A política instantânea adotada pelas duas pessoas do gênero masculino daquele grupo de amigos foi de silêncio absoluto. Não comentariam o que aconteceu, não trariam o assunto à tona e não citariam nenhum nome ou termo relacionado a cena porque sabiam o quanto aquilo era violento para Morgana e para a maioria de pessoas transexuais. Pessoas aleatórias talvez não entendessem o quão um "simples" pronome afetava a vida de alguém tão profundamente, mas pense, por exemplo, que a partir de amanhã todos comecem a te chamar pelo nome errado. Não precisa nem ser do gênero oposto, só um nome errado. Você corrige algumas pessoas, mas a grande maioria ainda insiste no erro e alguns dizem que isso é uma bobagem, que você não deveria se importar de não ter a sua identidade reconhecida socialmente, que "é só um nome". Não é só um nome. Nunca vai ser. É como você se reconhece e se posiciona perante ao mundo. E sabendo de tudo isso a falta total de falas só foi quebrada quando eles entraram na sala do coletivo LGBT que participavam.
Harry acendeu as luzes, Niall arrastou uma cadeira pra trás e pegou a bolsa da amiga, que se sentou. Uma vez que ouviu-se a porta se trancar pelas mãos de Harry, o destino doou os mais demorados três segundos. E então, o apocalipse.
Era um choro alto, doído, desesperador. Tampou o próprio rosto com as mãos e de repente as unhas tão bem pintadas feitas no dia anterior não faziam mais sentido. De repente o cabelo retocado a tão pouco tempo em uma tonalidade de floresta brilhante não fazia mais sentido. De repente o reflexo no espelho, a luta, a conquista, as roupas, a sala, a vida... Nada fazia mais sentido. Era só o choro que fazia sentido. E esse non-sense durou por dois minutos aproximadamente. Foi quando seu coração se acalmou e ela começou a entender o mundo novamente.
O mundo que nunca foi composto de pessoas boas e ruins, mas sim de erros e acertos. O mundo que nunca se polarizou entre características fixas, mas em atitudes. O mundo em que sim, ela deveria ser compreensiva e didática em muitos momentos, mas nunca deixar um homem como Tomlinson gastar sua disposição e paciência.
Ele tinha livros. Ele tinha internet e acesso a todo tipo de debate se precisasse de uma interferência como a dela, não é? Ele não tinha interesse em uma visão diferente, mas tinha ódio. E interesse em ódio. E foi o que ela o deu.
- Eu deveria ter ignorado aquele idiota. – Disse, finalmente. Os amigos concordaram em silêncio.
Sabia de todo o procedimento básico racional que deveria ter seguido, sim. Mas o que possibilitaria ela voltar no tempo e impedir o seu sangue de ferver ou a sua raiva de se sobressair em sua razão? Acredito que nada. Nunca. Afinal, era como um instinto de sobrevivência. Quando alguém ameaça a sua existência, insinuando que o mundo seria um lugar melhor caso você simplesmente não tivesse ali, nós lutamos por nossa vida.
- Vocês podem falar alguma coisa, sabe...
Quando ela olhou pra cima, se sentindo algo proibido e intocável, os amigos rapidamente arrastaram cadeiras para perto dela, um de cada lado. Harry a abraçou levemente e Niall pegou em suas mãos, acariciando as mesmas.
- Amiga... Você sabe que ele é o errado da situação, não é?
- Não completamente.
- Bem, ele é. Espero que você veja isso claramente, porque não cometeu nenhum erro. – Um indignado Harry Styles franzia suas sobrancelhas.
- Será que não cometi, Harry? Será que não fiz nada ruim mesmo? Quer dizer... Olhe pra mim.
- Eu estou olhando, o que você quer dizer?
- E se eu for o erro? E se eu realmente estiver atrapalhando tudo por aqui?
- Morg...
- Falo sério. Talvez tudo fique melhor sem mim. O que aconteceria se eu fosse embora?
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SHY REVOLUTION ϟ larry stylinson
FanfictionLouis Tomlinson é um professor de literatura clássica que propôs um seminário onde daria palestras contra a homossexualidade na faculdade onde trabalha. A proposta divide a opinião de todos os alunos, causando movimentos contra e a favor, mas entre...