Sob a vigília do corvo

56 11 2
                                    

São dias escuros, dias sem foco, eu me perdi, e acordei aqui, nesse lugar denso de árvores retorcidas que gritam alto as mágoas da vida.

Monstros me perseguem e arrancam aos poucos minha alma, um corvo de penagem escura e olhos vermelhos cheio de fome e de fúria me rodeia.
Eu me rastejo, quase sem sinais vitais. Vejo luzes distantes, minha esperança acaba aqui, não consigo gritar, não tenho para quem gritar.

O corvo de longe deseja minha carne quase morta, ele está a esperar o meu último suspiro, para assim ter seu tão aguardado jantar de luxo.

Caí, entrei e me afoguei de vez no portal da minha depressão, um frio desgraçado congela meu sorriso irônico no tempo, a vida está acabando, cada vez mais escuro, não me assusto com isso.

Perdi o controle de meus próprios demônios, sou um fantoche em suas mãos, um último gole no meu vinho barato.

Os monstros que dei vida, que alimentei, agora acabaram com a minha vida.

Eu vou a chão.
O corvo pousa sobre mim, já aceitei o meu fim. Seu bico enche de água ao me ver, então ele arranca uma fatia de minha carne e diz: "Não se preocupe, junto com sua vida e com sua carne, levarei todos os seus monstros e demônios."

Eis meu fim, o jantar de um criatura imunda que vai se apossar de tudo de bom e ruim que já morou em mim.


Ouça: Vida vazia - Codinome Winchester

EntrelinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora