Bang Bang Kiss Kiss // abo ( l.s )

Quebradiço

O garoto era miúdo. Tão alvo quanto à neve molhada que tivera a oportunidade de vislumbrar. Sua brancura era alvejada com lábios cor de sangue e fios escuros que se enrolavam sutilmente ao final da nuca. Transparecia inocência, com olhos singelos em sua curiosidade e mãos puras enquanto resvalava a palma sobre a bochecha de Louis. Definitivamente um pequeno ômega. As folhas secas zumbiram, quebradiças. A palma do menino era quente, tocando o molhado de sua pele com uma abelhudice marota.

- O que pensa que está fazendo? – Louis agarrou o pulso afilado fortemente. Era tão quente, a pele macia e alva contrastando com o rude e moreno de seu corpo pequeno e maltratado. O toque parecia estranhamente familiar e Louis recusou-se a libertar o pulso do garoto. Seus olhos julgadores fixos aos verdes arregalados.

- E-eu... – O pequeno vacilava em suas palavras. A brisa soprava ferozmente, o bosque verde sacolejava em um cântico conjunto das folhas frágeis enquanto os cachos moviam-se feito um moinho envolto da face miúda. – Eu trouxe maças... – O garoto suspendeu a bacia recheada de vermelhuscas maças frescas, o estômago de Louis ruindo com a imagem apetitosa. Louis largou o pulso afilado, notando o vermelho de seus dedos cravados na pele pálida. Ele fixou seu olhar na bacia volumosa e sua barriga roncou, fazia um certo tempo em que comera algo de verdade, os pães velhos e mofados que tinha furtado da cozinha do senhor James sequer poderiam comparar-se com as maçãs brilhantes. Louis estendeu a mão para a bacia, seus olhos não notando o sorriso genuíno largando os lábios do pequeno cacheado. Louis parou, sua mão suspensa no ar enquanto percebia que não conhecia o garoto, não conhecia sua origem e muito menos a veracidade de suas intenções.

- Não quero saber das suas malditas maças. – Louis gritou, jogando sua mão com força sobre a bacia cheia, as maçãs vermelhuscas sendo espalhadas por todo o chão. – Por que não me deixa em paz? Pegue sua bacia asquerosa e saia daqui! – O garoto encarou-lhe estático, as formosas maçãs rolando ao lado de seu corpo curvado enquanto o vento feroz serpenteava por entre os cachos revoltos.

- Você não pode fazer isso! – O garoto gritou. – Você não pode tratar mal pessoas que te tratam bem. - O cacheado encarou-o com irritação em seus olhos luminosos, fazendo com que Louis perdesse o som das palavras pela inesperada reação. Louis engoliu seco, o módulo preso em sua garganta enquanto vislumbrava a inocência de uma criança bondosa.

- E você pensa que alguém se importa em retribuir algo? Todos são como abutres, apenas esperando que você morra e apodreça. – Louis gritou, os lábios trêmulos enquanto suas unhas sujas fincavam na terra áspera do solo verde.

– Não me importo com isso. Todos devem fazer sua parte. Agora pegue a maça e coma! Meus ouvidinhos doem com o barulho da sua barriga! – Louis suspirou fortemente, os olhos fixos nos olhos compadecidos do miúdo ômega. Ele poderia hesitar. Poderia apenas virar-se ir embora a procura de algum outro lugar para passar a noite em segurança. Mas a fome era feroz e selvagem, fazendo com seu alfa interior tremelicasse sob seu peito.

Louis inesperadamente envolveu a fruta e levou aos lábios ressequidos, o sabor deslizando por sua língua e a suculência fazendo-o gemer. Faziam dias em que não provara alimento tão bom. Ele elevou os olhos para a face de anjo do garoto miúdo, seus olhos demonstravam satisfação banhada a assombro.

- Cristo, você estava realmente faminto. – O garoto divagou, suas mãos pequenas vasculhando a bolsa quase maior que seu torso para logo tirar um frasco com um liquido beirando ao transparente. – Eu trouxe limonada. - O cacheado devaneou, suspendendo a garrafa frente ao rosto de Louis enquanto esperava a aceitação dele. – Eu mesmo que fiz! A senhorita Mabel sempre diz que é a melhor limonada que ela já provou, tenho certeza que também irá gostar.