Capítulo 1-O Começo de Tudo

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16 de outubro de 2004

Era uma noite fria de Outono, caía neve no exterior mas ouvia-se o som satisfatório da madeira a estalar numa pequena lareira interior. Sob as chamas havia uma chaleira, essa chaleira deitava fumo e fazia um guincho, um pouco irritante, mas ajudava a abafar os gritos de fundo.

-Já falta pouco minha senhora... só mais um último esforço - quem falava era um homem com máscara, médico da aldeia em que se encontravam, estava de frente para uma mulher que estava a ter os seus filhos, o homem tinha orelhas e cauda fofas, características de um lobo, as presas na sua boca esboçavam um sorriso ao ver a cabeça do primeiro bebé emergir.

A mulher continuava com gritos de sofrimento e esforço. O primeiro bebé saiu, estava sujo de sangue e líquido da placenta e chorava, o médico voltou a sorrir e pegou no bebé, a mulher suspirou ofegante enquanto deixava descair a cabeça na cama. Depois de dar banho ao pequeno bebé, com olhos de cor cinzenta e orelhas, cabelo e cauda de cores similares que se tinham destacado após ser limpo, este foi deitado sobre um pequeno berço enrolado numa manta de algodão azul clara, o bebé já não chorava, simplesmente dormia confortado pela pequena manta. O médico voltou a dirigir-se à mulher.

-O primeiro já foi... já só falta o outro - a mulher ergueu a cabeça e suspirou, os seus olhos estavam banhados em lágrimas mas conseguiu deixar um sorriso ao ver a cabeça do filho deitada no berço em que estava.

-Vamos a isto então... - a mulher fechou os olhos e serrou os dentes, os gritos voltaram e poucos minutos depois emergiu mais uma cabeça, a criança não chorava, estava quieta e não se mexia, o homem parecia preocupado.

-E.. Ela não respira... - disse em pânico, assim que o corpo se soltou, verificou se era mesmo verdade, aproximou o rosto suado do peito da criança e os seus olhos diminuiram, levantou o rosto e ergueu a cabeça, a mãe olhava-o com o corpo a tremer e os olhos molhados pelas lágrimas. O médico sorriu.

-Ela está a respirar... - fez uma pausa - É estranho... normalmente os bebés não nascem a respirar por não estarem habituados ao meio... e precisam do primeiro impulso, no caso costuma ser o choro.. Esta menina nasceu a respirar... como se tivesse a memória na sua cabeça.

Com toda a cena, ninguém se tinha apercebido de que uma multidão se formava à porta, todos tentavam espreitar para dentro com a intenção de ver os bebés, entre eles destacava-se um homem que empurrava todos e tentava entrar, após múltiplos gritos e reclamações o homem conseguiu entrar pela porta e dirigiu-se até à mulher, beijando-a assim que a conseguiu alcançar.

-Conseguiste amor... - ele sorriu, tinha os olhos carregados de lágrimas e olhava a mulher que estava ofegante e com os olhos igualmente molhados. Os dois esboçaram mais um beijo e encostaram as testas, permanecendo assim por alguns momentos.

O médico voltara, tinha a bebé nos braços, tremia e olhava assustado para a mulher, esta devolveu o olhar sem entender o que estava a acontecer e rapidamente o marido a imitou.

-Doutor... passa-se alguma coisa? - perguntou o homem com a voz a momentos de falhar.

-Sim... - ele virou a bebé para os pais e ao olhá-la os dois soltaram gemidos assustados, ficando paralisados na posição em que estavam, a mulher finalmente conseguiu levar a mão à boca, mas esta tremia-lhe. A chaleira que ainda estava sob o lume, produziu um som parecido com uma explosão e depois o som desapareceu.

-A..Aquela marca... - começou o homem que falava com muitas dificuldades enquanto erguia a mão tremida na direcção da bochecha da menina - N.. Não é só um p.. pouco sujo?

O médico acenou com a cabeça lentamente em sinal de negação, de seguida levou o polegar até a bochecha da criança e esgregou-o com delicadeza, de modo a mostrar que não era sujidade e sim uma marca, certamente uma marca.

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⏰ Última atualização: May 17, 2020 ⏰

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