3 anos depois.


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Roman's POV:


"Ei! Acorde, seu idiota." - Eu ouvi, levantando-me em um sobressalto.

"Hum?" - balbuciei, ainda meio que dormindo.

Olhei para cima e, felizmente, era apenas meu amigo Tyler me acordando, e não o professor.

"Quando é que você vai finalmente entender que os professores nunca vão gostar de você se continuar dormindo no meio das aulas?" - Ele questionou. - "E nem as garotas, porque você baba e é muito feio, cara."

Levei minha mão diretamente até a boca para limpar qualquer tipo de baba, mas não tinha nenhuma. Apenas levantei o dedo do meio para ele, que riu.

"Olá, meninossss!" - Ouvi de longe uma voz.

Não precisava me virar pra saber automaticamente quem estava falando.

Era Sarah. Sim, espero que você leia isso na entonação mais babaca que você conseguir imaginar para um cara que fala o nome da menina que ele gosta.

Ela veio andando naturalmente enquanto, na minha cabeça, eu repassava aquelas cenas de filme na qual a moça vinha até você em câmera lenta, com os cabelos aos ventos e sorrindo perdidamente.

Tentei consertar o sorriso idiota que estava saindo da minha boca.

"Oi!" - Eu disse, mais alto do que eu gostaria. 

Ela riu.

"E ai, Sarah, como foi o fim de semana?" - Ty perguntou.

"Cheio de estudos, já não aguento mais essa matéria." - Ela fez menção ao professor que estava  para chegar.

Eu revirei os olhos, os dois nerds iam ficar falando da faculdade até a aula começar. Deitei novamente sob a mesa e tentei fingir que meu coração não estava saindo pela boca.

Quando essa sensação ia passar? Já tinham se passado pelo menos uns 7 anos.

"Você dormiu de novo na aula do Sr. Jackson?" - Ela perguntou enquanto dava tapinhas na minha cabeça só para me irritar.

"Não posso fazer nada se a voz dele soa exatamente como uma canção de ninar."

"Besta!" - Sarah falou, dando tapinhas mais fortes dessa vez.

"Ouch!" - Eu reclamei, apesar de não ter doído.

O outro professor chegou na sala de aula e todos nos sentamos. Tentei não dormir, o que não foi tão difícil dessa vez, já que Sarah sentou exatamente na minha diagonal da frente, significando que eu poderia admirá-la pelo tanto que eu quisesse sem que ela percebesse.

Sarah prendeu seus cabelos castanhos claros em um coque como ela fazia toda vez que precisava focar em algo. Isso me levava diretamente à memória que eu tinha de quando nós dois ficávamos até mais tarde na escola para pegar os plantões de física. Não que ela precisasse, mas ela ficava para me ajudar a entender aquelas malditas equações, sempre puxando o típico coque antes de se estressar com a minha falta de interesse na matéria. Mesmo assim, ela nunca desistia de me ensinar até eu aprender. 

E aqui estamos, depois que eu a conheci na sétima série e me apaixonei a primeira vista pela garotinha dos olhos cor de mel que sentava na primeira fileira, toda certinha. E eu era o cara que precisava sempre estar na última carteira pra fazer bagunça e não ser notado, justamente alguém alvo de toda a raiva dela.

Essa raiva se transformou em amizade depois das tantas vezes que eu puxava o mesmo coque recém formado por ela, fazendo ela perceber, um dia, que eu era péssimo na escola e se compadeceu a me ajudar.

Não me entenda mal, eu não sabia o que fazer com o meu futuro, então simplesmente decidi continuar no mesmo caminho que ela estava indo, porque sabia que assim não seria tão infeliz. Não tinha como, se ela estaria por perto.

Ambos fomos para a faculdade de Direito e, te garanto, quase não passei. Reprovei em algumas matérias aqui e lá, mas sempre tinha a ajuda dela e de Ty, os mais inteligentes da sala, pra não ficar pra trás em tudo.

Virei pro lado e olhei meu amigo digitando como um maluco no computador do lado, sabendo que ele estava anotando até as vírgulas do que o professor dizia. 

Sorri em desdém.

Eu sabia que ele era muito mais inteligente que eu, mas adorava aquele cara. Ele me levava pra todas as festas mais bacanas da área e sempre me tratou bem, Deus sabe lá porquê. Ficamos amigos instantaneamente no primeiro ano de faculdade depois de um trabalho em grupo absurdo que um professor passou e nunca mais paramos de andar juntos.

A aula acabou mais rápido do que eu esperava entre meus pensamentos.

"Ty, posso pegar suas anotações hoje? Acho que não estou conseguindo prestar atenção em nada porque ainda estou com sono." - Pedi à ele.

"Claro, claro. Muito ocupado olhando para outros lugares, não é mesmo?" - Ele deu uma risadinha.

Eu não entendi, e apenas agradeci quando recebi o e-mail com suas anotações.

"Tchau, meninos, eu já vou!" - Sarah disse, levantando-se.

"Mas já?" - Perguntei.

Eu lembrei. Era uma quarta-feira e em todas as quartas ela ia até a terapeuta dela, desde aquele incidente. O dia que eu só fiquei sabendo que aconteceu duas semanas depois e, mesmo assim, ainda me dá arrepios.

Sarah quase morreu quando caiu daquele navio durante a viagem na Grécia e até hoje não entendi muito bem, mas parece que alguém corajoso se jogou em alto mar com uma boia enorme e conseguiu salvar ela de se afogar. 

Toda vez que tento conversar com ela sobre isso, ela diz que não se lembra nem do resto da viagem, é como se ela tivesse colocado uma trava na memória pra não sofrer de novo. 

Suspirei alto e me preparei pra ler as notas de aula entendiantes, pensando se a terapeuta conseguiria um dia fazer ela lembrar... 

"Foco!" - Ty gritou para mim.

E, assim, mais um dia foi passando.


Memories of BlueOnde histórias criam vida. Descubra agora