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Se tinha algo que eu mais queria fazer naquele momento era chorar. Rasgar as cortinas da carruagem, dar socos nas paredes da mesma e gritar o mais alto possível aos quatro cantos de toda Westminster, para tirar essa sensação horrível que tenho neste momento.

Toda guarda real e o exército britânico estavam em volta da elegante e luxuosa carruagem real, que era folheada a ouro. Para proteger a única monarca viva que tem idade suficiente para subir ao trono.

E ainda segurando o choro, olho para o lado de fora para ver o povo que claramente estavam contentes em testemunhar uma coração depois de 71 anos.

Talvez essa seja a primeira vez que vejo os ingleses felizes depois do Atentado de Buckingham, há 4 meses atrás. Não parecem as mesmas pessoas com expressões confusas e rabugentas que eu observava da janela do meu quarto há meses.

Minhas emoções estavam a mil naquele momento e se misturavam em raiva, tristeza, medo e cansaço. Tudo isso só servia de distração para o povo, que a pouco tempo presenciou onze monarcas morrerem, fora empregados e políticos.

Enquanto todos estavam felizes por verem uma coroação, meu psicológico estava sendo ferrado e esmurraçado por tentar garantir a minha segurança e a de Louise, evitar um escândalo com a mídia, manter o povo calmo, carregar o peso de minha família falecida e daqui algumas horas para fechar com chave ouro a coroa será colocada na minha cabeça e vai andar comigo até eu morrer.

-Sugiro que vossa alteza tome um pouco de água.- Martina dirige cuidadosamente um copo de água pra mim com seu olhar preocupado, aflita comigo. As minhas mãos se encontram trêmulas e meu rosto se encontrava mais pálido do que o normal. Até a pessoa mais lerda do mundo notaria que eu não estava bem.

Calada e evitando o contato visual, pego o copo e bebo rapidamente sem deixar uma única gota de água.

-Você precisa se acalmar, querida. Não pode chegar até a Abadia desse jeito. A imprensa cairá em cima se for apresentada assim para a coroação.

-Eu realmente não ligo se aquele bando de abutres vai cair em cima de mim.- Cuspo as palavras e fecho a cortina branca de seda que tampava a janela da carruagem.- A senhora sabe que tudo isso é um evento de aparências e que não devia ser eu a ocupar esse posição. Sabia que nessa altura do campeonato eu já teria abdicado minha posição de princesa e voado para longe da Inglaterra se tudo isso não tivesse acontecido.

-Eu sei minha criança, mas parece que o universo não quis assim.- Tina, se senta ao meu lado e estende o colar que eu ganhei antes do meu aniversário. Ela pede permissão para colocá-lo e eu permito- Você sabe de quem era esse cordão não?

-Da mamãe.- Suspiro ao lembrar de sua silueta tomando chá no jardim.

-Lembra das aulas de atuação que a mesma te dava?

-Sim...

-Tente a por em prática só por hoje, Scarlett.- Martina, delicadamente retira suas mãos do meu pescoço depois de colocar o colar e me vira em sua direção para beijar o topo da minha cabeça, me desejando sorte.

Ela é a figura materna mais próxima de mim desde que minha mãe morreu. E o beijo na testa dela para mim, significava boa sorte, uma aprovação e muita das vezes até uma benção.

Ela me abençoando, é a única certeza de que consigo sair com certa sanidade dessa coroação.

Após longos minutos de silêncio a carruagem é aberta e sou recebida por vários flash's, câmeras e vozes que eram tanto da imprensa quanto do povo.

O guarda real cujo o nome eu ainda não sabia e me ajudara há duas noites atrás, agora me estendia sua mão para me ajudar a sair do transporte e conduzir-me até a entrada oeste da Abadia. Ele me estende sua mão e seus olhos azuis vão de encontro ao meu de um jeito acolhedor, como se estivesse dizendo que vai ficar tudo bem e só precisasse segurar ela.

Queen of EnglandOnde histórias criam vida. Descubra agora