Capítulo 2 - O Passado

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Em um suspiro a garota retirou os sapatos que a tempos vinha a incomodando, a sensação dolorida fez-se presente quando as plantas dos pés de Emma entraram em contato com o pequeno tapete. O sol de início da manhã esquentava as costas desnudas devido à pequena blusa que trajava, levou a mão direita em direção a maçaneta e a girou. A casa mantinha-se em silêncio, sendo esse apenas quebrado pelo cheiro de manteiga derretida. A passos calmos e silenciosos a menina se direcionou ao segundo andar, sendo surpreendida no meio do caminho.

- Onde você estava? – A voz acusativa de Elena esbravejava logo atrás.

Em um sobressalto, Emma leva uma das mãos ao peito, onde o coração encontrava-se acelerado, fora pega de surpresa pela aparição de sua mãe.

- Eu saí – Mordeu o lábio inferior soltando-o ao pensar em uma desculpa - Noah pediu para que eu o encontrasse no Newport Natural – Retirou a mão do peito soltando-a na lateral do corpo, a cafeteria preferida de seu amigo fora a resposta perfeita.

As orbes azuladas examinaram a filha minuciosamente; estudando-a, parando apenas ao encontrar aos mãos da jovem que ainda encontravam-se amarronzadas pela terra seca. No mesmo instante as sobrancelhas de Elena foram erguidas, um vinco formou-se em sua testa, agora não teria escapatória, não existia mentira que encobrisse tal situação.

- Podemos falar sobre isso depois? Prometo explicar o motivo – Emma referiu-se as mãos sujas. Sua mãe afirmou sutilmente, a expressão visivelmente mais calma.

Subindo os degraus de dois em dois, Emma pensava em uma desculpa que não soasse tão estúpida quanto a primeira, se direcionou ao banheiro, seu corpo implorava pelo relaxamento que provinha da água quente. Um banho era tudo o que ela precisava naquele momento, aliviar a tensão... relaxar os músculos doloridos e descansar. A descarga de adrenalina que se recebe após a transformação não é tão grande quanto em seu início, mas, mesmo assim, não passa despercebida.

A dor é uma barreira entre a consciência e a inconsciência dos atos, o que permite que ela mantenha o controle fora da temporada de transformação. Porém algo fez com que a jovem se transformasse... Uma lua três quartos havia a manipulado. Pressionou a cabeça contra o azulejo frio e suspirou, a água caindo sobre o corpo dolorido esquentando-o. Não poderia deixar que tais pensamentos dominassem sua mente, deveria manter o foco, existiam ali acontecimentos mais importantes para se fixar.

Após descer para o primeiro andar, a jovem encarou a mãe que se encontrava sentada na pequena ilha da cozinha, ela bebericava seu café mantendo em mãos o jornal daquela manhã. Emma sabia que não conseguiria mentir, teria que contar a verdade, Elena era a única família que mantém, única pessoa além de Noah ao qual confiava... não poderia quebrar a ligação que possuíam soterrando as verdades.

- Aconteceu alguma coisa? – A questionou, os olhos analíticos.

- Aconteceu – A garota cortou sua fala na medida em que pensava sobre o ocorrido na floresta– Eu não sei... – Suspirou, levantou os ombros em frustração e serviu a si mesma com o líquido preto que não lhe agradava após se sentar.

- Como assim não sabe?... O que você viu? – Ela dobrou o jornal, deixando-o de lado em cima da mesa, virou-se para a filha a encarando, os olhos pensativos e levemente preocupados após analisa-la.

- Não foi o que eu vi..., mas sim o que eu senti – Apertou levemente os olhos em uma tentativa de manter o foco – Era sangue eu tenho certeza, mas depois sumiu – Levou às mãos em direção as têmporas que se encontravam doloridas.

- Não se preocupe com isso querida –Elena se levantou, aproximou-se da filha abraçando-a forte - Você sabe que não se pode confiar em florestas. - A voz da mais velha continha uma leve repreensão.

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