CAPÍTULO 3

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Ellie

Já fazia quase um mês que eu havia me mudado para Lacey, e como eu adorei aquela cidade. Mais do que eu imaginava. Lá tinha tudo que nós precisávamos, e não estou falando de hipermercados, Mc Donalds, nem shoppings. Era algo bem menos palpável e bem mais importante. Lá meu pai tinha um amigo, um emprego (sim, meu pai era o novo assistente do time de basquete da North Thurston), e eu tinha Alan. Não da maneira como vocês estão pensando. Não, nós não estamos namorando. Não oficialmente. Ainda não. E o motivo é bem complicado.

Paul não melhorou com a chegada do meu pai, como Alan achou que aconteceria. Pelo contrário. A situação estava um pouco mais difícil do que antes. Voltando um pouco, aconteceram alguns incidentes bem estranhos na casa dos Morris e Alan estava passando mais tempo em nossa casa do que na dele.

Paul continuou com as neuroses de carros o perseguindo, chegou até a dar fuga e ser parado pela polícia alguns dias depois que nós nos mudamos, ocasião em que Alan precisou ir socorrer o pai que estava a beira de um ataque de nervos e a polícia o liberou com a condição de Alan levá-lo diretamente ao hospital. Ele não contou a polícia o motivo da velocidade alta, mas Alan arrancou dele a verdade durante o caminho pra casa em troca de não levá-lo de verdade ao médico, o que deixou Alan ainda mais nervoso, pois se o pai estava sendo realmente perseguido deveria ter informado as autoridades.

Além de estar mantendo a casa trancada com cadeados nos poucos momentos em que ficava lá. Raras ocasiões, pois a maior parte do tempo ele sai cedo e volta só de madrugada, obrigando Alan a ficar na nossa casa, pois, como ele diz, não é seguro ele ficar na casa deles, sem ninguém. Cansei de ouvir as brigas deles cada vez que Paul chega. Alan tentando descobrir onde ele estava e o que estava havendo e Paul como sempre dizendo que estava tudo se resolvendo e que logo tudo voltaria ao normal. Ele não dizia mais nada além disso.

E meu pai nessa história toda? Ele está do nosso lado. Apesar de não ter convivido pessoalmente com Paul por muito tempo nos últimos anos, ele conhecia o amigo dele e sabia que tinha algo errado. Por um tempo meu pai achou errado tentar arrancar de Paul algum segredo que ele não quisesse compartilhar, mas hoje meu pai já não tinha a mesma opinião.

...

Acordei Alan para ir à aula, ele dormia no quarto de hóspedes que já era praticamente dele depois de tantas saídas de Paul. Meu pai já estava lá embaixo cantarolando enquanto fazia nosso café da manhã.

- Oi, El. Ele está aqui? - ele ainda estava deitado, com os olhos pouco abertos e o cabelo bagunçado olhando pra mim. Ele estava perguntando de Paul.

- Não Alan, ele não chegou. - E eu respondia a mesma coisa pelo terceiro dia consecutivo.

Paul tinha saído na terça-feira de manhã após Alan e eu irmos para a escola. Ele deixou em casa, enquanto estava vazia, uma mala com coisas do filho. Muitas roupas, escova de dente... itens de necessidade básica. E tinha deixado apenas uma mensagem de texto para Alan por volta do meio dia: Filho, eu vou fazer de tudo pra voltar. Te amo.

Alan enlouqueceu, me tirou da escola em meio ao intervalo de uma aula para outra. O rosto dele estava pálido, e os olhos saltados. Ele falava baixo, o que me deixou ainda mais assustada, eu não estava entendendo nada. Me puxando pelo braço discretamente ele me apressou até o carro e saímos antes que alguém notasse e viesse atrás da gente. No caminho ele não disse nada, apenas me mostrou a mensagem de Paul que me gelou até a espinha. Como assim ia "tentar" voltar?

Chegamos a casa dele e estava inteira trancada, Alan não tinha mais chave porque Paul disse não ser seguro ter mais de uma, consequentemente a chave que ficava escondida perto da porta também não existia mais. Tentamos abrir as janelas, mas estavam todas travadas por dentro.

Encontramos a mala na sala da minha casa. Alan abriu e revirou as coisas que tinha lá. Coisas dele. Se sentou no sofá e colocou as mãos no rosto.

Eu aguardei em pé ao lado dele e da mala revirada no chão. Não sei quanto tempo passamos dessa forma. Não escutei Alan chorar, mas quando ele ergueu os olhos pra mim, eles estavam vermelhos e úmidos.

- El...

- Calma... Logo ele vai estar aqui. - Me sentei ao lado dele e segurei as mãos dele nas minhas. - Sei que parece terrível, mas confie nele, ele é adulto, deve saber o que está fazendo. E nós estamos aqui com você. EU estou aqui com você. Vai dar certo, vamos fazer o que for preciso pra ajudar ele a voltar. - Não sei de onde tirei essa firmeza e segurança, mas precisei fazer isso por Alan.

Hoje já era sexta-feira e ainda não tínhamos nenhuma notícia. Nos sentamos para tomar café da manhã com meu pai. Ele era a cara da derrota. Desde que Paul saiu de casa ele estava mais quieto, menos brincalhão. Eu o via pela casa, parado tentando fazer ligações, deixando recados para Paul voltar. Até agora não havia tido resposta. Hoje ele estava com olheiras fundas e a roupa um pouco amassada. Mas ainda assim, abriu o maior sorriso do mundo quando nos viu entrando na cozinha para tomar café da manhã. Esse era meu astro do basquete!

- Bom dia, crianças. Já fiz o café da manhã de vocês, podem comer.

Não conversamos muito. Não havia muito que falar. Desde que Paul saiu ainda não tínhamos conversado abertamente sobre o assunto como se logo ele fosse entrar pela porta da cozinha com a energia de sempre.

- Hoje não tenho aula pela manhã então não vou com vocês, ok? - disse ele olhando para o jornal.

- Vai ficar em casa, pai?

- Sim. Eu vou. Tenho alguns trabalhos para avaliar, vou aproveitar o tempo livre.

Ele se levantou, colocou os copos na pia e subiu para o quarto, gritando um "boa aula, crianças" enquanto ia.

Eu olhei para Alan e ele parecia nem ter notado a estranheza do meu pai. Pensei que ele estava preocupado mais com a estranheza do dele em sumir do nada, ocupado demais para notar o meu. Pelo menos eu estaria se fosse o inverso. Levantei, tirei nossos pratos e copos da mesa e fui para a sala pegar nossas mochilas. Olhei para a escada e fui me despedir do meu pai, senti a necessidade de fazer isso, e logo eu descobriria o motivo. 

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