u m

11 2 0
                                    

Hospital.
Junho, 05.

Querido,
Eu pensei em começar escrevendo e-mails sobre nós, seria a maneira mais fácil e mais prática de falar contigo, não me cansaria tanto. Porém, isso não seria nada, se é que me entende. Logo, quis fazer algo mais a moda antiga e resolvi fazer esse esforço, enquanto ainda estou bem e ainda consigo escrever.

Você sabe como não sou boa com despedidas, ou com palavras, por isso, na maioria das vezes, expresso-as em poemas e poesias, até canções, quem sabe.

Eu poderia recitar quantos poemas quisessem, poderia escrever quantos poemas o meu coração pedisse, mas, de certa forma, todos, sem exceções, seriam sobre você.

A ideia dessa carta, ou dessas, se eu ainda estiver aqui amanhã, é para, de alguma forma, eternizar a nossa história e o meu amor por você.

Bom, no dia em que nos conhecemos, tudo parecia estar indo mal, nada estava indo bem naquela manhã, estava quase jogando tudo para cima e faltando as aulas da faculdade.

A manhã começou bem, tão bem que ao preparar o café, o pó caiu na minha blusa e no chão, então tive que limpar antes de sair de casa, porque me conhecendo o suficiente, sei que esqueceria mais tarde.

Ao sair de casa, percebi haver esquecido a chave do carro no sofá, então, voltei para buscá-la, assim que fechei a porta do apartamento, percebi que dessa vez, meu celular fora deixado para trás, provavelmente na cozinha.

Felizmente, cheguei ao campus da faculdade com vida. Ao tentar encaixar meu celular no bolso traseiro da calça de maneira desajeitada enquanto corria, o derrubei. Meu coração por pouco não saiu pela boca, tive a de sorte que ele tenha na grama.

Checando o horário em meu celular, vi que a primeira aula era de literatura, e eu estava tão irritada e com tantas coisas na mente, que esqueci o horário de hoje. Meu carro já estava começando a dar alguns problemas, e eu não teria tempo de levá-lo ao mecânico, não naquela semana, pelo menos.

Ao entrar na sala, todos estavam em silêncio, e como estava com pressa para sentar logo, não segurei a porta para ela fechar e acabei deixando que a porta batesse, fazendo um barulho alto ecoar no auditório, algumas pessoas sorriram e outras apenas ignoraram. Desculpei-me pelo barulho, o Professor fez um movimento, quase imperceptível de cabeça. Não haviam lugares vagos nas primeiras fileiras, logo, sentei-me no final, tendo, de certa forma, uma boa visão da turma e do telão.

Por algum motivo, eu fiquei encarando a porta da sala, eu tinha a sensação de que ainda faltava alguém, mas achava ser a última a entrar na aula, porém, eu estava errada, você ainda não estava na aula. Poucos minutos após eu ter entrado na sala, você apareceu, abrindo e fechando a porta, da maneira cuidadosa, coisa que eu deveria ter feito; sua presença foi quase imperceptível, você chegou tão sorrateiramente. Olhando ao redor, você achou um lugar, duas ou três fileiras abaixo de onde eu estava, então, te segui com o olhar.

Não consegui tirar meus olhos de você, um pouco assustador? Concordo, mas você parecia ter algo que prendia minha atenção.

Querido, você usava aqueles óculos horríveis, e parecia ser um desastre. Eu não puder evitar, senão rir, quando derrubou seu caderno no chão. Como se você tivesse percebido que alguém o observava, virou-se para trás. Senti minhas bochechas esquentarem, e abaixei a cabeça, percebendo que ainda não havia pegado meu material.

E aquela foi a primeira vez que trocamos olhares.

Constrangida, por ser pega, puxo uma caneta qualquer da bolsa e finjo anotar algo. Deixando com que meu cabelo cobrisse meu rosto, o olhei mais uma vez, mas, ele já não estava mais virado para trás, agora estava focado no que o professor passava.

Para Sempre SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora