

— Sorte sua — comentou com convicção. — Muita sorte.

— É o que todos dizem. — Deu de ombros. — Mas é um tanto solitário. Gostaria de ter irmãos.

— Não gostaria não, vai por mim — garantiu cheio de sabedoria e ela riu, divertida.

— Não gostaria não, vai por mim — garantiu cheio de sabedoria e ela riu, divertida

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