MAYA
Minha chave emperra na fechadura de novo. Solto um palavrão e dou um chute na porta, como sempre. No momento em que saio do sol do fim de tarde para o corredor escuro, sinto que as coisas já estão meio fora dos eixos. Como previsto, a sala está um caos – sacos de batatas fritas, mochilas de livros, cartas da escola e deveres de casa abandonados por todo o carpete. Kit está comendo sucrilhos direto da caixa, de vez em quando tentando acertar um na boca aberta de Willa do outro lado da sala.
– Maya, Maya, olha só o que o Kit sabe fazer! – avisa Willa, excitada, enquanto penduro o blazer e a gravata no cabideiro. – Ele acerta os sucrilhos na minha boca mesmo de longe!
Apesar da sujeirada de sucrilhos pisados no chão, não posso deixar de sorrir. Minha irmãzinha é a menina de cinco anos mais fofa do mundo. As bochechas com covinhas, coradas de esforço, ainda são rechonchudas como as de um bebê, o rostinho iluminado por uma doce inocência. Desde que perdeu os dentes da frente, ela pegou a mania de enfiar a ponta da língua no espaço quando sorri. Os cabelos louros batem na cintura, finos e lisos como fios de ouro, a cor combinando com os brinquinhos nas orelhas furadas. Por baixo da franja que cresceu demais, seus olhos grandes exibem uma expressão permanente de susto, da cor das águas profundas. Ela já trocou o uniforme por um vestidinho de verão cor-de-rosa, com uma estampa floral, no momento o seu favorito, e está pulando de um pé para o outro, adorando as palhaçadas do irmão adolescente.
Olho para Kit com um sorriso.
– Pelo visto, vocês dois tiveram uma tarde muito produtiva. Espero que ainda lembrem onde fica o aspirador de pó.
Kit responde atirando um punhado de sucrilhos na direção de Willa. Por um momento chego a pensar que vai me ignorar, mas então ele declara:
– Não é um jogo, é um exercício de pontaria. Mamãe não liga, ela saiu com o Amante Garotão de novo, e quando chegar em casa vai estar chumbada demais pra notar.
Abro a boca para repreender Kit pelo linguajar, mas Willa lhe dá corda, e vendo que ele não está aborrecido nem se queixando, decido fazer vista grossa e me jogo no sofá. Meu irmão de treze anos mudou muito nos últimos meses: um crescimento súbito durante o verão acentuou seu tipo já longilíneo, os cabelos louros foram tosados para destacar o brilhantinho falso que usa na orelha, e os olhos cor de mel endureceram. Alguma coisa no seu jeito também mudou. A criança ainda está lá, mas enterrada sob uma dureza inédita: a mudança nos olhos, o queixo desafiador, a risada agressiva e sem humor, tudo isso lhe confere um ar estranho, hostil. Mesmo assim, durante breves momentos espontâneos como esse, quando ele está apenas se divertindo, a máscara escorrega um pouco, e posso ver meu irmão de novo.
– Lochan vai fazer o jantar hoje? – pergunto.
– É óbvio.
– Jantar… – A mão de Willa corre à boca, alarmada. – Lochie já chamou a gente e disse que não ia chamar de novo.
– Ele estava blefando… – Kit tenta interceptar Willa, mas ela já disparou pelo corredor em direção à cozinha, sempre ansiosa para agradar. Sento direito no sofá, bocejando, e Kit começa a atirar sucrilhos na minha testa.
– Não faz isso. É só o que a gente tem para o café da manhã, e duvido que você queira comer esses que caíram no chão. – Levanto do sofá. – Vamos lá. Vamos ver o que Lochan fez para o jantar.
– Aquela porcaria de espaguete de novo… Quando é que ele faz outra coisa? – Kit atira a caixa de sucrilhos aberta na poltrona, entornando metade do conteúdo nas almofadas, seu bom humor evaporando em um segundo.
– De repente, você poderia aprender a cozinhar. Aí nós três poderíamos nos revezar.
Kit me lança um olhar de desprezo e passa à minha frente, entrando na cozinha com um andar arrogante.

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Proibido
RomansaProibido - Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza, o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há anos, e só uma pessoa...