Capítulo 4

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"Confusão é o nome que inventámos para uma ordem que não compreendemos."
Henry Valentine Miller

Sexta-feira, 6:46 (3 meses depois)
Ariana

   Não sei se você sabe, mas Washington DC fica as margens do Rio Potomac, ou Rio da Nação como as pessoas que aqui habitam costumam chamar. Eu pessoalmente gosto mais do primeiro nome, é nativo americano e significa "aquilo que nos é entregue". A minha vida toda eu costumo pensar que esse foi o meu lema, aceitar tudo que o universo decidia "jogar" pra mim.
   A morte dos meus pais, as mudanças que tive que fazer, a criação dos meninos, tudo isso que o universo mandou eu nunca considerei um karma, agora a minha "família", se for um karma gostaria de saber o que de tão grave eu fiz para que o universo me entregasse essas pessoas, principalmente as que estão na minha frente nesse exato momento.
   Finalmente paro de encara-los e aceito que terei que atender esses que estão no leito 3, pego o prontuário e vejo que se trata do adolescente, leio a queixa: dor de cabeça "com pais como esses a causa deve ser o tanto de merda que falam" rio sozinha e vou em direção à família

     -Bom dia, eu sou a Dra Bennett e irei atende-los hoje- digo rezando mentalmente para que não me reconheçam, de primeira parece funcionar -Noah, certo? Noah Gluck- sorri para ele mas o mesmo me olhava com terror

     -Matilda?- o homem falou e a raiva subiu, como ele ousava me chamar assim

     -Não me chame assim, voce não tem esse direito!- falei ríspida mesmo que baixo, não queria um escândalo no meu local de trabalho

     -Como assim não tenho esse direito, você é minha...

      -Nada! Eu não sou nada sua! Na verdade, no momento eu sou médica do Noah!- falei encarando seus olhos azuis "poderiam ser os olhos do meu pai"

     -Olhe como fala comigo, garota!- ele estava aumentando o tom de voz

     -Ben...- era a voz de Elizabeth e eu gelo "não, não, não, não!"

     -Não comece Elizabeth!- agora ele estava gritando -O meu assunto é entre essa impura e eu!

   Ele não me chamou disso! Eu estava quase para ir pra cima dele quando um segurança chegou e falou que iria acompanhar Benjamin para esperar lá fora. Confesso que respirei aliviada por ele confirmar e sair dizendo apenas que esperaria a família no carro. Benjamin Gluck pode ser o pior dos seres humanos, porém gostava de manter as aparências que era um cidadão de bem.
   Olhei para as figuras remanescentes, Noah estava pálido mas me olhava com um sorriso, Elizabeth estava com a cabeça baixa e só então notei Hannah encolhida ao lado de Elizabeth fazendo carinho no braço da mais velha.

     -Hannah, leve sua mãe para comer alguma coisa na cafeteria- falei para a garota que me olhou sorrindo enquanto lhe dava o meu crachá -coloca na minha conta e pega alguma coisa gostosa pra você e pro Noah- finalizei piscando e sorrindo para a garota, ela devia ter 12 anos agora

     -Você não precisa- Elizabeth falou fraco

     -Eu sei- sorri pra ela

   Relutante a mulher se distanciou e notei que com isso as atenções desviaram de nós, o que me permitiu voltar as atenções ao adolescente em minha frente

     -Então, dor de cabeça?- questionei enquanto começava o exame físico

     -É... não consegui uma desculpa melhor para distraí-lo...- o garoto falou envergonhado

     -Ele bateu nelas?- perguntei sentindo a raiva subir, se ele tocou em uma das duas

     -Não, você sabe que humilhação e terror psicológico são as ferramentas favoritas de Benjamin Gluck Ari!- ele falou agora sério enquanto eu ainda inspecionava o seu corpo em busca de hematomas -Eles não deixam marcas visíveis e são melhores para o controle- o garoto suspirou cansado, ele estava diferente mas ainda tinha os traços de criança -Menos com você... por isso sempre te odiou...- o garoto terminou divertido

Neighbors || Criminal MindsOnde histórias criam vida. Descubra agora