O vento frio soprava forte fazendo com que as folhas das árvores se desprendessem e voassem pelos ares. Betina apertou o casaco em volta do corpo, numa tentativa de se esquentar e inconscientemente se acalmar. Elisa queria saber o que tinha a lhe dizer. E agora? O que lhe diria, afinal, agora que teria a oportunidade?Foi caminhando devagar para a quadra do colégio, nervosa e apreensiva. Estava cansada, havia levado o irmão em casa, feito metade de suas tarefas, tomado banho e voltado para o colégio a cavalo.
Betina entrou na quadra poliesportiva, estava escuro lá dentro, as luzes do fim de tarde de inverno não ajudavam. Começou a procurar pelo interruptor de luz, ouviu um barulho, tinha alguém ali.
— Elisa, é você? — chamou, um tanto alarmada, achando tudo muito estranho de repente, a alegria agitada cedendo lugar a uma inquietação nervosa.
As luzes foram acesas num repente e antes que pudesse examinar quem eram as pessoas a sua volta, sentiu algo gelado e pegajoso voar em seu rosto, um balde de tinta azul havia sido virado em cima dela.
Felipe e alguns amigos gargalhavam sem parar, Betina estancou, estava quase em choque. Uma das meninas pegou um rolo de papel higiênico e deu a volta nela, como uma serpentina. Betina não conseguiu se mover. O coro de risadas ecoava alto pela quadra.
— Você acha mesmo que a Elisa ia querer falar com você? — Felipe bradou, sardônico — Se enxerga, Botina!
Então era mentira? O bilhete era uma armação? Betina de repente entendeu tudo. Devia mesmo se pôr em seu lugar. Até parece que Elisa, linda daquele jeito, iria querer alguma coisa com ela, mesmo que fosse só amizade. Sentiu-se ainda mais humilhada com esse pensamento do que com a tinta escorrendo de forma vergonhosa em seu corpo.
Os cliques de fotos dos celulares a fez sair do transe, pôs as pernas para funcionar, tentou correr dali, mas o chão encharcado de tinta a fez escorregar. Caiu de joelhos. Uma nova onda de riso a atingiu em cheio. Lágrimas escorreram impunimente até caírem na mistura pegajosa e azul no chão. Levantou-se novamente e correu, dessa vez alcançou a porta sem olhar para trás.
Entrou no banheiro aos soluços, espantou-se ainda mais quando viu seu estado no espelho. Parecia "Carrie, a estranha", só que em azul. Lavou-se na pia o melhor que pode. Seus cabelos estavam grudentos e quase completamente no tom da tinta. Tirou o casaco imundo, arrancou o papel higiênico em volta de si e o usou para limpar a camisa, a calça jeans e as botas. Tremia de raiva e de tristeza. O choro descia compulsivo.
A porta do banheiro foi aberta, dando passagem a Elisa, porém, a loira se manteve inerte, a olhando com uma expressão estranha e com algo a mais que Betina não soube identificar. Com uma força interna, até então desconhecida, conseguiu se recompor, erguendo o corpo em toda a sua altura.
— A tinta saiu quase toda, se veio tirar mais fotos do sapatão chegou tarde! — avisou sem olhar para ela, não soube de onde tirou coragem para falar com Elisa desse jeito, a mágoa a guiava.
— Do que você está falando? Eu vim usar o banheiro. — a voz melodiosa soou confusa.
Betina desligou a torneira e se virou de frente para ela:
— Sabe o que eu queria te dizer hoje de manhã? Que você é linda e parece um anjo, mas só parece! — completou, com fúria — Seus olhos tão doces escondem um ser repugnante! Olha pra mim, Elisa! – apontou para sua roupa em estado crítico — Sou eu que estou suja, mas é você que da nojo!
E saiu do banheiro pisando fundo, soltando fogo pelas ventas, deixando uma Elisa atônita para trás.
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Minha Sina é Você - Degustação
FanficUma empresária milionária. Uma paixão avassaladora. Um reencontro anos depois. Betina Santana foi uma adolescente esquisita e desengonçada que sofria bullying. Decidida a mudar o curso de sua vida, agarrou com unhas e dentes a oportunidade de se tor...