16- A dor...

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Boa leitura
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Daniela narrando

Esse anos todos e ainda assim ela me reconheceu, não sei que tipo de sentimento ter nesse momento e nem sinto nenhum fluir em mim instintivamente, eu queria muito ver minha mãe, já se passaram sete anos...sete anos que nunca mais trocamos uma única palavra. Eu sei que era para seu bem mas agora...agora me sinto magoada.

Creio que esse foi o pior encontro já feito na face da terra. Temos muito o que conversar, isso me ajudaria a sentir melhor mas, não posso abraçá-la, não posso tocá-la, o que nos é permitido são apenas trocas de olhares desesperados.

- Rosa - tia Martha encara sua irmã com um olhar de profunda angústia e tristeza

- Como vieram parar aqui? Como eles chegaram a vocês? Sabem quem são? - ela pergunta sem ao menos respirar, parece até que está colocando suas últimas palavras para fora

- É melhor calarem essas boquinhas! - Jorge interrompe e da mesma forma que nos fez, a amarra em uma das cadeiras

-Até quando você vai continuar com isso Jorge? Você vai se ferrar mais ainda, nos deixe sair daqui - mais uma tentativa falhada de o chamar para a realidade

- EU FALEI PRA ESTAR CALADA!- ele grita e dá uma bofetada na minha mãe como forma de me castigar

Segundo depois só se ouve nossos choros dentro da sala. Qualquer coisa de errado que eu faça minha mãe e minha tia vão pagar, seu aviso foi claro. Mas isso tudo deve ter um motivo e objetivo mais forte, ele não faria essas coisas só por querer...ou faria?

Em pouco tempo Jorge está do meu lado, aquele olhar que me lança já conheço, mas é o pior que já vi em toda minha vida, não acredito, ele não pode ser mais monstruoso do que já foi esse tempo todo, ele realmente quer destruir a minha vida e a da minha família.

Ele me desamarra e me levanta segurando meu braço, meu corpo todo treme. Minha mãe. Minha tia. Elas não merecem assistir esse horror.

- Vamos mostrar para sua família como cuidei bem de você esses anos, vamos - ele diz cheirando meu pescoço, eu fico petrificada

- JORGE SOLTA ELA - tia Martha apela horrorizada já sabendo o que vai acontecer

Elas vão sofrer se eu fizer qualquer movimento suspeito, além de Jorge tem mais dois homens armados em dois dos cantos da sala prontos para disparar com apenas um estalar de dedos do mandante.

Jorge me coloca em cima da mesa, a voz da minha tia suplicando para Jorge não avançar com aquilo preenche o lugar. Então fecho meus olhos, enquanto Jorge ignora totalmente os apelos da minha tia, indo em frente para saciar sua maldita e nojenta vontade, eu viajo mentalmente, em todos esses anos foi a primeira vez que consegui viajar por completo nos pensamentos sem sentir absolutamente nada do meu físico.

Estou sobre algo imenso, num tom de azul. Nuvens? Céu? Mar? Não sei. Caminho seguindo uma borboleta extremamente branca e brilhante, ela me leva até um jardim onde me sento num balanço feito de plantas e decorada com flores de cores distintas.
Quando vejo ao meu redor, amigos e familiares caminham ao meu encontro, minha avó materna que me deu muito mimo, meus amigos de infância que perdi não sei porquê até hoje, tia Martha, Ben, meu pai que partiu quando eu tinha apenas 3 anos por causa de uma doença que também não cheguei a saber qual era, e minha mãe, todos sorrindo, felizes.
Meu pai me empurra no balanço fazendo eu dar gargalhadas com a brisa batendo no meu rosto, fazendo meu cabelo voar, ele faz o mesmo com a minha mãe...minha mãe...minha mãe.

O rosto da minha mãe, que estava feliz, agora não está mais, não consigo decifrar o que sua face transmite o que me faz lembrar que não ouvi sequer a sua voz quando Jorge me agarrou, isso me trás de volta para a realidade.

A procuro apenas com o olhar onde sei que ela está sentada e o que vejo me despedaça ainda mais. Seu olhar, sua expressão, ela demonstra nojo, desgosto, amargura...tudo isso é...de mim?

Como quando o efeito da anestesia passa, sinto agora as dores provocadas pela brutalidade de Jorge sobre meu corpo, essas dores que se juntam a dor da perda do meu pai, da minha avó, dos meus amigos, a dor de ver minha mãe apanhar, a dor de me separar dela, a dor de aguentar os abusos calada por tanto tempo, a dor de ver Ben quase sendo morto pelas mãos de Jorge, a dor de me separar dele, a dor, a dor...a dor.

Uma lágrima solitária escorre horizontalmente no meu rosto e a coragem de ver nos olhos da minha mãe some me fazendo fitar o teto segurando para não demontrar essa dor e aguardar que o Jorge termine.

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Meu Deus, que tensão.
O que a Rosa deve estar pensando?
Deixem nos comentários o que acham
Até a próxima, beijão

Fome De ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora