Capítulo 3

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Juliana pediu para Diego passar a primeira vez em frente a casa, mas sem parar, precisava ver se as luzes estavam acesas. Não iria descer se o namorado já tivesse chegado, não queria encontrar com ele, sabia o que ia acontecer caso ele soubesse que ela tinha saído e ainda pior, saído com um desconhecido.

Tudo parecia em ordem na casa, exatamente do mesmo jeito que ela havia deixado quando saiu, então deixou Diego fazer o retorno da rotatória no final da rua e voltar. Ele estacionou embaixo da árvore do vizinho, ficando oculto pelas sombras. Juliana desceu da moto já com a chave na mão, tirou a mochila laranja das costas e a devolvendo para o motoboy, depois foi a passos rápidos na direção do portão.

A iluminação da rua não era muito boa e para piorar a lâmpada do poste em frente a sua casa estava queimada. Olhou para ambos os lados, procurando por qualquer sinal de alguém escondido nas sombras, mas a rua estava vazia. Direcionou um último olhar na direção do amigo e abriu o portão, deslizando para dentro e deixando-o encostado.

Atravessou a sala como um jato, indo direto para o quartinho com a cama de casal. O armário onde guardava suas roupas tinha as gavetas desniveladas e uma das portas estava pendurada por apenas uma dobradiça, resultado da última briga que tiveram naquela casa. Juliana pegou a mala embaixo da cama e se apressou em enfiar tudo que podia dentro dela, as mãos tremiam ligeiramente e ela sentia que o coração podia saltar pela boca. Estava com medo, mas ao mesmo tempo feliz por ter tomado coragem para sair de casa.

Esvaziou a gaveta dentro da mala e se levantou para pegar as roupas dos cabides, não havia muitas, já que não podia sair de casa para comprar roupas novas. Quando estava fechando o zíper apressadamente, ouviu um barulho no portão e sentiu um calafrio percorrer a espinha. Segurou firme a alça da bolsa e correu de volta para a sala, pegando seu livro preferido de cima do rack da sala.

Antes que pudesse enfiá-lo dentro da bolsa, a porta se abriu com um estrondo, fazendo seu coração dar um salto. Pedro estava parado na entrada, uma expressão transtornada no rosto, os olhos viajaram direto para a mala que Juliana segurava na mão direita e um sorriso maníaco se formou em seu rosto anguloso.

-Você não está pensando em me deixar, não é mesmo amor?

***

Diego conferiu o celular uma vez mais, eram quase oito horas. Se debruçou sobre o guidão da moto e ficou observando o portão da casa. Uma fresta estava aberta e um feixe de luz iluminava a rua escura.

Um carro estacionou em frente ao portão, a luz forte dos faróis iluminou Diego, que apertou os olhos para ver quem estava chegando. Ele não teve um bom pressentimento. O veículo desligou e um homem alto e corpulento desceu do banco do motorista, guardando as chaves no bolso e batendo a porta. Ele parecia despreocupado até ver o portão da casa aberto.

Em três passadas largas, atravessou a calçada e escancarou o portão, seguindo para dentro da residência onde Juliana estava. Naquele momento, Diego soube que aquele era o namorado da moça e precisava fazer alguma coisa para impedir que uma tragédia acontecesse.

Desceu da moto, não se importando com a mochila laranja sobre o branco, pelo menos o capacete ainda estava com ele e correu na direção da entrada, sentindo os nervos à flor da pele. Quando passou pelo portão, ouviu o estrondo da porta de ferro da sala batendo contra a parede e o namorado de Juliana parado na soleira da porta, os braços abertos e as mãos firmes segurando o batente, barrando a saída.

Diego olhou ao redor, procurando por alguma coisa que pudesse usar para bater no cara caso fosse necessário, mas não havia nada. Ele estava desesperado e sabia que Juliana não sairia viva dessa vez, podia ver na postura do outro homem que ele não estava nada satisfeito com a fuga de sua namorada e iria fazê-la pagar por tentar fugir.

Parecia que o outro estava falando alguma coisa para a jovem, mas o capacete atrapalhava um pouco, foi quando teve uma ideia. Retirou o capacete e o segurou firme na mão direita, aquilo tinha que servir.

-Pedro, sai da minha frente. -Juliana falou com a voz trêmula.

-Você não vai a lugar nenhum, minha linda. -O namorado soltou o batente da porta e deu um passo para dentro da sala, na direção da jovem. -Não tem para onde ir, não se lembra? Você não tem mais ninguém além de mim. Ninguém gostava de você de verdade. Somos só nós dois, não podemos nos separar agora. Eu não vivo sem você, Ju.

Juliana deu um passo para trás, esbarrando no rack da televisão e tateou cegamente em busca de algo que pudesse usar para se defender. Fechou a mão em torno do troféu de futebol que Pedro ganhou no campeonato passado, ele foi o artilheiro do jogo da final. Um sorriso se formou no rosto do rapaz de olhos claros, quando ele viu o que a namorada estava fazendo.

-Você não vai estragar o meu troféu, não é mesmo?

Ela aumentou o aperto e manteve a mala junto de si, não iria largar nenhuma das coisas. Sabia que Pedro podia vir para cima dela ou trancá-la e esconder tudo.

-Juliana, larga esse troféu. -A voz de Pedro agora era como um trovão e ela tremeu, vacilando por um momento.

Foi o suficiente para o brutamontes partir para cima da jovem, atravessou a sala e desferiu um tapa forte na cara da moça, que se desequilibrou e foi ao chão, largando a mala e o troféu, levando as mãos ao rosto agora molhado de lágrimas. Ela tentou se levantar, mas Pedro já estava em cima dela, a segurando pelos cabelos, Juliana tentou gritar, mas com a outra mão, ele tapou a boca dela, quase a ponto de sufocá-la.

O estalo do tapa no rosto de Juliana foi como um gatilho para despertar Diego do torpor, o motoboy tomou coragem e entrou na casa empunhando o capacete na mão e desferiu três golpes com toda sua força na cabeça do namorado de Juliana, que cambaleou para trás, libertando a moça e encarou o rapaz antes de tombar para trás. Pedro era pelo menos umas duas vezes maior que Diego em largura e força, numa briga, era claro que ganharia se tivesse a chance. Por isso, o motoboy não podia esperar que o outro se levantasse, então deu um chute em suas costelas, sentindo os ossos quebrarem com o impacto, o que fez o outro se encolher no chão com um gemido enfurecido.

Aquilo não foi suficiente para nocautear o brutamontes e Diego sabia que ele viria atrás deles para acertar as contas. Como um último golpe, acertou o capacete na cabeça do namorado de Juliana mais uma vez, que caiu desacordado ao lado do sofá bege da sala.

Diego não queria esperar para ver se o outro estava muito ferido, virou-se para Juliana e a sacudiu pelos ombros, ela parecia congelada, vidrada na cena em sua frente.

-Vamos, nós temos que ir! -Diego gritou, a levantando e pegando a mala caída ao seu lado.

Ele praticamente teve que arrastar a moça para fora da sala, as pernas dela pareciam ter travado. Diego fechou o portão e se apressou até a moto, colocando Juliana atrás e subindo atrapalhado. Girou a chave no contato e o motor urrou no meio da escuridão da rua, a jovem envolveu os braços ao redor dele com força, suas lágrimas molhando o tecido da camiseta dele e as mãos geladas e trêmulas resvalaram em seu braço. O ódio ainda viajava nas veias de Diego, turvando seus pensamentos, levantou o apoio da moto e acelerou, sumindo na rua e deixando aquela cena horrível para trás.

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