Primavera II

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Eles estão em um café pequeno no centro de Londres, o sol está se pondo rapidamente e há uma pequena cesta de vime no centro da mesa cheia de flores silvestres, o aroma exalando um fragor calmante. John se sente incomumente satisfeito enquanto ele escuta Sherlock falando sem parar, deduzindo os outros clientes e sorrindo das coisas mais inapropriadas. John o acompanha facilmente nesses sorrisos percebendo que Sherlock não é, nem de longe um homem politicamente correto. Eles conversam por horas, Sherlock dizendo que no momento não há nenhum caso que careça de sua atenção.

É quase intolerável quando o tempo deles parece estar perto de acabar. O sol se pôs há algum tempo agora e as luzes dos postes estão acesas. As ruas estão lotadas de jovens passeando e rindo, tão vivazes, e pela primeira vez em tantos meses John não se sente invejoso deles. Uma das mãos de Sherlock encontra-se em cima da mesa, seus dedos longos descansando contra a madeira rústica. John resolve arriscar e levanta sua mão à mesa também, deixando seus dedos tocarem levemente os de Sherlock. É um prazer indescritível quando o jovem não afasta e opostamente retorna seu toque. Seus dedos brincam com toques leves, as pontas dos dígitos acariciando a pele, e é inocente e muito menos invasivo do que John pensara que Sherlock poderia ser dada as suas tendências comportamentais de deduzir uma pessoa do primeiro fio de cabelo ao último dedo do pé.

Sherlock acaricia a parte interna pulso de John e é como se ele tivesse recebido a descarga de uma corrente elétrica, aquele único ponto de contato fazendo-o vibrar internamente. John lambe os lábios e encara o olhar verdigris do detetive e há uma fome tão indisfarçada lá que faz as bochechas de John quentes e escarlates.

John engole em seco.

O celular de Sherlock toca quebrando o encanto do momento. Ele pega o aparelho e encara com reprovação por ter interrompido o que parecia ser um flerte de olhos bastante promissor e pede licença, levantando e se afastando um pouco para atender a ligação.

Sherlock volta momentos depois e senta novamente, a expressão dividida entre dois sentimentos que John não consegue realmente identificar, e suavemente ele diz:

— Eu tenho que ir. Celular? — ele estende a mão como um comando, uma palma em concha no ar e John se sente fora dos trilhos, mas tateia rapidamente o bolso de sua jaqueta que está na parte de trás de sua cadeira, pega o aparelho que Harry lhe presenteara e deixa cair na mão estendida de Sherlock.

Sherlock digita como um gênio dos celulares no aparelho de John.

— Pronto, agora você tem meu contato. — ele diz, ainda com suavidade.

Há uma pequena briga sobre quem vai pagar a conta e Sherlock lança uma dedução um pouco constrangedora sobre a situação de sua conta bancária e John acaba cedendo e o deixa pagar integralmente.

Eles se despedem na saída do café, Sherlock se inclina para baixo - o bastardo é alto - e deposita um beijo suave no canto da boca de John. O coração do loiro troveja e ousadamente ele se vira um pouco mais para capturar os lábios cheios do moreno. É um beijo casto, de boca fechada e não há línguas, apenas um jogo de lábios e uma mordida suave na parte inferior dos lábios de John que faz suas pernas tremularem.

Sherlock se afasta, uma mão na parte esquerda do rosto de John, tão grande que cobre do queixo à sua têmpora. Os dedos de violinista (agora John sabe que o homem é amante do violino) acariciam levemente a sobrancelha e a testa do ex-soldado. John se inclina para o toque involuntariamente, despreocupado que ambos possam estar fazendo uma cena pública, ele só se sente tão bem que não há como evitar orbitar em torno daquele homem louco e lindo, que ele apenas acabou de conhecer.

— Eu entro em contato, John.. — Sherlock diz e o beija novamente. Ainda é casto e perfeito.

— A propósito... — Sherlock completa com um sorriso tão ofuscante que só se compararia ao brilho do sol. — Você deixou sua bengala no corredor do hospital.

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