Capítulo 3 - Não é correto

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Olá... hoje é dia de Pedro e Carol de novo 🤍

Pedro

Abril de 2002

Quase um mês de férias no Brasil com minha família, já estava de volta à Espanha, Barcelona, há cinco semanas, onde morava há mais de um ano.

Era difícil negar que, de alguma forma, a história de Caroline e sua filha Cecília tinha mexido comigo, por mais que eu quisesse deixar tudo isso para trás, não conseguia e essa minha incapacidade me incomodava. Elas eram duas crianças! Eu... um homem que tinha entrado nos trinta.

A imagem daquela jovem mulher, em situação de desespero com a filha, a força que buscava de seu interior quando a protegia... mas no fundo, era ela quem precisava de proteção. E era linda.

— Pedro, tengo una cinta con el director de tecnologia y necessito que vengas conmigo – pediu meu superior imediato.

Subimos até o andar da diretoria e aguardávamos uma das secretárias nos indicar em qual sala deveríamos nos apresentar.

Olhei para o lado, em direção à principal secretária, provavelmente a que cuidava da presidência, enquanto meu chefe pegava detalhes com a secretária da diretoria e senti o impacto daquela imagem. Era um porta-retratos, nele, a foto de Caroline com Cecília nos braços.

Por alguns segundos fiquei sem reação e quase não percebi que meu chefe me chamava para reunião.

Durante a noite, não fui capaz de dormir. Por que aquele episódio em minha vida me tirava tanto o sono?

Caroline era uma mulher linda, mas ao mesmo tempo uma criança. Sua personalidade de guardiã de sua cria, que dava a ela o tom de maturidade era traído por seu jeito dócil e frágil e aqueles expressivos olhos castanhos me tiravam a paz.

O que eu estava fazendo? Ela tinha apenas dezesseis anos, embora sua aparência fosse já de uma mulher madura.

Decidido a dar um jeito em meus pensamentos insanos, fui até a área da presidência no dia seguinte, eu estava errado, mas queria saber notícias, era quase como se eu precisasse saber mais sobre ela.

— Señora Rúbia? – arrisquei, ainda sem ter certeza de até onde chegaria.

— Si – respondeu aguardando que eu dissesse o que fazia ali.

— Pedro Zotti, del departamento de tecnologia – identifiquei-me ainda buscando formar o que eu deveria dizer na sequência, para não soar inconveniente.

— É você? – ela se antecipou em bom e claro português, depois apontou para o porta-retratos.

— Sim... – respirei fundo. Ela sabia.

— Carol me disse que foi socorrida por um funcionário daqui da empresa de nome Pedro, um brasileiro. Quando tentei encontrá-lo, soube que tinha voltado ao Brasil.

— Eu estava de férias... – relaxei a musculatura ao notar que a mãe de Carol se mostrava amistosa. — Perdoe-me se sou inconveniente, mas eu gostaria de ter notícias. Como elas estão?

— Ciça está ótima, temos tido todo o cuidado com sua alimentação. Aquele foi um susto muito grande para nós, não tenho palavras para agradecê-lo.

— Posso? – apontei para o porta-retratos e ao ver seu sinal afirmativo com a cabeça, peguei-o nas mãos. — Não há o que agradecer. Caroline estava desesperada, embaixo de chuva, sozinha, indefesa, eu precisava fazer alguma coisa. Como ela está?

Fiz a pergunta quase sem pensar, quando reparei o franzir de testa da senhora Rúbia e imediatamente devolvi o porta-retratos à mesa.

— Por que não vem à nossa casa no final de semana? Sexta-feira será o aniversário de Ciça, seu primeiro ano de vida, comemoraremos no sábado, serão poucos amigos, poderá fazer a pergunta diretamente à Carol.

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