Acordei quase na hora do almoço, com minha mãe chamando-me para ajuda-la.
Mais uma vez, amaldiçoo o dia em que nasci.
Peço mais cinco minutos e permaneço deitada fitando o nada, pensando em nada.
Fico assim até que minha mãe surta com minha demora e grita para que eu vá a ter com ela.
Cansada de a ouvir reclamar de ter de fazer tudo sozinha, levanto, me deparando com a mesma cena de todos os dias: minha mãe limpando a casa, minha irmã dormindo (no mesmo quarto que eu, camas diferentes) e meu pai assistindo desenhos, sem ajuda-la em nada.
Por mais que eu sempre falasse que meu pai deveria pelo menos limpar a bagunça que ele faz, já que é o que mais o faz, ela insiste em dizer que a mulher é a que tem que cuidar da casa, sendo submissa, assim, ao homem.
Foi mal, mamãe, mas eu jamais me deixarei ser tratada da maneira que meu pai te trata.
Minha mãe é ex-fumante, ex-alcoolatra, e, no passado, já transou com meu tio e um monte de outros caras, traindo assim meu pai.
Sabe, por mais que ela o tenha feito, eu não ligo, acho mais do que justo, já que a mesma era, e ainda é, tratada como lixo por meu progenitor.
Meu pai ainda fuma, mas já não bebe.
Minha mãe parou de beber assim que começou a frequentar a igreja do J.
Junto com o vício da bebida, largou o cigarro, que desde nova, mantinha seus vícios aos seus 28 anos.
Minha mãe, apesar de tudo, é muito importante para mim.
Voltando.
Fui ao banheiro realizar meus hábitos matinais e a ajudar.
Até aí, tudo certo, até o momento em que o gordo e idiota, mais conhecido como "meu pai", levantou da merda da cama dele e começou a tratar minha mãe como lixo, sendo que ela só estava preocupada com ele, pois ontem a noite ele havia caído e batido forte com as costas no chão.
Então minha vontade de morrer para não ter mais que presenciar tal cena, volta.
Ligo meu fone no máximo e ignoro tudo enquanto arrumo a cama de minha irmã mais nova.
Logo minha aparente indiferença se faz conhecida por minha mãe, assim que começo a trata-la de modo grosso, sem ser essa a minha intenção.
Me condeno eternamente por ser tão fraca e idiota.
Quando eu deveria estar ao lado da mesma, eu me viro contra ela.
Não é minha intenção, juro, mas sempre que me sinto mal, trato meus pais, minha irmã e todos que me amam de forma grossa e estúpida.
Dói muito saber que eu a machuco quando eu deveria estar cuidando dela e a ajudando.
Mas por mais que eu me sinta mal por o fazer, não consigo baixar minha guarda nem mesmo para lhe pedir desculpas.
Eu a culpava por ela não ter nem ligado para quando eu lhe falei do porquê de eu ter um canivete em minha mochila de escola (para, aparentemente, me cortar e acabar com minha vida), e ela não fez nada a não ser dizer que meninas de Deus não se sentem assim.
Bom, de qualquer modo, eu a entendo, ela não sabia como lidar comigo.
Tudo bem, eu posso suportar isso.
No almoço, pego uma colher de cada alimento preparado por minha mãe.
Ao terminar de comer, acabo por pegar mais uma colher de arroz.
Meu corpo logo processa a ideia de que vou ficar gorda, de que sou uma inútil, de que comi de mais, então corro para o banheiro, vomitando tudo o que havia comido, após escovar meus dentes, lavo a louça e me sinto mal.
Minha Bulimia havia voltado.
Eu não sabia como lidar com aquilo, então, apenas ignorei, como da última vez.
Volto a fazer minhas coisas.
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B.O.M.B
Non-FictionUma bomba. Era assim que eu me sentia. Não lembro quando, nem como, nem onde ou porquê, mas uma grande escuridão surgiu em algum lugar no meio de meu peito; meus sentimentos passaram a serem confusos e doentios, ansiando, até mesmo, por minha morte...