Dores

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Este capítulo contém gordofobia! Caso tenho algum problema psicológico em relação a isso, NÃO LEIA! Sua saúde em primeiro lugar!

De forma alguma quero incentivar as ações presentes, não concordo com esse tipo de ação e por favor, não as façam! Gordofobia é total e extremamente errado!

Boa leitura!

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Passado:

11 anos de idade

  Foi mais ou menos nessa idade que tudo começou a realmente mudar. Nós não parecíamos mais uma família, era como se tivesse se tornado um campo de guerra. Tudo, absolutamente tudo, que eu falava se tornava discussão.

  Por que tinha que ser assim?

  Algumas noites eu escutava meu pai gritar, outras eu não escutava nada além da minha respiração.

  Era sufocante, eu apenas não queria que fosse real. Doía demais para que eu pudesse assimilar ou entender.

  Meu pai se tornou o tipo de pessoa que eu nunca pensei que ele seria, agressivo, sem paciência, transtornado, entre outros adjetivos similares.

  Eu sentia medo dele quando começava a gritar, como se não houvesse amanhã. Medo por mim, pela minha mãe, do que iria/ poderia acontecer.

  Uma vez eu achei que ele iria quebrar a mesa da cozinha quando bateu tão forte nela que até minha mãe ficou com medo. 'Pra' ser sincera, acho que a mamãe também tinha medo dele mas nunca falou sobre isso e apenas ficava quieta.

  É normal? Esse medo, ele é normal?

  Por que ela nunca falava nada?

  Eu não consigo entender como as coisas se tornaram nisto, como a realidade passou a ser essa. Mas eu não gostava delas assim, nunca gostei.

  Eu tinha que engolir tudo. E, aparentemente, mamãe também.

  Foi mais ou menos nessa época que meu pai começou a me questionar coisas do tipo "vai comer isso tudo?", "mais um prato?", "Você não acha que está comendo demais?", até que um dia minha mãe respondeu que eu estava em fase de crescimento então era normal.

  Mas ele não ficou quieto, ele não podia não é? "Mas se ela continuar assim, vai engordar", foi a última coisa dita sobre aquele assunto.

  Não sabia onde ele queria chegar com isso, não fazia sentido. Mas na verdade eu apenas não tinha me dado conta de onde isso tudo iria dar e a que ponto isso poderia nos levar.

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Passado:

13 anos de idade

  Nesse momento eu já estava péssima, todos os dias meu pai batia nas coisas como se fosse quebrar a casa. Todos os dias era um comentário sobre o quanto eu comia, sobre meu peso, minha aparência.

  Ele sempre falava "Quando você tinha 6 anos era magra, obediente, minha companheira mas agora... está assim.", mas nunca parava por aí. Quem dera se parasse.

  Nessa época eu gostava muito de natação e me lembro até hoje de um dia em específico.

  Eu estava pronta para ir, meu pai não parecia estar muito bem humorado mas eu estava tão feliz que não percebi.

  Chegamos lá, tudo ocorreu normal. O problema foi quando estávamos indo embora, eu não esperava aquilo. Ele olhou para mim e disse "Você está engordando, está ficando feia! Terei uma conversa com a sua mãe, você não pode continuar assim!"

  Isso fazia alguns meses e ainda não conseguia entender, eu não estava feia, estava? Qual era o grande problema de engordar? Eu não conseguia ver o que ele via.

  Minha mãe decidiu, então, que faríamos uma viagem em um feriado, para tentar acalmar as coisas acredito. Acho que eu nunca me arrependi tanto das minhas escolhas como nessa viagem.

  Estávamos em uma loja quando eu vi um biquíni lindo e decidi experimentar. Escolhi do tamanho que eu usava, coloquei-o no provador e saí para meus pais verem. Meu pai não disse absolutamente nada, apenas saiu e minha mãe que era muito cavado para minha idade.

  Eu apenas concordei e devolvi pra vendedora, agradecendo. Foi a primeira vez que, mesmo querendo muito algo, aceitei fácil em não ter, mas acredito que isso foi apenas porque eu já tinha percebido em que pé meu pai estava.

  Quando estávamos no carro, ele falou as palavras que mais me marcaram pela minha curta vida.

"Você está gorda! Está comendo tanto que daqui a pouco estará explodindo na esquina de tão gorda!!!"

  Suas palavras foram como uma navalha no meu coração. Eu era apenas uma criança! Como pode fazer isso comigo? Como pode gritar aquilo para mim?

  A partir daí eu me tornei uma pessoa paranoica com o meu peso, passei a quase não comer e às vezes eu realmente não comia.

  Eu passei a viver em uma montanha russa, meu peso caia drasticamente, subia, descia... Eu chorava tanto por simples números e comecei a ter uma visão de mim mesma que não desejo que ninguém mais tenha de si próprio.

  Mas meu maior erro foi achar que não podia piorar.

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Olá, bom, segundo capítulo. Espero que tenham tido uma boa leitura e por favor, votem e comentem.

E se preparem para o próximo capítulo.

Era Uma Vez (𝑳𝒊𝒗𝒓𝒐 𝒖𝒎)Onde histórias criam vida. Descubra agora