Capítulo 4 - 1

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Me encaro no espelho do camarim horas depois, toda descabelada

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Me encaro no espelho do camarim horas depois, toda descabelada. E por incrível que pareça, me sinto tão bem, leve...

­- Parece que alguém foi muito bem comida. ­­­- Poderosa diz.

Reviro os olhos. Estou tão bem que nem me importo com seus comentários.

- Como foi? - Esperança sussurra assim que senta no banquinho ao meu lado enquanto tiro a maquiagem.

Como eu diria? Resumiria que minhas pernas estavam parecendo gelatina e que não fazia ideia de como eu havia andado até o camarim?

Era certo falar, já que também lhe perguntei como havia sido sua primeira noite, e ela, doce, me contou tim tim por tim tim.

- Não sei nem como começar, Esperança... - Meus olhos brilham.

- Estou curiosa, Hedonê, vamos... me conte...

(...)

Entro em casa cansada, querendo apenas tomar um banho e dormir. Agora com vinte e dois anos, sentia... nenhuma diferença. Encaro meu celular e nele marcam quatro e dezessete da manhã. Bem mais tarde que o horário habitual em que volto. Tirando a roupa ainda no meio do caminho, entro no banheiro e ligo o chuveiro, deixando a água quente absorver todo meu cansaço. Fecho os olhos e deixo a água cair em meu cabelo, lavando-o e aos poucos, flashes da minha noite com Richards vem.

Em toda minha vida, jamais tive uma noite de sexo tão quente e intensa. Ensaboo meu corpo me lembrando das mãos grandes e grossas dele, de seu pau entrando e saindo de mim, da minha boca...

Abro os olhos e percebo que minha respiração está ofegante.

Bom, depois de tanto tempo sem sexo é até normal que esteja desse modo. Sedenta por mais.

Deixando as lembranças de lado, termino de me enxaguar e passo shampoo e condicionador rapidamente nos cabelos. Saio do box e me seco, me sentindo mais fresca, mas ainda quente.

Vejo minha cama e choramingo quando finalmente me deito nela, jogando a tolha na cadeira em frente a uma mesinha e apago.

- Helena! - Escuto um resmungo e abro os olhos, os fechando rapidamente com a claridade no quarto.

- Humm? - Resmungo para Eliara.

- São onze horas, Helena. Acorda!

São onze horas...

Abro os olhos agora com mais cuidado. O almoço.

- Já fiz o almoço. - Sua voz longe ecoa.

Soltando um resmungo, bufo em seguida, frustrada por ter de levantar. Saio da cama me arrastando. Ela estava acostumada a me ver nua, então já não nos importamos mais quando a outra estava sem nenhuma roupa. Amo a intimidade e cumplicidade que temos.

- Escutei quando chegou, por isso te deixei dormir. - Diz colocando a lasanha na mesa.

Vou até o banheiro e escovo meus dentes, já vestida de pijama. Voltando para a sala, encaro Eliara sentada no sofá, com as pernas cruzadas enquanto comia. Olho para a mesa e vejo meu prato já posto.

- Fez o almoço, é? - Dou uma risadinha da lasanha que compro congelada no mercado para que ela consiga fazer alguma coisa para comer. Ela sabia cozinhar, assim como eu, mas como a comida nem sempre era farta, optei por ter sempre comida congelada.

- Precisamos ir ao mercado.

Pego meu prato e me sento ao seu lado, acompanhando-a ao filme Passageiros.

(...)

Terminando de colocar a última comida na geladeira, suspiro de cansaço. Como havia um mercadinho aqui perto e era em conta, sempre íamos comprar algumas coisas básicas. A campainha toca no momento em que estralo as costas. Eliara pula do sofá e abre a porta, e como um furação, Carie entra com algumas sacolas na mão.

- Estou possessa! Pos-ses-sa, Helena! - Fala brava.

- Oi pra você também. - Eliara ironiza e Carie vira para ela, dando um oi e bagunçando um pouco seu cabelo.

- O que aconteceu? - Pergunto e ela coloca as sacolas na bancada, tirando dois recipientes de sorvete para fora.

Ih, a coisa não era boa.

- O desgraçado terminou comigo! - Abre um pote e vai em minha direção, abrindo a gaveta para pegar algumas colheres e taças de sobremesa.

Coloco a mão na frente da boca, escondendo minha risada.

Carie me encara, semicerrando os olhos, e de repente, ela os arregala.

- Você transou! - Afirma e aponta uma colher em minha direção.

- O quê? - Eliara e eu dizemos ao mesmo tempo.

- Ah meu Deus. Me conta como foi! Nem sabia que você estava saindo com alguém. Por que você nunca me conta as coisas? - Exclama cruzando os braços em frente o corpo.

Realmente, não contei sobre a parte do club. Até hoje tenho medo de julgamentos. Tia Elizabeth é um ótimo exemplo para tal. Aquela matraca falava tudo pelos ventos e ela raramente estava certa, mas tinha que engolir por ser a única disponível para cuidar de meu pai.

- É por que não estou.

Isso é uma meia verdade. Não estava saindo com ninguém de fato, mas havia transado. E muito.

- Se ela estivesse saindo com alguém eu com certeza saberia. - Eliara entra no meio, me ajudando a esconder sobre o club.

Certo, mas isso agora mostra que Eliara entendeu que eu havia aceitado fazer sexo em troca de dinheiro, o que não queria que ela soubesse tão cedo.

- Vocês duas são cúmplices, sei que está mentindo, Tampinha.

Eliara mostra língua para Carie quando ela a encara. Eu sabia que minha amiga faria qualquer coisa por mim e por minha irmã, exatamente como nós faríamos a ela. Era o jeito de ambas se comportarem juntas.

- Eu tenho treze anos, posso crescer, diferente de você, Estranha.

Carie revira os olhos com a referência de Carie, a estranha e continua com seu trabalho de colocar os sorvetes nas taças.

- Como vai seu pai? - Pergunta e decido prender meu cabelo.

Encaro Eliara que observa atentamente o sorvete de Carie e volto a minha amiga. Meu silêncio e o modo como olho para minha irmã faz com que ela dê o sorvete primeiro a Eli, que sorri e volta a prestar atenção no programa de TV sobre perguntas e dinheiro.

- O que houve? - Sussurra para mim.

Suspiro e puxo um dos bancos e apoio meus cotovelos na bancada.

- O quadro dele piorou. As medicações ficarão mais intensas a partir de agora, assim como sua saúde que já está fraca, irá ficar mais debilitada. - Termino com os olhos cheios d'água.

- Ô amiga. - Exclama também com os olhos lacrimosos e vem ao meu lado, me abraçando.

Eu tinha muita sorte de tê-la como amiga e Eliara como irmã. Ambas me davam forças pra continuar e era só isso que preciso. O amor e o carinho das duas meninas mais importantes da minha vida.

Duas faces de Hedonê [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora