Parte 8

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Quase duas horas depois, já bem distante da base de onde haviam fugido, Donna e Mike sobrevoavam o rio Benter, que ficava  em Fosterside, uma pequena cidade a 400km de Gusville.
Enquanto sobrevoavam o rio, Mike avistou de longe algo vindo muito rápido na direção deles. Ele só consegui gritar cuidado, pois um gafanhoto atingiu as hélices do helicóptero, fazendo Donna perder o controle. Eles começaram a cair, Mike disse que eles teriam que pular, pois poderiam morrer se esperassem para cair com o helicóptero.
Mike segurou a mão de sua mãe e então pularam no rio. Eles estavam tão alto, que com velocidade que desceram, os levaram para o fundo do rio, que fez com que Donna batesse sua cabeça em uma rocha; porém Mike não tinha percebido, pelo menos até subir a superfície e ver que sua mãe não tinha subido também. Ele mergulhou de novo, e avistou sua mãe desmaiada; ele desceu e então a segurou em seus braços contra o seu peito e a levou para cima.
Eles não estavam longe das margens do rio, Mike tentando manter a cabeça de sua mãe fora da água, nadou até lá.
Já em terra firme, Mike fez massagem cardíaca em sua mãe, e respiração boca a boca para que ela pudesse cuspir a água que entrara em seu pulmão. Mike fez isso por pelo menos 2 minutos, até que Donna tivesse alguma reação.
Ela acordou, mas estava um pouco atordoada, devido a forte pancada na cabeça.
Um pouco mais à frente havia uma casa de praia, que Mike logo avistou, e foi para lá que ele levou sua mãe, e a colocou em uma cama num dos quartos, para descansar.
Enquanto sua mãe dormia na casa, que Mike checou três vezes as fechaduras quando saiu, para ter certeza que de estavam trancadas, para manter sua mãe segura lá dentro; ele caminhou um pouco pela orla, e subiu em um penhasco que tinha logo à frente. Lá em cima, havia uma árvore, onde Mike se sentou debaixo da sombra que os galhos e as folhas faziam, encostou suas costas no tronco, e começou a chorar como um bebê, quando está com cólica.
Mike estava se sentindo culpado, culpado por ter criado um vírus, culpado por ter sido o responsável pela morte de milhões de pessoas ao redor do mundo, culpado por ter acabado com quase toda a humanidade. Ele se levantou, caminhou até a beira do penhasco, e olhando para baixo ele conseguia ver o rio, de onde ele e sua mãe haviam saído há algum tempo atrás; Mike pensou, que como ele era culpado de tudo isso que estava acontecendo, ele não merecia viver, e ele não conseguiria viver com essa culpa. Ele estava decidido em pular, e acabar com sua vida ali mesmo.
Porém ele logo lembrou de sua mãe, e sabia que não poderia deixá-la sozinha novamente. Ele deu um passo para trás, se virou e voltou correndo para casa de praia onde sua mãe repousava.
Mike destrancou a porta, e foi correndo até o quarto onde ela estava, e ela estava em pé olhando a orla pela janela.
Mike correu pelo quarto, que não era muito grande e abraçou sua mãe. Donna retribuiu o abraço em seu filho.
Chorando, Mike disse para sua mãe que não poderia viver sabendo que ele destruiu a humanidade.
Donna se soltou do abraço e perguntou do que ele estava falando.
- Como assim você destruiu a humanidade?
- Eu criei o vírus mãe! Esse vírus que transforma as pessoas naqueles monstros. Respondeu Mike.
- O que? Quem te disse isso? Questionou Donna.
- Eu disse mãe! Eu me lembrei lá na base, do que aconteceu na noite do meu acidente no laboratório. Naquela noite em um dos meus experimentos eu misturei DNA de gafanhoto, e injetei em mim, como eu fazia com todos os outros. E acabei contando tudo isso para a doutora da base, por isso eles querem minha cabeça agora.
- Filho, você não criou esse vírus! Ele foi encontrando em um gafanhoto pré-histórico, achado congelado em uma grande parede de gelo na Antártida.
Donna continuo contando, que lá mesmo em um dos laboratórios da base do governo, eles descongelaram o inseto, e era uma espécie desconhecida, pois tinha um ferrão, e os gafanhotos que conhecemos não possuem ferrões.
E eles estudaram por algumas semanas esse inseto, semanas antes do seu acidente. E foi nesses estudos, que os cientistas descobriram que esse gafanhoto possuía um vírus gripal, com a estrutura muito parecida com a do vírus  de um gripe comum. Mas o que eles não sabiam é que, ele era extremamente resistente ao calor também, pois ao frio eles já faziam ideia, por ter ficado congelado esses milhões de anos.
Em poucos dias depois dessa descoberta, todos os cientistas daquele laboratório ficaram gripados, e imaginaram que poderia ser por causa do vírus encontrado. Era uma gripe forte, mas eles não sabiam com o que estavam lhe dando, até um dos cientistas sofrer uma mutação que deixou todos chocados, e mortos posteriormente. E foi depois disso que o vírus começou a se espalhar pelo mundo.
- Então, meu filho, você não teve nada a ver com esse vírus! Acrescentou Donna.
- Como você sabe de tudo isso mãe? E porque os militares me acusaram se eles sabiam como o vírus havia surgido? Questionou Mike.
- Eles não sabiam. Pelo menos não todos eles, e eu também não deveria saber. Disse Donna.
- E como a senhora sabe mãe?
- Quando todos foram levados para alguma base de quarentena, o governo ordenou para que fizessem um tipo de lavagem cerebral em todos, para se abster da culpa. Menos nos de cargo alto no quartel. E eu sei de tudo isso, porque eu ouvi uma conversa, do general Malcolm no telefone com o presidente, enquanto eu me escondia para me livrar da tal lavagem. Respondeu Donna.
Mike sem reação, com tantas informações que acabara de receber, não conseguia falar nada. Apenas sentir um grande alívio em seu peito, pois ele não havia destruído a humanidade.
Mas Mike sabia que agora ele precisava fazer algo para ajudá-la. Como cientista, era seu dever descobrir uma cura.
E agora ele também sabia que como tinha desenvolvido a super audição. Não foi o vírus, mas sim o DNA de gafanhoto injetado nele.

Dez anos depois, o mundo continuava o mesmo caos, pois a cura ainda não havia sido encontrada. Mike e Donna continuavam naquela casinha de praia;  e no alto do penhasco onde Mike pensou em tirar sua vida, Donna cultivava na terra fértil. E foi assim, comendo o que eles plantavam, que perceberam que não precisavam de carne para sobreviver, e também não tinha animais ali por perto.
E nesses dez anos, Mike não parou de estudar sobre o vírus, e seus anticorpos para achar uma cura.
Porém todo o seu esforço estava sendo falho, pois o vírus sofria diversas mutações, que fazia com que a possível cura que Mike encontrasse fosse completamente descartada.
Com o passar dos anos, o corpo de Donna foi se deteriorando, devido a doença, fazendo com que Donna só ficasse deitada. E nem cultivar ela conseguia mais.
Mike se dividia entre, cultivar pela manhã, e preparar as refeições dele e de sua mãe, e alimentá-la. A tarde Mike passava em seu laboratório, montado em dos quartos, com aparelhos que ele encontrou num hospital da cidade, em uma das explorações que fez; e com alguns intervalos para conferir se sua mãe estava bem. E a noite ele preparava as refeições novamente e a alimentava, e à ele também. E foi assim por pelo menos um ano, até sua mãe não conseguir mais a resistir a doença e vir a falecer.
Mike já esperava por isso, mas não estava pronto para dizer adeus. Na verdade nós nunca estamos prontos para dizer adeus a quem amamos, ainda mais a nossa mãe que esteve conosco desde o dia que nascemos. Pelo  menos aos privilegiados de ter tido uma mãe, era assim.
Ele enterrou o corpo de sua mãe, nos fundos da casa, onde eles viveram pelos últimos dez anos.

Mais 10 anos se passaram, e o mundo estava começando a dar seus primeiros passos de volta à normalidade, mesmo sem a cura ser encontrada. Mas com muitas restrições. Ninguém poderia sair de suas casas, sem máscaras ou luvas, as roupas de proteções químicas não eram mais necessárias, pois as cidades onde haviam as bases de quarentena, foram inteiramente envolvidas por um campo magnético, para que impedisse a entrada dos gafanhotos.
Mas isso não aconteceu em Fosterside, onde Mike estava vivendo, pois era uma cidade muito pequeno e foi abandonada.
E neste mesmo ano que a humanidade estava voltando a ser reerguer, Mike ainda não havia desistido de encontrar a cura. Mas já estava desgastado e completamente desesperançoso. Ele então decidiu subir ao penhasco, para relaxar um pouco olhando o rio, e a horta de sua mãe.
Lá em cima, na beira do penhasco Mike admirou a vista por pelos 20 minutos, sentido uma imensa paz em seu coração, e um sentimento de dever comprido, mesmo ele sabendo que não havia encontrado a cura, mas ele também sabia que tinha dado o seu melhor, todos esses anos.
Mike foi para debaixo da mesma árvore, que havia tido uma crise de pânico há 20 anos atrás, sentou no chão com as costas no tronco, fechou seus olhos, respirou fundo e soltou o ar, como se uma paz exalasse para fora de seus pulmões, e entrasse novamente quando ele inspirava. E Mike foi repetindo isso, cada vez mais devagar, até não repetir mais.

A Quarentena De MikeOnde histórias criam vida. Descubra agora