O teto cinza e sem graça do meu quarto nunca tinha sido tão interessante quanto naquele momento. Até porque eu estava altamente chapada.
As nuvens cinzas no teto se movendo de forma harmônica me traziam sensações bem opostas, como tranquilidade e desespero. Era prazeroso observar aquilo atentamente, mas se eu focasse muito nessa alucinação, era certo que eu teria uma deliciosa crise de pânico, acreditando que aquelas nuvens iriam me engolir.
Eu me encontrava em um êxtase tão profundo que até escutei alguém chamar o meu nome.
— Mavis. Mavis!
Vinha de longe e parecia se aproximar mais e mais. Porém, eu comecei a achar que aquilo não era mais uma alucinação. E tive certeza disso quando a porra da minha irmã entrou no meu quarto batendo a porta, aos berros.
Isso só não me fez pular de susto da cama, como também fez o meu cérebro me castigar por tomar um alucinógeno tão cedo. Tudo ficou lento demais, começando com uma dor de cabeça aguda e logo em seguida a visão distorcida para quase tudo na minha frente. Minha irmã estava parada na porta do quarto, com os seus bracinhos tortos na sua cintura contorcida e uma expressão facial bizarra.
— Que cara é essa? Parece que viu um fantasma — disse ela num tom desconfiado. — Estava se masturbando à essas horas?
— Talvez eu tenha visto. Você me assustou — resmunguei, desviando o olhar para qualquer canto. Eu preferia deixar ela acreditar que eu estava tocando uma do que pensar que eu estava drogada às 7 da manhã.
— Foi mal atrapalhar a sua siririca, mas é que você está atrasada. Anda, se levanta. Saímos em 15 minutos — Cody alegou antes de deixar o quarto.
Eu suspirei, sendo obrigada a aceitar o primeiro desafio do dia. Dificilmente uma pessoa bastante alterada conseguiria realizar tarefas em apenas 15 minutos, mesmo que fossem cotidianas.
Mas a prática leva à perfeição. E, quase dentro do tempo estimado, eu já estava pronta para ter um bom dia educativo no colégio Winterlake Highschool. Foi um tremendo desafio descer a escada, que mais se parecia uma escada rolante se locomovendo lentamente para cima. E quando eu vesti o meu casaco eu pude ter certeza que uma estrela flamejante estava me abraçando, tipo o Sol.
Caralho, preciso ficar sóbria.
— Bom dia, pai. — Sorri para o velho que vinha da cozinha e passava por mim, vestindo suas cuecas shorts por baixo de um roupão de seda, enquanto carregava uma xícara de café em uma mão e um jornal na outra.
Eu estava mesmo de bom humor para ter feito isso, mas não era como se o clima de manhã fosse agradável, ou muito menos como se eu tivesse uma relação familiar boa com as pessoas dessa casa. Às vezes parece que todos aqui são estranhos.
Tanto que meu pai apenas olhou brevemente para mim e depois virou a cara, seguindo até a sala sem dizer uma palavra. Eu ri da minha própria estupidez. Acho que é melhor não estar sóbria.
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HIGHLY SOBER
Novela JuvenilConsiderada famosa pelo seu passado conturbado e e o seu pequeno vício em drogas ilícitas, Mavis Young claramente não é lá uma das melhores garotas de Valleyview, exatamente como Nick Reeves, que é um rapaz problemático que acabou de voltar ao colég...