Prólogo

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- Você tem que a segurar assim. – As mãos robustas do homem envolveram os dedos afilados do garoto pequeno. A miúda palma de Louis deslizando pelo cabo gélido da adaga cortante. Olhos largamente azulados resplandeciam frente ao objeto metálico, a adoração sublime desenhada em suas orbes e a excitação transparecendo em suas mãos agitadas.

O homem a sua frente era esbelto. Com o grisalho de seus fios esvoaçantes sorriu em seus olhos ardilosos, as rugas escancaradas mostravam-lhe indícios de uma vida conhecedora de mundos. – Ela era de sua mãe. – Falou. Sua voz grossa tornando-se melancólica enquanto abaixava-se a altura de seu filho. - Uma adaga não feita foi para que qualquer um a possua, sua aparência sutil faz com que algumas pessoas pensem que é um objeto simples de ser manuseado. – Os olhos azulados fitavam o homem a frente de si atentamente. Fixo em cada palavra ao que segurava a miúda faca em seus dedos.

Louis encarou maravilhado. A adaga encorpada parecia grande demais para suas mãos miúdas. O cabo amadeirado avantajado sendo acariciado por seus dedos curiosos enquanto o aço cortante reluzia em seus olhos aturdidos. Sentia-se feliz, seus olhos azulados radiantes ao que vislumbrava a feição serena do homem próximo a si. Quente. Suave. Afetuoso.

– Entenda meu filho. Entenda o poder que ela tem e não a deixe de lado por nada. A vida pode fazer de você um saco de pancadas e, eu sei que irá chorar e gritar, você irá fazer isso porque pessoas fortes fazem isso o tempo todo, elas choram. Não deixem que subjuguem você. Entenda, não é preciso viver muito para entender o mundo, logo será um alfa crescido, então proteja sempre sua irmã sempre.

- Papai. – Louis sussurrou. O metal grosso pesado em suas mãos. As palavras de seu pai eram fortes. Afiada como a adaga cortante e afetuosa em cada letra deslizada por seus lábios. Olhou para o lado, a figura sossegada de sua irmã era quente, confortavelmente fraterno e terno. – Você é tão corajoso. – Ela sussurrou em seu ouvido, deixando que um sorriso puro transbordasse em sua boca.

- Escute, pequeno Louis. – A voz densa sobressaiu a voz miúda, as palmas pesadas das mãos fartas pesando em seus ombros pequenos. – Esse mundo é cruel, você não pode ser ingênuo, não seja descuidado, não confie em sorrisos que pareçam bondosos demais e não hesite em se defender ou atacar quando necessário! Você me ouve? – Indagou. Os olhos gélidos sublinhando sua face serena. – Nessa terra, nesse mundo em que nasceu é uma eterna luta de monstros, ou você ataca ou é atacado, ou você fere ou é ferido, ou você é o predador ou é a presa. Você é meu filho, você nunca seria uma presa, meu sangue corre em suas veias.

Louis o encarou. Não era a forma como as pálpebras grossas cobriam a angústia fria dos olhos opacos, a dor insistente sendo substituída lentamente por um brilho honroso aos olhos fadigados. Seu pai era forte e corpulento como um verdadeiro Alfa. Marcas vivas rastejavam por sua pele dourada ao longo de suas costas desnudas, marcando-o, subjugando-o, lembrando-o a cada mísero minuto de suas escolhas furtivas e fracassadas enquanto a esperança titubeava em seus lábios conhecedores. Louis o adorava, o achava intrigante. O via como um poço perpétuo de respeito e adoração. Um homem viril, doce quando indagado por suas crias e feroz quando ameaçado. Louis entendia. Conhecia como a palma de sua miúda mão os olhares oscilantes de seu pai, as palavras severas que flutuavam tão naturalmente por aquela boca experta.

- Não deixe que pisem em vocês e se tentarem, criem espinhos em suas costas e firam eles primeiro. – O homem suspirou, seus braços longos envolvendo os corpos miúdos em um abraço quente. –Obedeça a sua irmã e se protejam. Sejam crias fortes.

...

A brisa melancólica serpenteava lentamente por entre as folhas secas dos galhos quebradiços, o zumbido insistentemente irritadiço cutucava a vidraça da janela gélida do pequeno quarto aquecido. Os cobertores remexiam-se inquietamente. Pequenos dedos enrolavam-se sobre as cobertas grossas enquanto os fios castanhos surgiam debaixo do afofado aglomerado. Louis sentou-se ao meio da cama, seus olhos inchados pelas poucas horas de sono tinham dificuldade para observar as extremidades do pequeno cômodo. Louis bocejou, envolvendo o cobertor macio sobre si enquanto deslizava para fora do colchão.

Bang Bang Kiss Kiss // abo ( l.s )Where stories live. Discover now