Cap. 3

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-Mas que porra garota, não me enche - Disse dando as costas pra Julia

- Mano, se liga, tu não pode ficar desfilano pela boca, só entra lá quem tem minha permissão, e tu tá bem longe disso. 

- Só fui atrás do retardado do JC, já que a vaca da namoradinha dele veio me fazer uma visita. COMO SE EU TIVESSE ALGUMA CULPA POR ESSE BOSTA FICAR TRAINDO ELA, E PIOR AINDA, ME PERSEGUINDO.

- Mas aí tu vem falar comigo, EM VEZ DE ENTRAR NA PORRA DA BOCA, SOCANDO CARA DELE, TU TA LIGADA QUE ELES PODIAM TER TE METIDO BALA?

- DANE-SE, Que esses merdas enfiem bala no cu, e isso vale pra você também.

- Quer saber? EU MESMA POSSO FAZER ISSO POR ELES. - Pegou a arma dela virando na minha direção.

- Julia, CALMA - Bia já estava ficando desesperada.

- Ah, mas é claro, a CHEFONA não tem capacidade pra terminar isso com as próprias mãos, tem que recorrer a arma, sabe o que acho? Que você é uma COVARDE, FRACA. - Ela jogou a arma longe e correu, me jogando no chão, subindo em cima de mim e me enforcando.  - Resolveu agir. - Dei o meu melhor sorriso.

- JÚLIA, SAI DE CIMA DELA! JÚLIA! - Bia tentou puxar a irmã, mas não conseguiu. Emilly chegou nesse momento, e vendo a cena, correu para ajudar. As duas conseguiram nos separar. Comecei a tossir, podendo agora respirar direito, mas nunca deixando de sorrir.

- Idiota, vai ficar marca. - Disse quando consegui parar de tossir.

- Sorte sua não estar morta. - Retrucou.

- Eu não tenho medo da morte.

- Por isso é doida. - Rimos.

- Uma hora vocês quase se matam, e na outra estão rindo juntas, eu desisto. - Emilly disse, colocando as mãos pra cima, como se estivesse se rendendo. O que me faz rir mais.

- É porque ela é um pé no saco. - Eu disse.

- Vocês são iguais, duas retardadas, por isso se irritam e se entendem. - Bia disse - Mas se alguma coisa desse nível acontecer de novo, não contem comigo.

- O problema é que não posso deixar ninguém me rebaixar, sabe como é. Já avisei uma vez e não vou avisar de novo. - Julia saiu, como se nada tivesse acontecido, e eu fui atrás dela, só para ter certeza que vai me ouvir.

- Sabe o que é? Tenho um problema com pessoas que acham que mandam em mim. - A vi dar um meio sorriso, e fui tomar banho.

Sai de toalha para o quarto, indo pegar uma roupa.

- Já te falei pra não se meter com ela, prima. - Estava na minha cama, me esperando.

- Foi só uma briguinha, ela não ia me matar. - Disse.

- Como você tem tanta certeza? - Não sei dizer se estava curiosa ou me julgando.

- Vi nos olhos dela. - Peguei a roupa e voltei para o banheiro me trocar.

Coloquei uma calça branca bem rasgada, com uma meia arrastão por baixo, uma camiseta curta preta e um tênis preto, fiz uma maquiagem simples e uma trança embutida. Coloquei também uma gargantilha preta, um pouco mais grossa do que as que eu uso, mas não passei nenhuma maquiagem para esconder a marca que ficou. Quando acabei ela já tinha ido embora, peguei uma bolsa pequena e branca para colocar o celular, saí.

Chegando na saída do morro, vi Emilly, JC e a namorada dele, preferi ficar distante e entender o que estava acontecendo.

- Deixa eu falar caralho. Aquela vagabunda fica dando em cima do MEU namorado. - A vagabunda sou eu?

- Primeiro, meça suas palavras, porque tu não tá falando com suas amiguinhas. Segundo, que pelo o que eu saiba, esse aí pega mais gente que eu, se ele tá namorando, cobre fidelidade DELE. Terceiro, ela não é vagabunda - Obrigada? - já vi e ouvi muita coisa, pra saber que ele não para de a perseguir. Aliás, vamo resolver essa treta aqui também. - Julia puxou o JC pela gola da camiseta, o deixando bem perto - Chega perto daquela morena de novo, que eu quebro a sua cara. - Soltou, o empurrando, fazendo ele quase cair.  - Agora você, - Virou para a menina - NINGUÉM entra no MEU morro pra fazer barraco, então vou te deixar avisada - a puxou pelo braço, deixando poucos centímetros de distância entre seus rostos. - se fizer isso de novo, tu tá fudida. - a soltou e se afastou. Trocando o olhar entre os dois perguntou: - Estamos entendidos? Que bom.

Ela saiu andando, me vendo quando estava mais perto.

- Obrigada - a disse quando se aproximou.

- Fica longe de encrenca. - Quando foi se afastar, segurei seu pulso.

- Espera - me olhou - Pode ter ficado marca, mas sei que não apertou nem o suficiente para me fazer desmaiar, por que? - Sorriu e foi embora sem me responder.

Peguei meu celular e avisei pra Emilly que eu estava indo para a praia, e depois para o Matheus.

Fui andando até chegar na areia, tirei o tênis e continuei até uma parte mais afastada e vazia de lá. Sentei e fiquei observando as ondas quebrarem.

Quando namorei com o João no começo era tudo perfeito, ele era poucos anos mais velho, carinhoso, romântico, me valorizava, conquistou minha família e meus amigos, um verdadeiro príncipe. Os meses começaram a passar e ele não queria mais que eu usasse short, nem saia, batom vermelho, ou que saísse com amigos. Passou mais um tempo, e começou a me rebaixar, me fazendo sentir como se eu fosse a pior pessoa do mundo, que tive sorte de alguém gostar de mim. Passou mais um pouco, e agora sentia ciúmes de todo mundo, não podia fazer qualquer coisa que não tivesse a ver com ele, começou com gritos, depois tapas, socos, e depois chutes.

Por muito tempo, achei que era tudo culpa minha, que merecia e não acharia ninguém melhor, ninguém que me aguentasse. Achei que ele melhoraria.

Um dia brigamos feio, pois já estava cansada de tudo aquilo. Eu quis terminar e isso o irritou, veio para cima de mim, começou a me bater muito, vi nos seus olhos que ele me mataria, mas meu pai chegou na hora. Começou a socar o João e só parou quando o fez desmaiar.

Nunca tinha contado nada pra ninguém sobre o que acontecia durante nosso último ano de namoro. Meu pai fez uma queixa formal (que não deu em nada), comecei a frequentar o psicólogo e a fazer curso de luta, passei por boxe e judô. Isso me fez ganhar mais confiança fisicamente e psicologicamente, e superar o trauma. Mais ninguém além dos meus pais souberam do ocorrido, embora eu tenha contado uma versão branda para Emilly.

Se quisesse, poderia ter parado a Júlia, mas não fiz. Quis saber até onde iria, e para uma pessoa como ela, fiquei surpresa por não ter sido mais longe.

Assisti o sol se pôr e mandei mensagem para o Matheus, avisando que iria para a casa dele.

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⏰ Última atualização: May 12, 2020 ⏰

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