Window ~JooKyun

I Saw Him

  Faltava pouco para terminar meu trabalho e já podia sentir a dor em minhas costas dar uma pequena trégua enquanto me esticava. Desde que havia visto no jornal que passar muito tempo estudando poderia retardar o desempenho e fazer você entender menos a matéria, comecei a fazer pausas de hora em hora.

  Encarei uma caneta na mesa por alguns segundos, ponderando se estava com fome para um lanche rápido, porém antes que eu me levantasse, algo que vi pela janela que ficava à frente da minha mesa me chamou a atenção e me fez sentar novamente, completamente hipnotizado.

  No prédio à frente, pela janela do que chutava ser um apartamento situado a um andar mais baixo que o meu, vi um rapaz sem roupas andando pela casa livremente. Alheio a quem o observava, ele abriu sua geladeira e tirou uma garrafa do que parecia leite e serviu um copo para si enquanto se escorava na pia. Alguns segundos daquele jeito, fui descoberto em meu estudo de sua anatomia e o vi engasgar com o que bebia e correr para fechar as cortinas.

  Ri arfante da cena e voltei ao que estava fazendo, me perguntando se ele fazia aquilo frequentemente, pois não me lembrava de ver algo do tipo nunca antes. Estávamos em plena primavera, então não poderia justificar sua nudez pelo calor. Isso ficou em minha cabeça polo resto da semana.

...

  — Pensei que fosse furar de novo.

  Me virei para ver quem me afrontava enquanto esquentava as mãos dentro dos bolsos do meu moletom e encarei Minhyuk com incredulidade.

  — Tenho prioridades — Falei simplista e ele fez uma careta de desaprovação ao que eu tentava ver quem estava atrás dele. — Ah, esse é Lim Changkyun, ele começou recentemente na faculdade e fazemos algumas aulas juntos, aí chamei ele para beber conosco quando surgiu a oportunidade. — Ele ditou, dando de ombros como se aquilo não fosse nada.

  Não entendia o motivo de o garoto estar se encolhendo atrás de Minhyuk até que reconheci ligeiramente sua face e não pude não sorrir, algo que fez seu rosto flamejar de um jeito que pensei que não fosse capaz a um ser humano.

  — Vocês se conhecem? — O loiro tentou se virar para olhar Changkyun enquanto o perguntava, mas ele só se escondeu ainda mais atrás dele. — O que é isso, Lim? É uma criança do primário pra se esconder atrás de alguém assim? Jooheon não morde... a menos que você peça. — Ele me lançou um olhar ao fazer a piada que eu fiz questão de revirar os olhos como resposta.

  — Os outros já estão lá dentro. — Falei, abrindo a porta do bar e já o adentrando.

  Nos esperando em uma mesa lotada demais para o meu gosto pude reconhecer os rostos de Hyunwoo, Hoseok e Hyungwon. Só fui capaz de notar a ausência de Kihyun quando Minhyuk comentou que ele não poderia ir pois estava em uma viagem com sua turma da faculdade. Tivemos um breve momento para nos apresentarmos aos rostos novos ali e apesar de saber que encarava muito Changkyun, não pude parar ao ver suas bochechas corarem cada vez mais.

  Era clara a vontade de fugir que ele tinha mas era impedido por Minhyuk que envolvia seus ombros com um braço para que não o fizesse. Precisava admitir que estava um pouco grato a ele por aquilo.

  — Eu sou Lim Changkyun e faço faculdade de ciências. — Ele disse de cabeça baixa e levou um tapa exageradamente forte de encorajamento do rapaz ao seu lado.

  — Vamos, não seja tímido! — Ele praticamente gritou de um modo embriagado que deixou claro que ele havia começado a beber bem antes de qualquer um ali.

  — Não tem muito o que falar sobre mim, não sou tão interessante.

  — Eu discordo. — Deixei escapar e recebi um olhar aterrorizado dele, provavelmente por pensar que eu exporia seus hábitos privados peculiares.

  Ergui um dos copos na mesa para que Hyungwon me servisse um pouco da soju que ele estava colocando nos copos de todos e o virei na boca, tanto para reconfortar a máquina de timidez a qual descobri ser peculiarmente satisfatório provocar quanto para molhar a garganta.

  — Ok, então vamos brincar de "eu nunca"? — Minhyuk anunciou e a mesa explodiu em gritos de comemoração aos quais apenas eu e Hyunwoo não correspondemos.

  Me perguntava como conseguira arrumar amigos tão agitados quando eu preferia ficar na minha. O único motivo de não ter desmarcado novamente foi porquê da última vez que passei muito tempo sem ver eles, Minhyuk e Hoseok organizaram uma festa em minha casa sem minha permissão e foi três vezes mais problemático do que se eu apenas tivesse ido a um bar qualquer beber até o amanhecer.

  Ao decorrer de cada rodada, só conseguia ver Changkyun bebendo e bebendo.

  "Eu nunca beijei alguém por quem não era atraído.", Changkyun já. "Eu nunca senti atração por alguém muito mais velho que eu", Changkyun já; "Eu nunca fiz nada de que me arrependo tanto que poderia morrer", Changkyun já, duas vezes, pelo que pude notar; "Eu me senti atraído por um cara", por mais que fosse cruel aquela pergunta, as únicas pessoas que não beberam foram o que fez a brincadeira e outro cara que não parecia estar prestando muita atenção ao jogo.

  — Ah, fala sério, nem pelo Johnny Depp? — Após a pergunta certeira de Hyungwon, o rapaz bebeu um shot em silêncio e a mesa explodiu novamente em gargalhadas.

  — Acho que sei quem foi o crush proibido de uma das pessoas na mesa. — Recebendo a atenção de todos, um dos rapazes fez uma expressão convencida enquanto encarava Changkyun. — Aquele professor, acho que o Sr. Kim?

  Ao ouvir aquele sobrenome ser proferido com tanta astúcia, Hoseok se engasgou e precisou de algum tempo para se recuperar enquanto todos esperávamos uma explicação de algum dos envolvidos.

  — E como você sabe disso? — Hyunwoo abriu sua boca pela primeira vez naquela noite.

  — Nós fizemos o ensino médio juntos. Haviam muitos boatos no colégio sobre eles dois terem um caso. — Hoseok deu um tapa tão forte na nuca dele para que calasse a boca que ele até curvou as costas, praguejando alto.

  — Quem me dera... — Changkyun, que tinha permanecido calado até então, proferiu as palavras com os olhos semiabertos. Sua fala embolada voltou a atenção de todos novamente para si, que parecia a ponto de dormir ali mesmo. — Ele era o único a me tratar gentilmente, mesmo depois de descobrir a verdade.

  Pude perceber Hyungwon e Kihyun fuzilarem o garoto que havia falado aquela besteira com os olhos ao que ele levava outro tapa de Hoseok, dessa vez mais forte que o outro de modo que o fez choramingar por mais tempo.

  — Tão bonito...

  Após ouvir isso, me senti na obrigação de intervir e me levantei.

  — Acho que ele já basta pra ele. — Falei, me aproximando de Changkyun. — Vocês podem continuar, eu vou levá-lo para casa.

  — Tão prestativo — Minhyuk comentou em tom desconfiado e eu o lancei um olhar de tédio.

  — Eu moro perto dele, florzinha.

  A mesa novamente se animou à citação daquele apelido que talvez muitos já tivessem esquecido e eu aproveitei a deixa para passar o braço de Changkyun ao redor do meu ombro para levantá-lo e conduzi-lo até a saída, onde preferi chamar um táxi para não manchar meu histórico em nenhum dos aplicativos do meu celular por ter feito algum desavisado dar carona a um bêbado que ficou muito enjoado em seu banco de trás.

  Revistei os bolsos do garoto parcialmente adormecido ao meu lado enquanto o carro seguia em direção ao endereço que lhe falei até achar suas chaves no bolso da blusa. Conferi o número de seu apartamento com o porteiro que só concordou em me dizer qual era quando viu o rosto embriagado do rapaz que eu agora carregava nas costas por ele ter desmaiado após sujar o carpete do taxista, e graças à gentileza de um vizinho dele que morava no mesmo andar e havia acabado de chegar, pude achar o lugar sem problemas e ele até ajudou a abrir a porta para mim. Gostaria de tê-lo agradecido com uma reverência, mas minha bagagem me permitiu apenas fazer um aceno com a cabeça.

  Ajudei Lim a tomar banho, o vesti e finalmente o deixei desabar na cama, me sentindo completamente acabado. Graças ao seu presente de agradecimento pelo trabalho duro, não pude voltar para casa e precisei me contentar em dormir em seu sofá.