Melina: a dor do silêncio

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Eu passei a minha vida inteira praticamente dentro de um quarto. O máximo que tinha  liberdade era pra ir ate um campo próximo, nada além disso. Eu via os mesmos Rostos e lia os mesmos livros todos os dias. Treinar feitiços sem magia era estranho e complicado. Eu tinha que canalizar, mas eu nunca tinha poder de fazer nada. Eu sabia pouco sobre mim, apenas que tinha um pai que nao se importava, uma mãe que so queria me ensinar feitiços e  uma irmã gêmea que mal conhecia. Minha Mãe disse que era proibido ver a Janne por ela ser a herdeira e blá blá blá, mas sempre que podia levava ela no campo para que pudéssemos ter uma ligação acima do sangue, algo como família. As visitas pararam depois de um tempo. Nem minha mae ia mais ao meu quarto.Todos se preparavam para a chegada dela que nunca chegava. Foi horrível viver no inferno. Primeiro porque o meu quarto era uma cela adaptada, segundo que eu não podia sair e terceiro eu era torturada como uma prisioneira. Talvez nao tenham feito por mal, mas aquilo doeu muito.
     Eu nasci sem magia e por mais que seja a primogênita, Janne é que era a próxima na linha de sucessão. Eu queria ser rainha, mas do que ia adiantar sem ter poder algum? Por isso meus pais tiveram a brilhante ideia de transferir um pouco da magia da Janne pra mim. Eu fiquei feliz, até descobrir o quanto ia custar. Eu so tinha 7 anos e para transferir poder precisava de paciência e força pra aguentar. Eu tinha que ficar deitada numa cama enquanto eles colocavam agulhas nos meus braços, pescoço e barriga. Era como uma transfusão e era o sangue da minha irmã. Infelizmente ele não era compatível com o meu corpo e eu vomitava a quase todo momento, meu corpo parecia queimar de dentro pra fora e só perceberam e pararam quando meu coração parou de bater. Me reanimaram e nunca mais tentaram me dar magia. Esse assunto era proibido, ninguém sabia que existia outra herdeira e ainda sem poder.
    A minha sorte mudou naquele dia, lembro e parece que vai acontecer tudo de novo em segundos.Foi engraçado conhecê-lo. Qualquer rosto que não fosse o da minha mãe ou o raro do meu pai era novidade. Confesso que me assustei um pouco quando ele entrou no meu quarto, mas logo viramos amigos. Eu estava pintando um quadro quando alguém entra do nada.

-Ahhh! Quem é você?-Pergunto confusa.

-Aaron é o meu nome senhorita e o seu?

-Melina. O que faz no meu quarto? Melhor, o que te faz pensar que pode entrar assim e me fazer borrar toda a minha arte?-Jogo o pincel no chão.-Olhe só, está arruinado! Tudo culpa sua.

-Minha? O que uma criança faz nas celas do inferno? Este é o seu quarto?-Ele se senta na minha cama.

-É. Bom, longa história. O que faz aqui e porque estava correndo?

-Travessuras. Haviam boatos de que uma dama era mantida em cativeiro e que era uma das filhas de Lucifer e Lilith. Resolvi vir checar. Você é?

-Sou filha deles, mas nem parece.-Me sento ao seu lado.

-Hmm. Faz quanto tempo que você não vê alguém?

Aquela pergunta me pegou de surpresa, nao esperava que ele fosse ficar e conversar.

-Ah, já fazem alguns meses.-Olho para baixo.

-Bom, agora sou seu Melhor amigo.-Ele sorri de um jeito tão fofo!-Quantos anos você tem?

-Está bem, amigo.-Eu tinha um amigo agora, o que amigos fazem?-9 e você?

-10. E então, me diga o que faz o dia todo trancada nesse quarto?

-Nada além de ler e pintar.

-Já saiu daqui?

-Algumas vezes.

Conversamos por horas naquele dia e quando anoiteceu ele foi embora, me prometendo que iria voltar no dia seguinte. Comecei a fazer outro quadro, nem sabia o que estava pintando, mas parecia bonito.       
  Os dias se passaram e em todos Aaron ia no meu quarto pontualmente às 7:00 e ia embora às 20:00. Eu me sentia feliz por te-lo ao meu lado, finalmente alguém que eu podia conversar e rir. Ficávamos o dia todo deitados na cama falando das novidades e sobre coisas aleatórias ou ele posando e eu pintando. O tempo passava cada vez mais rápido e então chegou o dia do meu aniversário. Eu nunca havia comemorado, porque não tinha quem convidar, mas Aaron me obrigou a soprar velinhas. Naquela manhã tudo se seguiu normal, ele chegou e ficamos conversando. Contei que era meu aniversário e ele teve uma ideia.

-Eu nunca te perguntei, mas o qual o dia do seu aniversário?

-É hoje.

-Mentira?! 11 de Setembro? Jura mesmo?

-Sim, por quê?

-O meu é 13 de setembro.

Ficamos rindo da coincidência e ele virou a cabeça para me dizer algo.

-E se a gente comemorasse os dois aniversários dia 12? Ficaria no meio, sem brigas.

-É uma ótima idéia!

-Vou te levar à um lugar especial amanhã.

-Eu acho que não é boa ideia...eles nao me deixam sair, sabe disso.

-Eles nunca disseram que você não podia.

Ele foi embora e eu fiquei tão ansiosa que nem dormi, ia sair depois de meses! No outro dia Aaron chegou mais cedo e eu ja estava pronta. Me deu uma venda preta pra colocar nos olhos e me levou.

-Abra os olhos, vamos ver se vai gostar do meu lugar especial. Quero dizer, nosso lugar especial.

Tirei a venda e um campo Verde enorme estava na minha frente. Tinha umas flores e um lago, mas o que me chamou atenção foi a árvore gigantesca no meio. Fomos até lá e me sentei embaixo dela.

-É lindo! O melhor presente de aniversário que ja tive. Onde estamos?

-No Jardim secreto do Palácio. É um dos poucos lugares que há paz e vida no inferno. Vamos fazer um pacto. A partir de hoje, todos os dias 12 de setembro vamos comemorar o nosso aniversário aqui.

-Feito!

Escrevemos nossos nomes na árvore e depois corremos pelo campo atrás do outro, sempre apostando quem pegava mais flores ou chegava primeiro. Foi o melhor dia da minha vida.
   Os anos que se seguiram eram alegres e não me lembro de ter ficado triste em sequer um deles. Aaron me levou pra conhecer a Terra nos seus lugares preferidos. O primeiro foi na França, na Torre Eiffel. Olhávamos as pessoas apressadas correndo abaixo de nós. Depois foi em Moscou, na Rússia. Todas as praças e lugares bonitos de la eu vi e particularmente era o meu lugar preferido. Romênia, Canadá e Londres foram os próximos. Admito que nao gostei de Londres, era um lugar meio triste, talvez pelo tempo geralmente nublado.
      O tempo todo eu passei ao lado do Aaron e acabamos nos apaixonando. Eu não poderia estar mais feliz, até o dia do meu aniversário de 15 anos. Acordei super empolgada e o esperei, como fazia todos os dias. Algumas horas se passaram e nada dele, então pensei que era pra ir para o campo que la teria uma surpresa. Quando cheguei não havia nada. Talvez ele tenha se esquecido, ou sei lá. O esperei por horas e ele não apareceu. Voltei la nos dias seguintes e nada, acordava todos os dias na esperança dele bater na porta e me dar uma boa explicação, mas isso nunca aconteceu. Tomei coragem e fui falar com meus pais. Contei tudo e perguntei se sabiam de algo. Apenas me disseram que ele era um espião do Céu e que foi mandado de volta. O meu chão caiu naquele instante. Aquilo tudo que vivemos era mentira? Voltei para o meu quarto e rasguei a tela do quadro que nunca terminei dele. Me senti mal e deslocada de novo. Ninguém mais me visitou e eu vivi esperando ele voltar.

Dinastia em ruína:Irmãs acima do sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora