- Que merda horrível aconteceu aqui - disse operador contratado por Assis para concluir o serviço de limpeza e remoção de objetos obsoletos na mansão.
Mario estava sozinho no alto da escada com uma vara longa nas mãos. Cutucava uma das telhas soltas que acreditou estar emanando dali o forte cheiro pútrido que atraia os urubus.
Espreitando ali pela escada, embora conseguisse ver a telha fora do encaixa, não conseguiu atestar com precisão o que exalava com furor a ponto dos urubus se sentirem atraídos pra lá. Mas assim que ganhou um pouco de altura, inserindo a escada na lateral da casa e subindo até o último degrau. Já se encontrava a quase 5 metros de altura. Se ganhasse o telhando, apoiando-se nas primeiras filas de telhas acima da calha de água, podia esgueirar-se até o local da infestação mórbida. Foi com cuidado que subiu, colocando um pé depois do outro. Jogou pra cima a vara, pegando-a em seguida. A mansão parecia muito mais alta vista dali. Quanto metros tinha subido? Talvez uns sete ou oito. Já conseguiu ter uma boa ideia do que estava despertando atenção dos peçonhentos bichos voadores.
- Vamos ver...
Foi com cautela, pisando com cuidado em cada telha. Havia uma linha rija, onde passava a vinha de estrutura da telha. Podia pisar ali, somente ali. Se enfiasse em falso o pé numa das telhas, seu pé afundaria, seu peso colidiria contra as demais e teto telhado tombaria a ruir. Nada disso aconteceu.
Com o corpo agachado, quase que engatinhando, Mario pegou novamente a vara e foi se chegando na direção da telha obstruída. Nenhum sinal daquelas agourentos voadores por perto; subia, observando atentamente seus passos. Suas mãos deslizavam ao tatear as telhas, os pés obedecendo a mesma sutileza e cuidado. Estava se aproximando do local; o cheiro pobre aumentando, dobrando, triplicando, contaminando até sua roupa. Ainda há uns 2 metros da telha, Mario fitou o que seria um pedaço de rabo. Um fino rabo de um roedor, porém comprido sinuoso, o resto do corpanzil do animal estava soterrado ainda. O homem não colocaria a mão, usaria da vara para verificar se conseguiria remover sem colocar as mãos. Mas se fosse preciso colocar as mãos, usaria das luvas em seu bolso.
- Que merda - disse ele ao usar a vara. A telha soltou quando a ponta da vara arrematou em sua direção, e o que estava esperando claramente ficou à mostra.
Uma ratazana do tamanho de um pochete carregada apareceu. Estava podre. Roedores menores traçavam os restos mortais do que um dia foi um rato de esgoto. Mario sentiu vontade de vomitar e só não o fez porque estava acostumado a fazer limpeza em cisternas e ductos de ventilação; tarefa muito comum para homens desse tipo.
Dividindo as frias carnes da ratazana estavam as milhares de formigas que traçavam um percurso de ida e volta adentro da estrutura da casa. Talvez se removesse o rato, elas desapareceriam. Ou talvez não. ia precisar checar se havia algum formigueiro, além do cupim que devorou o rodapé de um dos ambientes.
- Vamos lá - prosseguiu Mario. A vara foi deixada de lado, as mãos sendo envelopadas por grossas luvas. Também retirou de sua cintura um saco plástico. Com cuidado, deu um tapa na carcaça da ratazana morta pra dentro da sacola. Por debaixo do corpo pútrido do animal revelaram-se famílias de necrófagos que reviam a luz do sol em muitos dias. Mario usou um spray contra eles, fechou o saco e fez o caminho da volta, o rato morto sacolejando os viajantes que se desprendiam do animal e se sacudiam dentro do plástico.
- Maldição - disse ao olhar a escada. Ela estava mais afastada, como se alguém tivesse colocado um pouco mais distante a fim de ver Mario engatinhar pelo telhado.
- Você está ai, Osvaldo? - indagou, convicto de que seu irmão se arrependera e agora estava de volta.
Mas ninguém respondeu. nenhuma pessoa estava ali e, para sua canseira desnorteada, a escada estaria no mesmo lugar se não fosse sua cabeça cansada. Quase o dia inteiro tomando sol na cabeça. A insolação provocava destes delírios. Foi quando olhou pra baixo, na direção do parque infantil cuja temática é da Branca de Neve e os Sete Anões.
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A mansão da rua ao lado
HorrorUma mansão vendida a preço irrisório desperta atenção em Eduardo, um simples técnico de informática. Ao marcar com o corretor encarregado da venda para visitar a mansão, Eduardo descobre que o mesmo não compartilha certos segredos que a mansão parec...