Capítulo 10 - Conversas Sérias

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—você está aqui a muito tempo?

Não sei dizer ao certo.

Acaba que essa viagem está sendo a maior frustração da minha vida.

Não sabia o que era pior quando desci, os olhares cheios de acusação ou o fato da Luana me ver e virar a cara para mim, por uns instantes fiquei presa a um medo assustador que me deixou a beira do desespero, não me senti bem por isso eu sai caminhando pela praia sem destino, chorei muito em pensar que ela já sabe da verdade, não tenho cara para voltar para aquela casa e ter que ver aquelas pessoas me olhando como se eu fosse uma marginal, minha filha consciente de que eu sou uma puta.

—eu conversei com ela...

—não importa—digo—eu posso ir embora agora? Poderia me arrumar uma lancha para eu voltar pro Rio?

—já está anoitecendo.

—eu não tenho medo.

—não é questão de ter medo, não tenho ninguém que te leve.

Olho para o mar.

Não deveria me sentir assim, mas é humilhante saber que agora minha filha irá passar essa vergonha por minha culpa, alguém naquela casa sabe sobre mim e eu não faço ideia de como descobriram, ainda mais as amigas dela que são na maioria ricas, qual interesse delas na minha vida privada?

Queria que a Luana não tivesse que passar por isso, sei que para ela é uma grande vergonha.

O pai de Rex se senta ao meu lado na areia, ele está olhando para o horizonte também, o sol ali diante se põe, limpo as minhas faces desejando que ele não estivesse aqui para me ver assim.

—eu sinto muito que ela tenha sabido dessa forma—Valentin tem o sotaque forte e torto—quero saber se está disposta a vir para Alemanha conosco.

—não—a minha resposta não muda—agora é que não me resta nenhuma chance de ir.

E só pela cara ele não fica surpreso, mesmo assim não gosta.

—a Luana terá toda a assistência lá, você também, pode arrumar outro emprego, eu mesmo posso arrumar outro emprego para você...

—que emprego seu Valentin?—corto chorosa—que emprego uma puta que não tem nem a quinta série direito pode ter? eu não tenho estudo nenhum na vida.

—sei que podemos resolver isso com paciência—continua calmo.

—eu não quero ir.

—você está fazendo pirraça com o Rex porque a Luana ficou grávida, não acha que deveria ser mais madura?

Agora fico ainda mais irritada com essa acusação vinda em forma de pergunta.

—madura? O senhor por algum acaso sabe tudo o que eu passei na vida para criar ela? E para que? Para ela transar com um completo estranho e pegar uma barriga logo na primeira vez?

—isso não tem a ver com as suas escolhas.

—e porque eu tenho que ir se foram as escolhas dela?

—ela não vai sem você e o Rex não pode ficar, temos nossa vida lá.

—e eu tenho a minha vida aqui.

—que grande vida não é? trabalhando de prostituta, grande carreira a sua, quantos anos já no emprego? Tem previsão de promoção?

Me levanto, não disposta a discutir.

—você não pode agir assim Nael, você por algum acaso está pensando nessa criança?

E quem esse homem pensa que é para me cobrir de exigências?

—eu estou pensando em muitas coisas seu Valentin e uma delas é que essa criança não é um problema meu, eu não mandei ela engravidar, mandei?

Seu olhar é de pura reprovação, tento não me importar com isso.

—sei que está brava, eu também fiquei, mas eles precisam de nós dois, unidos, para apoiar ambos nesse momento, o Rex não para de chorar.

—ah não me diga que o filhinho do papai não para de chorar?

—por mais que você ache que ele é mimado, ele não é, ele é um rapaz responsável e gosta dela, ele não quer que o bebê cresça longe dele, eu garanto que vocês duas ficarão seguras e bem, podem morar no mesmo prédio que eu moro com o Rex, terá um bom apartamento e não vai faltar nada para ambas e para o bebê.

Respirando fundo me viro, o pai de Rex está diante de mim, sério, os olhos chamativos e intensos me encarando.

—por favor, não faça isso com os nossos filhos, eu tenho certeza de que podemos encontrar uma solução melhor do que vocês ficarem aqui.

Não há uma saída que não convém para a família do Rex.

Mas é curioso porque o pai dele parece quase desesperado em me fazer este último pedido, como se suplicasse.

—pense bem nesse bebê Nael, na sua filha.

—isso não vai fazer com que eu fique com a consciência pesada, se é isso o que está tentando, eu não posso mudar a minha vida assim do dia para a noite só porque o seu filho não sabe usar uma camisinha direito—determino—e tem mais, eu sou muito madura para sua informação.

Saio pisando forte, me afastando, zangada com essa conversa.

—isso mesmo, foge, você está se saindo uma excelente mãe, muito apoiadora da sua filha.

Ignoro totalmente.

Sei que agora a única forma de tentar resolver isso é engolindo minha vergonha e conversando com a Luana, deixar as coisas claras e ponto, mas eu é que não vou para a Alemanha.

Ah isso não!




com o isolamento está difícil escrever, peço paciência, deixa aquela estrelinha se curte o livro.

Garota de LuxoOnde histórias criam vida. Descubra agora