CAPÍTULO 1

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  Mi Rae estava longe de ser uma garota atraente. No entanto, curiosamente, chamava atenção por onde passava. Com roupas de cores vibrantes e acessórios peculiares, ela fazia com que as pessoas questionassem se havia nela um bom senso ou mesmo se existiam limites para gostos pessoais. Certamente, a moda não se fazia presente em seu estilo de vida incomum.

  Naquela manhã, Mi Rae usava um vestido rosa que ia até os joelhos e, para combinar, uma bolsa de morangos. Estava em dúvidas sobre que sapatos usar: Rosa bebê ou rosa forte?

  Ela optou pelo rosa bebê. Sua combinação de roupas não podia ficar demasiadamente extravagante.

  Havia uma coisa sobre o humor de Mi Rae que poucos conheciam: Ela nunca estava de bom humor. Embora estivesse sempre sorrindo, por dentro Mi Rae sentia vontade de desaparecer. Principalmente durante as segundas-feiras. O dia da semana em que seu chefe, Kim Sung Ha, mais detestava. Enquanto esperava o elevador, Mi Rae questionou-se o porquê de também odiar aquele dia por causa do Sung Ha.

   As portas do elevador se abriram e, por um milésimo de segundo, Mi Hae confundiu com as portas do céu quando Ji Wook, seu vizinho do lado, surgiu. Sua aparência era como a de um anjo, certamente. Cabelos cor de mel, sorriso encantador, até mesmo as covinhas nas bochechas eram perfeitas.

   Ele se curvou, sorrindo para ela, e Mi Hae sentiu como se todas as borboletas no seu estômago estivessem batendo asas enlouquecidamente.

    Ji Wook se curvou, sorrindo gentilmente, e a cumprimentou.

— Bom dia, srta. Park.

  Ah, essa não! Mi Hae estava perdida. Como poderia existir alguém tão gentil às sete horas de uma segunda feira?

   Inesperadamente, Mi Hae começou a reunir toda a coragem que havia dentro de sí. Era assim que deveria ser. Ela não queria mais passar despercebida por ele ou apenas se contentar com "Bom dias" casuais.

— Ji Wook — Ela falou, mais alto do que gostaria. Ele se virou para ela, surpreso. — Quero dizer… An…

— Pois não?

  Aqueles segundos de coragem estavam se esvaindo pouco a pouco dando lugar à sua insegurança novamente.

— Você, é…  você e eu...

  Eu sou uma burra! — Mi Hae pensou, frustrada consigo mesma. 

   Afinal de contas, bastava olhar para ele e em seguida para ela para saber que Ji Wook jamais aceitaria o convite de sair para jantar. Ela não poderia ser tão gananciosa a ponto de alimentar esperanças de que isso poderia realmente acontecer. Se não fosse por ela morar ao lado do seu apartamento ou por Ji Wook ser tão legal, eles jamais trocariam quaisquer palavras. Nem mesmo um mero bom dia.

— Tenha um bom dia você também — Disse Mi Rae.

— Obrigado!

   Ji Wook saiu e junto dele se foi a oportunidade que ela nunca teve.

   Pegar ônibus lotado era algo que fazia parte do cotidiano de Mi Rae. Não podia se dar ao luxo de pagar por um táxi. No entanto, naquela maldita segunda, ela precisou se ofertar com esse agrato nada bem vindo. Mi Rae estava sem sorte, havia perdido o ônibus. O próximo passaria em uma hora, mas estava fora de cogitação se atrasar. Por isso, se obrigou a pedir um táxi.

   No caminho para a empresa, Mi Rae foi contando as moedas que haviam em sua bolsa e mesmo com todas elas tilintando umas nas outras não eram o suficiente para pagar por ela aquela viagem. Ela choramingou. O que faria?

   O motorista estacionou o veículo em frente ao prédio e Mi Rae agiu impensavelmente. Ela abriu a porta e correu.

— Ei, ei, senhora! — O taxista gritou, deixando o veículo e a seguindo. — A senhora esqueceu de pagar pela viagem. Senhora!

   Ele correu atrás dela através do fluxo de pessoas. Mi Rae quis chorar. Por que ela estava agindo daquela maneira? Por causa do seu maldito chefe havia virado uma criminosa. Para ela, era melhor ir para a cadeia a ter que se atrasar no emprego.

  Estava prestes a despistar o homem quando, na entrada da empresa, ela esbarrou em algo e cambaleou para trás, um pouco desorientada. Sung Ha virou-se lentamente e ela definitivamente desejou morrer.

— O que faz essa garota correndo a esta hora da manhã feito uma maluca? — Indagou ele, mau humorado.

  E o que faz este homem a esta hora da manhã esbanjando seu humor ácido feito um rei demônio? — Quis dizer ela, mas, ao invés disso, ficou em silêncio.

  O taxista conseguiu alcançá-la. Ela intuitivamente se escondeu atrás do vice presidente, temendo que o taxista a agredisse.

— Você... — Apontou ele, se inclinando para a frente enquanto tentava recuperar o fôlego — Você precisa pagar pela corrida. Caso contrário, chamarei a polícia!

   O CEO lançou um olhar afiado para Mi Rae por cima do ombro.

— Do que ele está falando? — Perguntou Sung Ha para ela.

— Como posso saber? Eu nunca o vi em toda minha vida. — Mentiu Mi Rae.

— Como você pode dizer isso? — Gritou o taxista, sentindo-se ofendido — A pouco você entrou no meu carro e agora não quer pagar pela viagem, sua vigarista de uma figa!

   O taxista avançou na direção de Mi Rae, mas antes que ele pudesse pôr as mãos nela Sung Ha entrometeu-se na frente, o impedindo.

— Se você quiser espancá-la, espere até que ela saia do trabalho — Disse Sung Ha. — Não faça isso na frente da minha empresa quando há tantas pessoas olhando.
  
  Por um momento Mi Rae achou que ele estava a defendendo. Havia se esquecido momentaneamente de quem se tratava o homem à sua frente.

  Ela espremeu os olhos, sentindo uma dor aguda na cabeça.

  Aquele dia tinha mesmo que começar daquela maneira? 

— Você é o responsável por ela? — Indagou o taxista. — Ótimo, então pague você.

— Quanto ela deve? — Perguntou Sung Ha, tirando a carteira do bolso do casaco.

  Oh, não!

  No momento em Sung Ha pagasse por aquilo, a alma de Mi Rae estaria sendo vendida ao diabo. Ele nunca a deixaria sair daquela ilesa. Cobraria por aquilo para o resto de sua vida. Mesmo que a dívida não fosse alta, ele a faria ser.

  Mas, caso contrário, como ela pagaria o taxista? Agora que a sua consciência voltava ao normal, ela começava a se dar conta da besteira que havia feito. Afinal de contas, aquele taxista tinha uma família para alimentar.

  O CEO tirou algumas notas da carteira e entregou ao taxista. Que aceitou satisfeito.

— Acho que o senhor deve começar a rever os seus funcionários. — Aconselhou o taxista, guardando as notas no bolso. — Pessoas como ela não passam de parasitas para a sociedade!

   Ele a olhou novamente por cima do ombro. Mi Rae continuava encolhida atrás das costas de Sung Ha. 

— Concordo — Sung Ha disse com um tom ameaçador. — Talvez eu deva realmente rever essa questão.

*
*
 
O elevador tinha alguns metros quadrados, mas não o suficiente para que Mi Rae pudesse se esconder das garras de Sung Ha. O silêncio estava ensurdecedor enquanto eles aguardavam o elevador passar pelos intermináveis andares. Mi Rae não tirava os olhos do indicador, enquanto se espremia contra a parede, tentando ficar o mais distante possível do CEO.

— Você só continua aqui por causa do meu pai. — Disse ele, chamando a atenção de Mi Rae. — Caso contrário, já estaria na rua a muito tempo.

  As portas do elevador se abriram e Sung Ha ajeitou a gola da camisa branca. Ele estava furioso. Costumava fazer aquilo quando queria expressar sua raiva, mas não podia.

— No entanto, um dia a mandarei para bem longe. Custe o que custar.  — Completou, deixando o elevador.

  Os joelhos de Mi Rae enfraqueceram e ela se arrastou pelo metal frio atrás de suas costas até o chão. As portas do elevador fecharam.

  Mi Rae estava descendo, em todos os sentidos.

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