01. freedom bubble up like pink champagne

123 12 0
                                    

O SOL JÁ ESTAVA alto no céu de Londres, crianças corriam pelo vasto gramado do sobrado do padrasto de Winnie e os adultos conversavam polidamente enquanto compartilhavam de taças de champanhe caro

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O SOL JÁ ESTAVA alto no céu de Londres, crianças corriam pelo vasto gramado do sobrado do padrasto de Winnie e os adultos conversavam polidamente enquanto compartilhavam de taças de champanhe caro.

A garota de cabelos rosados ainda encontrava-se em seu quarto, as costas apoiadas na cama enquanto fitava, de cabeça para baixo, a parede coberta por desenhos finalizados ou incompletos, de seu quarto. Ela tentava memorizar cada detalhe, afinal apesar das péssimas experiências com a mãe e padrasto, aquele quarto fora seu refúgio por muito tempo.

Com um suspiro final, um ultimato, ela pôs-se de pé, enfiando os braços em sua jaqueta de couro preta com um desenho de asas nas costas. Fiona implicava com a peça de roupa desde o dia em que Winnie retornara para casa com a aquisição, após passar em uma feira de itens usados. O couro escuro criava grave contraste com o rosa e tule do vestido que usava, a Agnew se parecia com algum tipo de princesa punk naquelas roupas.

A irlandesa arrumou a gola da jaqueta na frente do espelho e passou a alça da bolsa de ginástica pelo ombro ossudo. Havia metido algumas mudas de roupa, livros e seus discos e fitas favoritos, além de outras coisas que compunham o básico da higiene. Seus coturnos novinhos, a tinta de cabelo que havia comprado na farmácia na semana anterior e ainda não tivera tempo de retocar, um pote de azeitonas vazio com todo o dinheiro que conseguira esconder graças a seus trabalhos como babá dos filhos das amigas de sua mãe e seu walkman.

Rezava para que não estivesse se esquecendo de nada e encarou novamente o quarto a sua volta. Alguns dos posters que cobriam as paredes também haviam arrumado um lugar em sua mala improvisada. Abandonar seu velho violão recostado em uma das quinas das paredes foi uma decisão difícil, mas Winnie sabia que o objeto pesado de nada a ajudaria, poderia comprar outro quando finalmente estivesse morando com sua avó.

A garota de cabelos rosados tocou o topo da polaroid pendurada no pescoço enquanto descia as escadas do sobrado, eram luxuosas como todo o resto. Tentava ao máximo ser discreta e evitar barulho ou chamar a atenção, tanto que seu plano incluía uma escapada pela cozinha na saída dos fundos, onde nenhum convidado muito bêbado pudesse flagra-la. E por falar em bêbado, Agnew precisava de uma dose de álcool no sangue.

Passando por entre os funcionários vestidos de branco que fingiram não se importar com sua presença, Winnie surrupiou uma garrafa pequena de champanhe apoiada em uma bancada de mármore. Não estava muito gelada, mas para ela isso não tinha importância. Sacou a rolha como quem já tinha muita habilidade e inclinou a garrafa nos lábios logo após a espuma escorrer e escapar, dando uma golada no álcool refinado que sua mãe exigia servir em todas as ocasiões. A bebida era delicada e desceu como uma ilustração metafórica de estrelas, borbulhando por todo o trajeto.

Não era o suficiente para ficar bêbada, apenas para criar coragem de prosseguir com seu plano, estava tão perto afinal. Secando o canto da boca com o dorso da mão, Winnie respirou fundo e finalmente saiu da enorme propriedade de seu padrasto, tinha deixado a garrafa para trás após mais alguns goles, ainda meio cheia, mas após dois ou três passos, decidiu que seria melhor levá-la consigo.

Winnie não se consideraria uma alcoólatra precoce, bebia apenas em momentos em que as coisas pareciam pesadas demais para suportar, o que ela admitia que acontecia com certa frequência. Por vezes sua única companhia durante a noite fora a garrafa de vodka cuidadosamente escondida debaixo de sua cama e a vitrola que tocava baixinho.

Com passos trôpegos e a garrafa pendurada em uma das mãos, a garota deu início à sua caminhada em direção à estação de trem. Passara a semana inteira conferindo os horários dos trens para Liverpool, ansiosa e ao mesmo tempo aliviada por finalmente estar tomando tal atitude. Seus pés se embaralharam e seu corpo tombou para o lado, mal de mantendo em pé, uma mistura do álcool com a inebriante sensação da liberdade.

Ajeitando a postura, Winnie correu a mão pelo rosto longo e cabelos rosados, tentando se recompor antes de mais um suspiro profundo. Continuando a seguir seu caminho, agora com passadas regulares e mais estáveis, cheias de determinação. Naquele primeiro de setembro ela finalmente sentia que poderia ser feliz, sem todo o rancor que sua mãe despejava em seus ombros, sem os olhares de nojo que os filhos de seu padrasto a lançavam sempre que faziam uma visita durante as férias no internato francês para o qual o homem os havia despachado. Não teria mais amarras que a prendessem a sua antiga rotina.

O barulho dos trens a vapor, crianças correndo e gritando, conversas familiares e despedidas melancólicas inundavam a estação de Londres naquela manhã

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O barulho dos trens a vapor, crianças correndo e gritando, conversas familiares e despedidas melancólicas inundavam a estação de Londres naquela manhã. O grande relógio da estação marcava a hora: 10:44, já havia comprado sua passagem para Liverpool, seu embarque seria às 13h em ponto, teria bastante tempo para matar enquanto esperava pela chegada do transporte.

Enquanto isso sentou-se em um dos bancos desocupados, ainda meio tonta pela garrafa de champanhe, que havia sido abandonada pela metade atrás do arbusto enfrente a alguma casa no caminho da estação. Seu estômago roncava, então tirou da bolsa um pacote de batatinhas que havia guardado para enganar a fome em casos como aquele. Estava prestes a mordiscar seu primeiro pedaço, quando uma cabeleira ruiva apressada passou por ela como um tufão.

A jovem de cabelos cor de fogo esbarrava em todas as pessoas presentes na estação, enquanto arrastava um pesado malão e murmurava insultos para si mesma. Ao finalmente erguer a cabeça e ajeitar os fios que caiam como uma cortina sobre seu rosto vermelho de estresse, Winnie conseguiu observar melhor os traço delicados da feição irritada da menina, levando apenas alguns segundos para reconhece-lá como Elouise Mason.

A mesma havia sido sua vizinha desde quando ela e a mãe se mudaram pra a casa do padrasto, mas nunca tiveram a oportunidade de conversarem, pois Mason sumia durante todo o ano letivo e quando retornava para casa no Natal, nem ela nem os pais colocavam seus pés para fora do imponente sobrado em que moravam. Era no mínimo algo estranho, peculiar e que havia despertado a curiosidade de Winnie ao longo dos anos.

Continuando a encarar Elouise, a jovem de cabelos rosados notou quando a mesma deixou cair uma bolsinha do tamanho de um punho que parecia cheia e pesada, mal sentindo falta do pertence devido a sua óbvia pressa. Deixando de lado suas batatinhas, Agnew tratou de agarrar a bolsinha de pano, antes que alguém o fizesse; abrindo um pouco a boca de linho da sacola pode ver que a mesma estava recheada com pesadas moedas de ouro que tilintavam ao entrar em contato uma com a outra.

Com os olhos e boca arregalados, Winnie não pensou duas vezes antes de seguir Elouise, correndo por entre as pessoas da estação. Era impressionante como a ruiva conseguia se mover com tanta rapidez e por vezes Winnie a perdeu na multidão por uns segundos, antes de tornar a encontrá-la.

Quando a mesma finalmente resolveu parar e a irlandesa preparava-se para devolver o que lhe pertencia; após olhar para os dois lados por segurança e protocolo, Elouise desapareceu, engolida pela parede de tijolos que sinalizava o número da plataforma em que se encontravam, deixando a jovem de cabelos coloridos estática, parada no meio da estação enquanto tentava processar o que havia acabado de acontecer com sua vizinha.

platform 9¾ ────── the maraudersOnde histórias criam vida. Descubra agora