Capítulo 1

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O celular apitou com mais um pedido no final daquela tarde quente e Diego repetiu mentalmente que aquele seria o último, depois disso, iria para casa, comeria alguma coisa e tiraria um cochilo antes de sair para o trabalho de garçom. Estava cansado, as pernas formigavam e a cabeça doía depois do longo dia de corridas sob o sol quente de Campinas.

Desceu da moto com a mochila laranja da empresa nas costas e entrou na farmácia com o capacete na mão, já que não queria ser confundido com assaltante ou qualquer coisa do tipo. Se aproximou do balcão de atendimento e mostrou a tela do celular para a moça do outro lado. O pedido era um teste de gravidez, a especificação era que trouxesse o mais confiável. Diego não entendia nada daquilo, então apenas esperou que a farmacêutica soubesse o que fazer.

A mulher retornou um minuto depois, trazendo três marcas diferentes e espalhou as embalagens na frente dele, como que esperando que Diego decidisse qual iria querer levar.

-Olha moça, aqui diz que precisa ser o com menor chance de erro. -Indicou novamente a observação na tela do celular e a mulher olhou para ele.

-Pobrezinha, ela deve estar desesperada... -Comentou a mulher pensativamente, selecionando uma das embalagens e entregando para Diego. -Este aqui precisa esperar alguns minutos até sair o resultado, mas é bom, explique pra moça. As vezes no nervosismo, elas nem prestam atenção nisso e acham que o teste deu problema.

O motoboy assentiu mecanicamente. Não queria dar explicações para a cliente sobre como o teste funcionava. Se ela quisesse, que lesse as instruções. Colocou a sacolinha na mochila e voltou para a moto, encaixando o celular no suporte plástico e dando a partida, seguindo as direções informadas pelo GPS.

O bairro onde estava indo fazer a entrega não ficava muito longe do centro, o que era bom, porque chegaria mais rápido em casa. Avistou a casa térrea de portão de chapa com marcas marrom avermelhadas de ferrugem, conferiu o GPS e estacionou sobre a calçada,buzinando duas vezes e desligando o motor. Esperou por um momento, mas ninguém saiu da casa, então enviou uma mensagem pelo aplicativo, avisando que havia chegado e a resposta veio um segundo depois, pedindo que aguardasse um instante.

Incomodado com o calor daquela tarde de verão, tirou o capacete e o pendurou no guidão da moto, alongando as costas enquanto esperava pela chegada da pessoa que tinha feito o pedido. O portão ao seu lado estalou e um som metálico de algo sendo arrastado ecoou pela rua. Diego lançou um olhar curioso na direção do portão eletrônico, que abriu apenas uma pequena brecha, por onde passou uma moça que aparentava não ter mais que vinte e dois anos. Ela era bonita, a pele bronzeada do busto exibia marquinhas de biquíni, os cabelos estavam presos num coque despenteado e seu rosto de feições suaves tinha um vinco de preocupação entre as sobrancelhas finas.

Diego teve a impressão que conhecia aquela garota de algum lugar e não conseguir disfarçar enquanto a encarava boquiaberto. Como ela era bonita, ele pensou consigo mesmo, sentindo uma agitação estranha no peito. A moça se aproximou e parou ao lado da moto, segurando o celular em uma das mãos e a chave do portão presa no dedo pelo anel do chaveiro de metal com formato de coração.

Ele ainda estava sentado na moto e tirou a mochila das costas, a colocando sobre as pernas e abrindo o zíper.

-Aqui está, moça.

Diego pegou a sacolinha de dentro da mochila e entregou para a jovem de cintura fina e quadris largos. Ela olhou para ele com uma expressão perdida no rosto, de perto, pode perceber os olhos avermelhados de tanto chorar a as mãos trêmulas entrelaçadas em frente ao corpo. Por um instante, se compadeceu da situação da jovem e torceu para que ela não estivesse grávida. Do jeito como estava nervosa, era capaz de fazer alguma besteira. Foi nesse momento que a reconheceu. Ela morava na rua de sua avó e sempre Diego tinha uma queda por ela. Se chamava Juliana e era apenas alguns anos mais nova que ele. Será que ela se lembraria dele?

JulianaOnde histórias criam vida. Descubra agora