Rosa é a cor de Maria

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Rosa é a cor de Maria

     Todo dia era a mesma coisa: Maria ladrava, Maria brigava, Maria cansava. Era chato caso eu perguntasse:

– Maria, por que tens tanto ódio de mim?

     Na verdade, ela me amava, mas não queria aceitar. Parecia julgar-me a cada instante. Morria de fome, porém não tinha sede. Eu corri para fora da casa a fim de alcançá-la, deixando todo o suco em minhas mãos estilhaçar-se em pedaços grossos de vidro temperado.

     A aflição me tomava o suco caído. Eu nem tinha tomado banho, mas isso era realmente relevante? Caso fosse realmente uma situação constrangedora, eu estaria amedrontado, talvez até mesmo com sono. Entendeu a bagunça dessa situação? Eu ainda ousaria gritar:

– Maria, volte aqui!

     O homem, que estava me encarando com medo, estapeava o ar, agitando-se no meio da rua. Maria fugiu de mim para os braços de um desconhecido. E que braços...! Intentaria a provar de minha própria sorte – ou fraqueza, seja lá o que quiser chamar –, mas não obtive sucesso. Sou um fracasso até com Maria, imagina com o pobre sujeito.

     Eu estava prestes a surtar quando fez-se um silêncio atroador! Evidentemente isso foi na minha cabeça extremamente enlouquecida, porque passavam alguns carros, mesmo que ainda estivessem desviando pela beirada da rua. O sorriso do homem foi sincero e eu podia sentir isso. Os portões da minha casa abertos ao mundo, uma fugitiva, um doido e um humano de camisa listrada. Seria capaz ainda de dizer o quanto foi prazeroso, depois do sorriso, ver Maria reconhecendo-o. Foi ainda melhor reconhecê-lo. Na verdade, depois disso que eu fui comparar sua pele rosada com o tom que Maria carregava em suas costas.

     O homem levava consigo um buquê tão bonito quanto ele. Admirei sua ousadia, acompanhado da própria cadela, de me entregarem um ramo de flores. Ele sabe que eu odeio flores... Acho que fez de propósito, mas eu nem ligo. Só queria abraçar e lhe dar o que quisesse. Ainda não sei porquê me assustei tanto a ponto de deixar toda a correria, as brigas e as discussões com Maria me afetarem. O copo ainda estava lá no chão. E uma das flores por cima da cachorra.

     Maria rosnava, Maria lutava, Maria pulava. O homem ainda queria ser meu namorado, mas não ia me conquistar com rosas. Então, o ramalhete foi para justamente enaltecer o fato de se importar mais com um animal do que com seu semelhante. Maldito seja aquele homem! Amo os dois, mas eles me odeiam. O luxo do meu furor é minha única arma. Ele me beija, pego Maria no colo e fecho o portão. E ainda ouso declarar:

– Maria levada!

Cores e DoresOnde histórias criam vida. Descubra agora