Capítulo três

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A bebida descia ardendo pela garganta de vários ali que ouviam mais uma música genérica de bar, a maioria estava ali porque o dia não havia sido fácil. A única coisa que ouviram foi a inesperada morte de um velho na última noite. Ninguém ali queria ouvir mais uma vez o nome do falecido, só queriam esquecer e passarem despercebidos como faziam toda noite.

Os que serviam a bebida eram, definitivamente, os que mais sofriam com essa história, naqueles milésimos segundos que vinham encher novamente o copo, os clientes escolhiam falar os absurdos boatos que ouviram no dia. Elas iam desde que Carlos era um traficante até que tinha sido um crime de paixão, mas tudo o que eles realmente queriam era terminar seus turnos e irem para casa.

As apostas estavam rolando, elas tinham que ter o motivo e quem para serem validadas. E por razões de não haver muito entretenimento por ali, os participantes se exaltavam e repetiam para todos:

―Venham, venham! Talvez esse seja o único caso que aqueles babacas conseguem resolver!

Os outros alterados iam na onda.

―Tem tanta certeza assim? Mal conseguem colocar suas caras por aqui e agora querem brincar de detetives?

As risadas recheadas de desgosto se espalharam, muitos ali não entendiam toda a comoção daquele lado. Haviam tantos outros parecidos ou até mesmo iguais ao falecido, não seria tão difícil achar alguém para substituir.

Quando ela aparece no palco, o silêncio invadiu e era até mesmo possível ouvir os passos dos que lentamente entravam. Era o dia da tão esperada Rachel cantar, e todos ali respeitavam isso, não só porque ela cantava bem em um bar de quinta categoria, mas porque todos ali reconheciam o que ela fazia para todos que moravam daquele lado. Ela era a esperança de que um dia eles iriam mudar sua situação.

E definitivamente era esse tipo de esperança que Vega e Deneb esperavam encontrar quando falassem com ela mais tarde, Rachel conhecia muitas pessoas poderosas de ambos os lados e torciam que todo aquele poder pudessem salvar suas bundas daquilo que haviam se metido.

―Espero que vocês tenham dado bastante gorjeta para os que te serviram hoje, pois se forem contar as garrafas que gastaram, provavelmente não conseguiriam de tão bêbados.

Ninguém ali sabia diferenciar se aquilo era uma bronca ou apenas brincadeira. Alguém decidiu arriscar:

―Qual é, Rachel? Dá um desconto por hoje.

Os olhos dela se encolheram pelo sorriso abaixo, o suspiro do corajoso escapou, havia sido uma brincadeira.

―Que tal então algo mais leve? Mas não esperem que atenderei pedidos, conhecem as regras.

Rachel não aceita pedidos. A maioria pensou, tanto tempo frequentando o bar e ela ainda não havia cantado uma música que alguém sugeriu. A melodia ao fundo começou e por mais bonita que fosse não conseguiu relaxar os músculos tensos das irmãs que por fora exibiam a bela carranca, mas por dentro estavam cagando de medo que aquilo não desse certo.

―Tem certeza que isso vai dar certo?―Deneb perguntava baixinho entre olhares medrosos.

Honestamente, Vega não tinha a menor ideia das opções que poderiam dar certo para as duas naquela situação. Eram suspeitas, aceitando ou não, nem o melhor advogado da cidade havia aceitado aquele caso, mesmo com todo o dinheiro das meninas. Aquilo era maior que uma simples briga de tribunal, era uma guerra entre lados, e alguém iria pagar por aquilo, culpado ou não.

―Se aqueles nomes poderosos na agenda de Rachel não nos servir para algo, então provavelmente podemos declarar oficialmente que estamos fodidas.

Mal sabiam que a cantora já esperava a visita das duas desde que foi anunciado a morte do homem, fora ela que havia incentivado as duas a irem a Voz do Povo exigir seus direitos. E aquele ponto, ela já havia previsto que seriam suspeitas, afinal era a forma que aquela cidade funcionava.

As pessoas começavam a ir conforme o sol dava sinais de vida, os funcionários já iam a despensa pegar os produtos e deixar aquele lugar pronto para a próxima noite, e Rachel se retirava para os fundos onde de relance olhou para as irmãs convidando para adentrar.

O corredor parecia cada vez menor conforme avançavam, pequeno demais para três pessoas, além da escuridão que envolvia onde eram guiadas por um único solitário feixe de luz que escapava pela fresta da porta. Já haviam percorrido aquele caminho muitas vezes, não se consideravam super amigas da moça, eram mais como parceiras de trabalho. Contudo, Rachel não roubava e matava de vez em quando, ela era mais como uma justiceira e sua arma era na verdade sua boa lábia, conseguiu convencer muitos paletós a contratar alguns deles e casas de boa qualidade para famílias. Agora teria que usar esse poder para não só salvar aquelas irmãs estranhas e sim uma parte inteira de cidade.

O escritório parecia mais com um campo de batalha depois de anos, todo desarrumado e manchas secas de sangue de origem desconhecida. Num canto havia um empilhado de cartas, que Deneb encarava enquanto entravam.

―A maioria são famílias que precisam de ajuda para pagar contas e a outra parte, bem...―seus olhos viajaram por um milésimo―De pessoas que não consegui ajudar a tempo.

As duas se sentavam nas cadeiras arranhadas, se fechasse bem os olhos, iria até parecer uma entrevista de emprego.

―Acho que já ficou sabendo que somos suspeitas de assassinato.―Deneb disse enquanto seus olhos se perdiam nos vários detalhes da sala.

―E precisam da ajuda da tia Rachel?―um risinho escapou.

Vendo que nenhuma reação saiu dos rostos das irmãs, ela assumiu a face séria que costumava usar em situações como aquela.

―Sei que o detetive Falcon foi visitar vocês, e por mais que a cara de bunda dele mostre, nós sinceramente não sabemos se ele é bom ou não, até porque nenhum deles nunca nem tentou resolver um caso antes—a cada palavra Vega encolhia mais―Porém, há algo diferente dessa vez, vocês não são culpadas, então terão que agir assim.

―Mas ainda precisamos que o juiz acredite nisso. ―Deneb com a voz sarcástica que dizia o óbvio.

O sorriso convencido surgiu com esse disparo dado no rosto de Rachel.

―Vocês esquecem que todos eles estão doidos para esfolarem vocês vivas―os pares de olhos quase saíram da órbita―E é por isso que dessa vez, iremos usar a voz do nosso povo para defendê-las e não é um velho de roupa larga que vai dizer o contrário. 








Quem é vivo sempre aparece. Dá um votinho pra aquecer o coração da tia aqui. 

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⏰ Última atualização: Sep 08, 2020 ⏰

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