28/Setembro
Naquele dia, depois de ele me ter abraçado, levou-me a casa. Na verdade, também não havia nada que ele pode-se fazer naquele momento. Durante o resto da semana, voltei a ir a oficina, vê-lo a trabalhar. Não é como se fosse algo muito interessante ou assim, mas pelos menos não teria de estar em casa. Como hoje em pleno domingo a olhar para o teto do meu quarto e a pensar o quanto a minha vida é inútil.
Por falar nisso, já não tomo os comprimidos SOS a 3 dias, se não me engano. Parece que não é um grande progresso, mas é. Pena, é não poder largar de vez os comprimidos diários que a minha mãe gosta de me ver a tomar a sua frente, para ter a certeza que eu os tomo e não me enforco numa das árvores a caminho da escola. Mas sinceramente, se fosse para me suicidar acho que era melhor me atirar dum predio ou assim.
Graças a deus que ela não sabe destas minhas ideias, se não as minhas idas ao terraço do prédio em que vivemos estavam oficialmente acabadas.
Duas batidas na porta fizeram se ouvir.
Embora a minha vontade fosse ignorar a pessoa do outro lado murmurei um "entre" desanimado e assim a figura da minha mãe foi aparecendo a medida que ela abria a porta.
Ela já tivera uma aparência mais jovem que a sua idade, porém nestes últimos anos ganhou um aspeto mais velho do que na verdade tem. Eu sei que é tudo por causa do stress que ainda a uns anos sofreu e que a deixou numa especie de depressão muda, em que a minha frente sorria e mostrava que estava tudo bem, contudo, eu lembro-me muito bem de todas as noites ouvir um misto de choro com insultos e questões, tudo digrido ao meu pai. Desaparecido.
Porém, também me atribuo parte da culpa desse stress a mim, porque no final de contas não é todos os dias que a nossa filha vai parar ao hospital quase as portas da morte, no que parece uma tristezinha passageira. Ao menos ela -a minha mãe - sabia que não era isso, por isso decidiu dividir a tristeza que eu sentia com ela. A solidão faz parte dos seus dias assim como dos meus, mas não me consigo aproximar dela, não agora.
A sua voz cansada ecou-o no meu quarto, o que quebrou a minha linha de pensamentos.
- O que vais fazer hoje? Devias ir apanhar um pouco de ar ficar em casa tanto tempo faz-te mal - Admiro-a pelo facto de mesmo estando a sofrer, se preocupar em dedicar espaço para se preocupar comigo.
-Sim, talvez saia para procurar um emprego par-time - disse, enquanto me espreguiçava para escorraçar toda a preguiça presente no meu corpo.
- Já te disse que não é preciso Leonor, eu vou arranjar maneira de pagar tudo o que devemos. Só temos de cortar é nas coisas dispensáveis. - Explicou-me enquanto esfregava as temporas, o que não me deixou minimamente convencida. Porque segundo a conversa que a ouvi a ter com a minha avó as coisas estavam muito mais complicadas do que ela gostaria. Há muitas contas a pagar, no hospital, dividas que o meu pai deixou com os seus sócios - que agora nos exigem o dinheiro- , a prestação do apartamento, o condomínio. São tantas coisas.
-Está bem então, acho que vou só dar uma volta- suspirei falsamente convencida, ia procurar o emprego sim senhora.
-Precisas de dinheiro ?
-Não mãe, obrigado - agradeci-lhe enquanto me calçava.
-Tens a certeza? Já não te dou dinheiro desde a semana passada! - a preocupação, quando o assunto sou eu, nunca abandona o seu rosto
-Sim mãe, eu ando a economizar o máximo que consigo. Não te preocupes- Sai do quarto e fui até a entrada de casa, ela seguiu-me.
- Até logo então! Eu chego amanhã de manhã porque vou fazer o turno da madrugada. Tem cuidado e manda-me uma mensagem quando chegares a casa.
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Com vista para o horizonte
FanfictionNão sei porque desapareces te. Para onde foste eu teria ido contigo. Não hesitaria . Mas a tua escolha foi deixar me aqui e nada, nem ninguém pode mudar isso. Por essa razão apenas desisto de qualquer pensamento relacionado contigo e afundo me na es...