Capítulo 2

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16/Setembro


Como previsto cheguei a escola com 15 minutos de atraso, já a contar com o tempo que parei num café a caminho da escola para comer um folhado misto. Com o atraso que levava era óbvio que já não ia a primeira aula e acho que intencionalmente era mesmo isso que eu queria.

Fui em direção ao enorme corredor branco cheio de cacifos tanto do lado esquerdo como do lado direito, mas sempre sem perder o foco de chegar ao cacifo número 311. Quando abri a porta, tudo se mantinha no mesmo estado. Estava exatamente igual a ultima vez que o usei. Quatro fotos minhas e do Kris estavam na porta do mesmo presas com imãs e dentro dele estava um portefólio a transbordar papeis. Sem mexer em nada decidi que para já não ia fazer nada em relação ao seu conteúdo e a sua utilização.


***

Depois do que pareceram horas de espera finalmente tocou para a saída e passados 15 minutos voltou a tocar para a entrada no segundo tempo da manhã.

De acordo com o meu horário agora teria História na sala 9. Só rezo que a professora não seja a mesma que tive no 10º ano, não sou de por rótulos nas pessoas, mas ela era uma cabra que só sabia implicar comigo. Acho que isso era resultado do amor unilateral que ela sentia por mim.

Ao chegar a sala, decidi esperar  perto de um grupo de pessoas que conversavam animadamente, até demais para quem deixou as férias para trás. Uma funcionária dirigiu se a eles e perguntou lhes de que turma eram e deixou os entrar na sala, pelos vistos eram da minha turma. Entrei a trás deles, fazendo os ficar a olhar para mim. 

-Podemos te ajudar em alguma coisa? - uma rapariga de cabelos castanhos claros perguntou me. 

-São do 11ºG ? 

-Sim- respondeu ela e uma morena que se encontrava ao seu lado em uníssono.

-Sou da vossa turma. Podem me dizer onde há um lugar livre?- disse observando todos os lugares da sala, já não estava num ambiente destes há bastante tempo. 

-Na última mesa daquela fila - disse apontando para a fila do lado da janela- O lugar que não está encostado a parede está livre. Não sei é se vais gostar da companhia- gargalhou.

-O que tem a minha "companhia" de mesa? - fiz aspas com os dedos. 

-É um rapaz que embora seja atraente é muito arrogante e trata mal toda a gente- riu

Kris

A  única pessoa que me veio a cabeça a cabeça foi Kris e um monte de flashbacks. Disse obrigado a loira e sai disparada da sala em direção a casa de banho, entrei numa das divisórias e tirei o pequeno frasco de comprimidos da bolsa de fora da minha mochila, tomei dois e estive cerca de 5 minutos encostada à parede da casa de banho a tremer. Assim que o meu nervosismo se parou de manifestar fui novamente para sala que já se encontrava de porta fechada. Bati 3 vezes. Ouviu se passos, esta foi aberta e imensos olhares curiosos encontraram o meu. Especialmente o da professora que para mal dos meus pecados era a minha queria amiga do 10º ano.

-Bom dia Leonor- respondeu com o tom mais irónico que podia fazer- Agora a menina é desta turma é? - sorriu satisfeita. Mais um ano de sofrimento nas mãos dela é o que me espera. 

-Sim- respondi seca. 

- Então faça uma pequena apresentação, para nós e depois pode ir para o lugar- sorriu. Puta. 

-Olá, chamo me Leonor tenho 17 anos.

-Reprovas te o ano passado, não foi? 

-Sim 

-Foi por causa dos namoricos, não foi? - riu eufórica - Eu tinha te avisado.

-Não tem nada  a ver com a minha vida pessoal.- sorri igualmente ironica- Então agora se não importa vou para o meu lugar.- disse virando lhe costas. 

-Nunca mais chegue atrasada ouviu ? Se não leva falta. - mesmo de costas neste momento tenho a certeza que ela está a sorrir. 

Como não obteve resposta, continuou a falar.

Cheguei ao meu lugar e sentei me sempre com vários olhares poisados em mim, assim que a maioria se dispersou, abaixei a cabeça até a mesa e discretamente tomei mais um comprimido. Aquela puta tinha de se meter, como é óbvio. 

Apenas quando voltei a levantar a cabeça reparei que um par de olhos curiosos me encarava sem qualquer vergonha. O meu colega do lado. 

Só nesse momento reparei nele. Como o Kris ele tinha de certeza origens asiáticas, notava-se isso pelos seu olhos levemente puxados nos cantos e pela sua pele de tom pálido. Nunca deixando de lhe dar um certo encanto.Quando percebi que também o estava a encarar, quebrei o silêncio entre nós. 

-O que queres?- perguntei-lhe, de certeza que ele me tinha visto a tomar o comprimido. Que merda. 

Ele nada respondeu e concentrou o seu olhar na professora, embora ainda o apanha-se de vez em quando a espiar me pelo canto do olho. 

Onde quer que vá tudo me faz lembrar o Kris. Quero que este inferno acabe o mais rápido possível. 

Com vista para o horizonteOnde histórias criam vida. Descubra agora